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ANÁLISE
Autor sempre buscou 'apenas' histórias engraçadas
ROGÉRIO DE CAMPOS
especial para a Folha
Robert Crumb é o mais importante quadrinhista underground
dos EUA. Mas o texano Gilbert
Shelton criou a mais popular série do gênero: "The Fabulous
Furry Freak Brothers".
Shelton não pretende ser relevante artisticamente como Art
Spielgelman (criador do famoso
"Maus"). Não almeja, como
Spain Rodrigues (criador de
"Trashman"), destruir o sistema. Nem mesmo quer, como
Clay Wilson, chocar as sensibilidades aburguesadas.
Pretende apenas fazer histórias
engraçadas. Se o personagem
aparece fumando maconha em
todas as páginas de uma de suas
HQs isso não é um libelo contra a
repressão ao consumo de drogas. É um jeito que Shelton inventou para contar sua piada.
Ao contrário de praticamente
todos os desenhistas de sua turma (esses citados acima, por
exemplo), Shelton não é um discípulo do humor agressivo que
Harvey Kurtzman colocou na revista "Mad" na década de 50.
Shelton é um herdeiro do humor
tradicional, de séries como "Pafúncio e Marocas" (em que o velho Pafúncio tentava fumar seus
charutos escondido) ou das
aventuras do caipira Snuffy
Smith e seu alambique ilegal.
Mesmo assim, Shelton fez todo
o roteiro do artista underground
dos anos 60. Estreou na imprensa universitária, trabalhou em
revistas independentes, morou
em San Francisco no auge do
"power flower", foi amigo de Janis Joplin, montou uma editora,
publicou na "High Times" e
tem carteira de sócio-fundador
da contracultura nos EUA.
Além dos Freak Brothers (de
1967), Shelton criou a série
"Wonder Wart Hog" (1961). O
gato de Freddy, um dos Freak
Brothers, também ganhou sua
própria série, que descreve suas
aventuras com as baratas e seus
percalços para sobreviver em
uma casa em que a geladeira está
sempre vazia e as maricas cheias.
Com sua visão bem humorada
do universo "freak", Shelton
chegou a revistas como a "Esquire" e "Playboy". Possivelmente foi mais publicado fora
dos EUA que o próprio Crumb.
Mas como humor e sucesso são
conceitos negativos para a novíssima geração dos quadrinhos
norte-americanos, a influência
de Shelton hoje é mínima.
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