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"MARIA - A MÃE DO FILHO DE DEUS"
Produto sem disfarces não atinge emoção pretendida
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
É um caso único no cinema
brasileiro recente: menos de
um mês depois de lançar seu primeiro filme ("Dom"), Moacyr
Góes estréia seu segundo longa-metragem, "Maria - A Mãe do Filho de Deus". Projetos radicalmente diferentes em proposta e
resultado. E, curiosamente, "Maria" é um produto muito mais
bem-sucedido que "Dom".
"Dom" não tinha perfil. Não
chegava a ser autoral, tampouco
era comercial. Moacyr Góes queria homenagear Machado de Assis e seu "Dom Casmurro", mas
traía o livro na essência, negando
sua ambiguidade. O resultado foi
a rejeição de público e crítica.
Mas, no caso de "Maria - A Mãe
do Filho de Deus", não restam dúvidas. É um filme sem disfarces,
não tenta enganar ninguém. É um
filme de produtor, marcando a
afirmação de Diler Trindade (que
tem em sua cartela os filmes de
Xuxa e Renato Aragão) e de seu
projeto pela fixação de um cinema de grande público no Brasil.
O primeiro objetivo evidente de
"Maria" é chegar ao espectador (a
própria escolha da história de
Nossa Senhora é um dado essencial nesse sentido). O segundo é
servir de veículo para o padre
Marcelo Rossi, o religioso popstar, um fenômeno tão profundamente brasileiro. O terceiro é, para além do comércio e do marketing, a pregação religiosa: "Maria"
quer conquistar fiéis para a Igreja
Católica. Tudo às claras.
Para cumprir essa agenda,
construiu-se um roteiro muito
simples, como um presépio, uma
peça popular. Na periferia, Maria
(Giovanna Antonelli) deixa sua filha com o padre Marcelo, que
aproveita o tempo para contar para a menina a história de Nossa
Senhora. A isso alterna-se a encenação dessa história, em que Maria é vivida pela própria Giovanna, o anjo Gabriel pelo padre e Jesus por Luigi Baricelli. Na trilha,
as canções que tornaram o padre
Marcelo famoso.
As cenas surgem ora de maneira mais convincente, ora de maneira risível, como a tosca cena
em que Jesus transforma água em
vinho. São belas as sequências do
deserto, filmadas no Rio Grande
do Norte. O filme não se preocupa
com verossimilhanças, criando
uma mistura de Brasil e de um espaço bíblico como ele se firmou
no imaginário popular.
"Maria" só não é um produto
100% bem-sucedido porque não
atinge a emoção que pretendia.
Apesar da eficiente música incidental, o pouco entrosamento entre os protagonistas compromete
o filme. Mais interessante é o elenco secundário, com nomes como
Ítalo Rossi, Tonico Pereira, José
Dumont e José Wilker, e ótimos
jovens, como Malu Galli, Paulo
Vespúcio e Bel Garcia.
Maria - A Mãe do Filho de Deus
Direção: Moacyr Góes
Produção: Brasil, 2003
Com: Giovanna Antonelli, Luigi Baricelli,
padre Marcelo Rossi, Tonico Pereira, José
Dumont
Quando: a partir de hoje, nos cines ABC
Plaza Shopping, Anália Franco e circuito
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