São Paulo, sábado, 10 de outubro de 1998

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Morre José Paulo Paes, poeta, tradutor, literato

Éder Chiodetto - 24.nov.97/Folha Imagem
O poeta, tradutor e ensaísta José Paulo Paes, no escritório de sua casa, no bairro de Santo Amaro, em SP



Edema pulmonar mata aos 72 escritor, que sofria de doença cardíaca crônica; editora publica em novembro livro infantil inédito traduzido por ele


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

O poeta, tradutor e ensaísta José Paulo Paes morreu às 9h05 de ontem, aos 72 anos, vítima de um edema agudo do pulmão, provocado por uma doença cardíaca.
Autor de "A Poesia Está Morta Mas Juro Que Não Fui Eu" (1988), entre outros, tradutor de pelo menos oito idiomas e membro do Instituto de Estudos Avançados da USP, Paes sofria de uma doença crônica que já havia provocado a amputação de sua perna direita.
Por volta das 7h de ontem, ainda consciente, foi levado por sua mulher, Dora Costa, para o pronto-socorro do hospital Beneficência Portuguesa, apresentando dispnéia (dificuldade de respiração).
Às 8h15, foi transferido para a UTI, em estado grave. Os médicos tentaram reanimá-lo por cerca de 30 minutos, sem sucesso.
Segundo o médico Haggeas Fernandes, que chefiava o plantão da UTI, a doença cardíaca provocou o entupimento de três artérias coronárias e a dilatação do coração, levando à insuficiência cardíaca e ao aumento de líquido no pulmão causador do edema agudo.
O corpo foi velado no hospital. Às 9h de hoje, seria levado para o crematório da Vila Alpina.
Um dos principais poetas brasileiros ao lado de João Cabral de Mello Neto e Ferreira Gullar, Paulo Paes fez parte da chamada "Geração de 45" e se destacou ainda como prolífico autor de teoria, ensaios e como tradutor.
Nascido em Taquaritinga, interior de São Paulo, em 1926, formou-se em química industrial em Curitiba e trabalhou por anos no laboratório farmacêutico Squibb.
Publicou seu primeiro livro, "O Aluno", em 1947. O segundo, "Cúmplices", de 1951, é dedicado à mulher, Dora. Entre suas obras destacam-se "Novas Cartas Chilenas" (1954), "Anatomias" (1967), "Gregos e Baianos" (1985), "Transleituras" e "Poemas da Antologia Grega ou Palatina" (de 1995).
Em 1961, foi trabalhar na editora Cultrix, onde publicou títulos nas áreas de linguística, teoria literária, comunicação e artes visuais.
Foi autodidata no aprendizado de línguas -inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, dinamarquês e grego. Traduziu, entre outras, as obras do grego Konstantinos Kaváfis, incluindo "Reflexões Sobre Poesia e Ética", que acaba de ser lançado pela editora Ática.
Nos anos 60, incorporou à sua poesia temas sociais ("Poesias Reunidas", 1961) e flertou com o concretismo ("Anatomias", 1967).
Em 1997, ganhou o prêmio Jabuti pelo livro infantil "Um Passarinho Me Contou" e, em 1998, pela tradução de "Ascese - Os Salvadores de Deus", de Nikos Kazantzákis.
"Se eu dissesse que escrevo por fatalidade, estaria sendo presunçoso. Aconselha a prudência a dizer que escrevo por gosto. Um gosto que o tempo, o benfazejo tempo, houve por bem confirmar em vocação, quem sabe até legítima", afirmou em depoimento à série "O Escritor Por Ele Mesmo", do Instituto Moreira Salles, em 97.
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Colaborou o Banco de Dados ˛



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