|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HQ
Quadrinhista texano, criador do irreverente trio de irmãos, faz palestra hoje, de quatro horas, em Porto Alegre
Gilbert Shelton traz Freak Brothers ao país
PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
free-lance para a Folha
Em um ano em que já passaram
pelo Brasil Will Eisner, Jim Davis e
Jerry Robinson, chega hoje em
Porto Alegre mais um grande nome das histórias em quadrinhos:
Gilbert Shelton, o criador dos
Freak Brothers.
O texano vem ao Brasil para participar da 43ª Feira do Livro de
Porto Alegre. Hoje, às 14h, ele
apresenta uma palestra de quatro
horas na sede do evento (na pça. da
Alfândega, centro de Porto Alegre,
com entrada franca).
Para a palestra, Shelton está trazendo cerca de 200 slides de obras
suas e de Robert Crumb -este,
como Shelton, um dos maiores
ícones do quadrinho underground
norte-americano. Crumb também
participaria da Feira, mas seguiu
para Califórnia para assistir ao casamento de seu filho.
Também estarão na mesa, que
será mediada pelo jornalista
Eduardo Bueno, três quadrinhistas brasileiros: Angeli e Adão Iturrusgarai, colaboradores da Folha,
e Carlos Eduardo Miranda.
Muita maconha
Shelton chega ao Brasil quando
seus personagens mais famosos
completam três décadas de vida
-os Freak Brothers apareceram
pela primeira vez em 1967 na revista alternativa "Austin Rag".
Hoje, os três irmãos cabeludos
permanecem do mesmo jeito que
eram quando foram criados: curtindo a vida intensamente, em
contato constante com altas doses
de bebida, comida, maconha e
drogas em geral.
Shelton e Crumb participaram
de uma geração de quadrinhistas
que não se atrelava ao mercado.
Suas histórias, e, especialmente,
seus personagens, não seguiam as
convenções predeterminadas que
deveriam ser obedecidas pelos
"bons cidadãos".
Trabalhar duro para ganhar
bem, evitar as drogas ou ser fiel a
um único amor não são características dos personagens dessa era.
O Wonder Wart Hog, o Suíno de
Aço, é um exemplo dessas HQs
underground. Criado por Shelton
em 1961, ele era um porco machista e reacionário, possuidor de um
pênis "desavantajado" e de um
apetite sexual neurótico.
O Gato Fritz, de Crumb, também
não era um modelo do "american
way of life": diferentemente dos
gatos que o antecederam nas HQs,
como o sorridente Félix ou o arteiro Krazy Kat, Fritz era direcionado
a um público adulto -e passava
algumas de suas histórias imerso
em orgias dentro de sua banheira.
Os Freak Brothers -Fat Freddy,
Phineas Freak e Freewhelin Franklin- surgiram nesse universo,
que continha, ainda, influências
da contracultura americana. Era a
época de William Burroughs, de
Timothy Leary, do ácido lisérgico,
de paz e amor.
É esse período de florescimento
dos quadrinhos underground norte-americanos, e onde os quadrinhos de Crumb e companhia se inserem nele, que estarão sendo destrinchados hoje na palestra de
Shelton.
Em português
Apesar da obra de Shelton ser extensa, não são muitas as histórias
dos Freak Brothers encontráveis
em português.
No Brasil, foram publicados apenas três volumes com as aventuras
do trio excêntrico, todos pela gaúcha L&PM.
A mesma editora publicou ainda
"As Aventuras do Gato de Fat
Freddy", cujas histórias giram em
torno do cínico felino criado por
Shelton em homenagem ao Krazy
Kat, histórico personagem de
George Herriman publicado no
início do século.
Aproveitando a vinda de Shelton, a editora se prepara para relançar os quatro álbuns do autor e
desenhista texano.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|