São Paulo, Quarta-feira, 10 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCO-CELEBRAÇÃO
Novo disco, "500 Sambas", comemora diferentes efemérides
Moraes celebra Descobrimento, trio elétrico e até a axé music

PAULO VIEIRA
especial para a Folha


Depois da fase acústica, a MPB celebra efemérides. Moraes Moreira juntou duas, de grandezas distintas: 500 anos de Descobrimento, 50 anos do trio elétrico. Soa bizarro, mas ao menos não é CD duplo com regravações ou com o último show. "500 Sambas" tem 13 de suas 14 faixas inéditas e celebra também uma detente com aqueles a quem o ex (atual?) Novo Baiano sempre criticou: os músicos de axé da Bahia.
"Sou um repórter musical neste disco. Fim do milênio é momento de avaliação. Quis contar a história da música popular baiana, sem entrar em questões estéticas. Aí vi que a axé music trouxe profissionalização, superestúdios e trabalho aos músicos baianos."
Eles -alguns, ao menos- estão lá, citados em "Festa de Arrombahia". Asa de Águia, Banda Mel, Netinho, Cheiro de Amor e Timbalada ganham uma estrofe inteira, Neguinho do Samba é reverenciado pela eficiência, "Ivete" e É o Tchan têm citações positivas. Mais do que "balanço", "500 Sambas" tem sua gênese ligada a um fato novo da história de Moraes. Em 2000 ele fará os circuitos nobres do Carnaval da Bahia, saindo quatro noites por seu próprio trio elétrico, o Chame Gente. "Dificilmente esse disco sairia se eu não tivesse bons circuitos no próximo Carnaval. E fiquei sabendo disso já em março, quando normalmente me convidam sempre em cima da hora."
Estar no trio elétrico deverá ser a melhor forma de Moraes mostrar suas músicas, cuja execução em rádio não é prognosticada. Por isso, escreveu coisas como "Escola Dodô e Osmar", "Atrás do Meu Trio" e "Jubileu de Ouro", dedicadas ao trio.
Apesar de o discurso sobre -a expressão é dele- o fenômeno da música baiana, Moraes não começa seu CD em Dodô, mas em Carlos Cachaça. "O disco tem como referência o samba, a forma musical mais representativa do Brasil, a que seria eleita, creio, se precisássemos escolher um único gênero."
Positivo no disco com os baianos da "nova geração", Moraes, porém, evita se misturar. "Só subiria em trios onde estão músicos com quem me afino, como Gerônimo, Brown ou Luiz Caldas. Não estaria com o Cheiro de Amor." Moraes perde a modéstia quando diz que "é melhor de trio elétrico" do que aqueles a quem menciona. "Posso ficar cinco, seis horas em cima do trio só cantando meu repertório. Sou um pioneiro, minha influência sobre a axé é clara."
"500 Sambas", que Moraes define como "fotografia jornalística", não é eloquente com os Novos Baianos -tiveram menos espaço que o próprio Moraes na letra de "Festa de Arrombahia". Descuido? "Fomos os primeiros a ousar em termos filosóficos, comportamentais. A idéia de morar em comunidade. "Acabou Chorare" era um disco que assustava as pessoas."


Texto Anterior: Cantora chega sem soltar as rédeas
Próximo Texto: Cantor se reconcilia com folia baiana
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.