São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mercado internacional de ícones mortos cresce; no Brasil, Carmen Miranda é a primeira aposta de agência especializada

Ganhando a vida após a morte

Divulgação
Carmen Miranda (1909-55) é a nova contratada da CMG Worldwide


MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais uma chance para Carmen Miranda na indústria mundial de entretenimento, agora assumidamente americanizada e participando de uma atividade econômica em aparente expansão: a de ícones mortos.
A CMG Worldwide -maior agência de representação e licenciamento de celebridades do mundo- começa a representar a comercialização dos direitos de imagem (e tudo mais) de Carmen para o exterior e, ainda, a ampliar suas atividades no Brasil em razão de "existir um grande potencial de mercado".
Carmen passa a integrar uma lista de clientes que inclui Marilyn Monroe, James Dean, Lana Turner, Bette Davis, Ingrid Bergman, Tyrone Power, Montgomery Clift, Sir Laurence Olivier, Rock Hudson, David Niven, Jean Harlow e Ginger Rogers. Isso apenas entre os atores (a noção de "artistas" é ampla) que têm em comum ao menos uma particularidade: apesar de desaparecidos, continuam lucrativos.
Nos Estados Unidos, a atividade é chamada de "negociação de celebridades mortas". Mas, como disse em entrevista à Folha Roger Richman, por e-mail, de Los Angeles, quem trabalha no ramo prefere uma expressão mais sutil, e qualifica seus clientes de outra maneira. Eles são "lendas históricas" ou "lendas de Hollywood". No caso de Carmen Miranda, morta em 1955, aos 46 anos, as duas definições servem.
Richman é presidente da Roger Richman Agency. Sua agência foi criada há 23 anos e, diz, pode ser definida como uma pioneira. Trabalha, entre outros, com Albert Einstein e Sigmund Freud.
Segundo ele, muitas vezes o desaparecimento de um ícone pode provocar um crescimento de consumo dos artigos ligados ao nome desta mesma estrela. Em alguns casos, esse processo não sofre interferência do tempo, ao menos não negativamente. Com os anos, os gráficos de vendas podem apontar ainda mais para cima.
"Certas celebridades, como Marilyn Monroe e Elvis Presley, têm feito mais dinheiro depois de mortas do que quando estavam vivas", afirma Richman, que trabalha apenas com figuras "clássicas" -a publicidade é um dos setores que mais utiliza seus serviços. Já a CMG agencia também personalidades (e instituições) em plena atividade. E, esse o notável diferencial, vivas.
A legislação que protege a propriedade intelectual em cada país rege os direitos sobre as "lendas históricas"; há leis sobre o uso do nome, imagem, voz ou assinatura de uma personalidade. Em outros casos, as leis regulam apenas o "copyright". Para cada nação, um caso. Não existe ainda regulamentação mundial sobre o tema.
"Nossa intenção é expandir as atividades, porque acreditamos que há, no Brasil, vários ícones internacionalmente atraentes", disse à Folha Norberto Nesi, diretor de operações para a América Latina da CMG, do escritório do grupo no Rio de Janeiro.
"Trata-se de uma indústria muito jovem", diz ele. "Poucas companhias têm uma "expertise" nessa área. Nos EUA, o mercado é mais maduro e está em crescimento. Nos mercados emergentes, como Brasil ou Argentina, a indústria é insignificante se comparada ao que poderia ser. Essa é a razão pela qual estamos atuando há um ano e meio no Rio."
Norberto Nesi explica que os herdeiros de Carmen Miranda exploram "a marca" por meio de uma empresa brasileira -a Copyrights Consultoria Ltda-, que continuará com a mesma função em território nacional. Mas, para o mercado externo (no qual há maiores possibilidades de ganho), tudo passa a ser coordenado pela CMG Worldwide. "Antes, os contratos com o exterior eram feitos a cada caso", diz Silvia Gandelman, do departamento jurídico da Copyrights. "Quando um interessado surgia, estudávamos a proposta. Agora, a CMG negocia esse tipo de contato".
Depois de Carmen Miranda, a CMG já está com "outras possibilidades". "Não podemos divulgar nomes ou valores", diz Nasi. "Mas estamos nos preparando para outras ações. Pessoas famosas não nos interessam. Queremos ícones, e no Brasil há muitos deles."


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Exploração de "lendas" é maior na música
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.