São Paulo, quarta, 10 de dezembro de 1997.




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CRÍTICA
Obra organiza história do movimento

da Reportagem Local

Esta história andava espalhada por um sem-número de fontes e obras, quase sempre de forma assistemática e dispersa. Com "Tropicália - A História de uma Revolução Musical", o movimento que há 30 anos alçou Caetano Veloso e Gilberto Gil ao Olimpo da MPB ganha sua primeira retrospectiva intensiva.
O próprio protagonista daquele momento, Caetano Veloso, esboçou, há poucas semanas, seu diagnóstico de dentro para fora da revolução, no livro de ensaio/memórias "Verdade Tropical".
O livro-pesquisa de Carlos Calado, até por não contemplar uma visão única -ou de protagonista-, é mais abrangente que o de Caetano no setor "reconstituição histórica". Para levar a cabo sua cruzada, Calado se ampara em entrevistas com todos os tropicalistas vivos, farta pesquisa de informação e material iconográfico em grande parte inédito.
É o que potencia o que já há de valioso nesta "biografia da tropicália". Alinham-se pelas páginas detalhes preciosos como os programas originais do show "Nós, por Exemplo" (que reuniu, em 64, ainda na Bahia, Caetano, Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé) e a história da morte do ídolo de velha guarda Vicente Celestino horas antes do que seria sua estréia num programa tropicalista de TV, entre inúmeros outros.
Capítulo à parte é a iconografia reunida. A mítica tropicalista tem sido feita de poucas -ainda que estonteantes- imagens.
O volume amplifica esse imaginário com um acervo tão abundante quanto surpreendente, que inclui raríssimas capas dos primeiros compactos dos baianos e flagrantes inusitados como o da não tropicalista Bethânia de minissaia iê-iê-iê e guitarra em punho.
Ainda que seja assim, a obra de Calado recende, em muitas de suas páginas, a reportagem detalhista feita a partir das fontes que ajudaram a construir o tropicalismo.
Talvez respeitando a oficialidade da história, Calado dá ouvidos a seus agentes em proporção direta à importância que cada qual assumiu. Assim, o grau de importância das participações de Torquato Neto, Nara Leão e outros coadjuvantes não é polemizado, e Tom Zé, Jards Macalé e outros malditos parecem ter pouca voz na biografia.
Não se contemplam também retoques que antitropicalistas como Edu Lobo, Chico Buarque, Geraldo Vandré e outros tantos pudessem fazer à tropicália.
O que se tem, então, é uma história radiante, que faz o leitor se enlevar pela cultura pop brasileira naqueles anos de 67 e 68 e lamentar a não-repetição posterior de instante tão explosivo em criatividade, inteligência, radicalismo e riqueza cultural no Brasil.
Sob esse peso, "A História de uma Revolução Musical" explica -mas também ajuda a manter- o mito da insuperabilidade do tropicalismo, um dos ápices incontestáveis da cultura popular brasileira. Falta ouvir os "excluídos". (PAS)

Livro: Tropicália - A História de uma Revolução Musical Autor: Carlos Calado Lançamento: Editora 34 Quando: lançamento amanhã, às 18h30, na livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, loja 151, tel. 011/285-4033) Quanto: R$ 24 (336 págs.)


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