São Paulo, sábado, 10 de outubro de 1998

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LITERATURA
Saramago vira "Samarado' em Frankfurt

CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial a Frankfurt


"Quantos livros escreveu Samarado?", "Samarado mora em Porto Rico?". Foi com perguntas como essas que Zeferino Coelho, o editor do escritor português José Saramago foi recepcionado ontem pela manhã, quando chegou ao seu estande na Feira de Frankfurt.
Dois colegas coreanos queriam saber quem era o escritor que vencera o Prêmio Nobel de 1998. Enquanto Zeferino tentava explicar o que significava "Memorial do Convento" para um, o outro coreano fotografava a parede do estande, onde está afixada uma fotografia do autor português, em frente ao rio Tejo, em Lisboa.
Saíram os coreanos, chegaram duas bibliotecárias suecas. "Compraremos algo do Saranago para nossa biblioteca assim que chegarmos a Orebro", disse Guduin Goransson, se referindo à cidade sueca em que mora.
Samarado, Siromago, Saranago. Toda a Feira de Frankfurt, que tem 180 mil metros quadrados de expositores, se dirigiu ontem para os nove metros quadrados da Caminho Editorial. "Todos que não conheciam Saramago resolveram fazê-lo hoje", disse Zeferino.
Foi ele mesmo que, em 1979, resolveu transformar em livro a "resma de papéis datilografados entitulados "A Noite'", que recebeu de um "desconhecido José".
Depois disso, foram 25 livros, traduzido para 25 países e quase 25 prêmios literários. "Se você quiser fabricar automóveis, precisa ter muito dinheiro. Para ter uma editora, só é necessário uma esferográfica, papel e um autor genial", explicou, enquanto corria para atender um telefonema de uma televisão do Egito.
Telefonemas não faltaram para a agente literária do escritor de "Memorial do Convento", a alemã Ray-Güde Mertin. Quando chegou em casa ontem, ela encontrou 49 recados em sua secretária eletrônica. Antes ir para casa, Mertin, tradutora de Saramago para o alemão, levou o escritor em "quase uma dezenas de festas". Em uma delas, do editor espanhol do escritor, Saramago contou "pela primeira vez", como disse, o que sentiu quando informado do Nobel.
Ele estava em uma sala de espera do aeroporto de Frankfurt, pronto para entrar em um avião, quando uma funcionária de uma companhia aérea veio correndo em sua direção e disse: "O sr. ganhou".
Logo em seguida, veio um telefonema de Zeferino, pedindo que Saramago voltasse à Feira. "Foi andando em um corredor do aeroporto, sozinho, carregando em uma mão minha valise, e na outra, um casaco, que pensei: "Como às vezes as coisas grandes são pequenas'. Continuei andando", contou Saramago.



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