INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Alguém me conta que uma sobrevivente de Auschwitz, cobaia de Mengele, notou que ele tinha belos olhos. Não é uma estranha lembrança para ter de um campo de concentração e de um torcionário como Mengele? Mas, por algum motivo, talvez até pelo paradoxo, a beleza do sujeito chamou-lhe a atenção.
Por que no cinema seria diferente? Será por mero acaso que a decadência do cinema italiano começa quando ele aposenta suas belas Cardinales, Lorens, Spaaks, Antonellis?
Isso para dizer que, se existe um motivo bom para ver "Chicago" (HBO Plus, 23h), atende pelo nome de Catherine Zeta-Jones.
Agora, o melhor motivo para ver "Nico - Acima da Lei" (Cinemax Prime, 19h) é mesmo Steven Seagal. Mas é um alívio saber que Sharon Stone está por lá.

MÚSICA

Multishow comemora dia de Cássia Eller

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma mulher tímida e até retraída na vida íntima. Ao mesmo tempo, uma grande artista, de muita coragem. Cássia Eller (1962-2001) é apresentada assim por alguns de seus amigos e parceiros de trabalho hoje, dia de seu aniversário, no "Especial Dia Cássia Eller", no Multishow.
Participam as cantoras Sandra de Sá e Zélia Duncan, o compositor Nando Reis, o produtor musical Ezequiel Neves, a percussionista Lan Lan, o violonista e guitarrista Walter Villaça e Maria Eugênia, ex-companheira de Eller.
Sem um apresentador formal, todos falam de Eller, começando pela primeira impressão. "Quando eu a ouvi pela primeira vez, meus tímpanos explodiram. Foi uma loucura, a primeira vez que fui estuprado", disse Neves, produtor do primeiro álbum de Eller. Duncan diz que a experiência de vê-la em cena é um "divisor de águas". "Era poderosa mesmo sem saber", completa.
A partir daí, a coragem e a timidez são dois temas que se confundem até o fim do especial, sempre acompanhados de alguma memória sobre a excelência de Eller.
Sua imagem também é presente. Clipes curtos mostram cenas de apresentações marcantes da carreira da cantora, como as performances de "Come Together" e "Smells like Teen Spirit", no Rock in Rio 3, em 2001, e sua participação no Panorama Percussivo Mundial, evento organizado por Gilberto Gil em 2000 em Salvador. Na ocasião, tímida, responde a Gil que rock "é muito barulho". Tímida? Excelente.
Os maiores sucessos de Eller aparecem no programa pela voz dela mesma ou pelos convidados, que, entre uma lembrança emocionada e outra, preferem cantar a chorar. Emocionado também pode ficar o telespectador, graças a um golpe baixíssimo da edição -o de finalizar o especial com o clipe "No Recreio", feito com imagens caseiras e felizes de Eller, de seu filho, Chicão, de Eugênia e de amigos, alguns presentes na festa de seu dia na TV.