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CRÍTICA
Obra organiza história do movimento
da Reportagem Local
Esta história andava espalhada
por um sem-número de fontes e
obras, quase sempre de forma assistemática e dispersa. Com "Tropicália - A História de uma Revolução Musical", o movimento que
há 30 anos alçou Caetano Veloso e
Gilberto Gil ao Olimpo da MPB ganha sua primeira retrospectiva intensiva.
O próprio protagonista daquele
momento, Caetano Veloso, esboçou, há poucas semanas, seu diagnóstico de dentro para fora da revolução, no livro de ensaio/memórias "Verdade Tropical".
O livro-pesquisa de Carlos Calado, até por não contemplar uma
visão única -ou de protagonista-, é mais abrangente que o de
Caetano no setor "reconstituição
histórica". Para levar a cabo sua
cruzada, Calado se ampara em entrevistas com todos os tropicalistas
vivos, farta pesquisa de informação e material iconográfico em
grande parte inédito.
É o que potencia o que já há de
valioso nesta "biografia da tropicália". Alinham-se pelas páginas
detalhes preciosos como os programas originais do show "Nós,
por Exemplo" (que reuniu, em 64,
ainda na Bahia, Caetano, Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé) e
a história da morte do ídolo de velha guarda Vicente Celestino horas
antes do que seria sua estréia num
programa tropicalista de TV, entre
inúmeros outros.
Capítulo à parte é a iconografia
reunida. A mítica tropicalista tem
sido feita de poucas -ainda que
estonteantes- imagens.
O volume amplifica esse imaginário com um acervo tão abundante quanto surpreendente, que
inclui raríssimas capas dos primeiros compactos dos baianos e flagrantes inusitados como o da não
tropicalista Bethânia de minissaia
iê-iê-iê e guitarra em punho.
Ainda que seja assim, a obra de
Calado recende, em muitas de suas
páginas, a reportagem detalhista
feita a partir das fontes que ajudaram a construir o tropicalismo.
Talvez respeitando a oficialidade
da história, Calado dá ouvidos a
seus agentes em proporção direta à
importância que cada qual assumiu. Assim, o grau de importância
das participações de Torquato Neto, Nara Leão e outros coadjuvantes não é polemizado, e Tom Zé,
Jards Macalé e outros malditos parecem ter pouca voz na biografia.
Não se contemplam também retoques que antitropicalistas como
Edu Lobo, Chico Buarque, Geraldo Vandré e outros tantos pudessem fazer à tropicália.
O que se tem, então, é uma história radiante, que faz o leitor se enlevar pela cultura pop brasileira
naqueles anos de 67 e 68 e lamentar a não-repetição posterior de
instante tão explosivo em criatividade, inteligência, radicalismo e
riqueza cultural no Brasil.
Sob esse peso, "A História de
uma Revolução Musical" explica
-mas também ajuda a manter-
o mito da insuperabilidade do tropicalismo, um dos ápices incontestáveis da cultura popular brasileira. Falta ouvir os "excluídos".
(PAS)
Livro: Tropicália - A História de uma
Revolução Musical
Autor: Carlos Calado
Lançamento: Editora 34
Quando: lançamento amanhã, às 18h30,
na livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, loja
151, tel. 011/285-4033)
Quanto: R$ 24 (336 págs.)
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