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FESTIVAL DO RIO BR 2002
BALANÇO
Mostra confirma atual boa safra de documentários
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Sobe o documentário, desce o
cinema independente americano. A produção oriental perde
fôlego, a latino-americana dá sinais de vida. Filmes políticos e sobre grandes tragédias tomam o
espaço de exercícios de gênero
(comédias, policiais etc.). Basicamente, é essa a situação do cinema no mundo, segundo o panorama oferecido pelo Festival do
Rio BR, que termina hoje.
Depois de um princípio tumultuado, com filas e irritação, o festival se aprumou. Em 14 dias, refletiu tendências mundiais, exibiu os
dois melhores filmes de 2002
("Fale com Ela", de Pedro Almodóvar, e "Tiros em Columbine",
de Michael Moore) e promoveu
sessões antológicas, como as que
contaram com as presenças de
Costa-Gavras ("Amen") e Roman
Polanski ("O Pianista").
As baixas, se comparadas com
outros anos, foram poucas, mas
fizeram falta. Os anunciados "O
Filho", de Luc e Jean-Pierre Dardenne, "Intervenção Divina", de
Elia Suleiman, e "Dez", de Abbas
Kiarostami, três destaques de
Cannes, não chegaram.
Os documentários roubaram a
cena. Dois deles em especial, com
suas reflexões agudas sobre violência. "Tiros em Columbine"
mostrou por que foi o primeiro
do gênero aceito na competição
de Cannes em quase 50 anos: é o
filme americano mais importante
do ano e a primeira visão contundente -pós-11 de setembro-
sobre a cultura bélica dos EUA.
Na Première Brasil, "Ônibus
174", de José Padilha, se tornou
um inesperado filme-evento.
Houve um momento em que só se
falava nisso. Padilha faz uma contundente investigação em torno
do sequestro que, em junho de
2000, mobilizou o Rio e o país. Seu
maior mérito está em contar uma
história que a TV não contou:
quem era o sequestrador. Para
além dos fatos, o documentário
revela muito da "vontade de extermínio" que assola o Brasil.
Outros documentários confirmaram a boa saúde do gênero:
um Eduardo Coutinho em seu
ápice ("Edifício Master"), o cômico retrato das origens de Andy
Warhol ("Warhol Total") e o sensacional "Dogtown e Z-Boys", um
trabalho de arqueologia urbana
sobre a trajetória do grupo de
amigos que revolucionou o skate
nos EUA.
Enquanto o cinema independente americano apresentou dois
desastres completos ("Full Frontal", de Steven Soderbergh, e
"Meu Primeiro Homem", de
Christine Lahti, inacreditável filme de abertura de Sundance),
bons ventos sopraram da América Latina. Principalmente da Argentina, que trouxe "Bonaerense", de Pablo Trapero, "Um Urso
Vermelho", de Adrian Caetano, e
"O Filho da Noiva", de Juan José
Campanella. Ainda é cedo, porém, para falar de uma "buena
onda", principalmente agora que
a crise econômica pode ter adiado
o futuro dessa geração.
Por fim, uma revelação do Foco
Alemanha, que apresentou dois
ótimos filmes de Christian Petzold. Assistir a "Homem Morto"
(2001) e "O Estado em que me Encontro" (2000) deu ao festival
aquele sabor especial da descoberta, a sensação de que havia, ali,
um talento emergente, ainda com
muito a dizer. A ser confirmado,
ou não, nos próximos festivais.
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