São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO

Redemoinho, iniciativa do Galpão, reúne 52 entidades de 12 Estados durante três dias para criação de rede nacional

Grupos debatem políticas públicas em BH

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

O teatro brasileiro quer pensar e agir em rede. Pelo menos é o desejo manifestado por alguns dos mais importantes grupos, associações e entidades do país durante o 1º Redemoinho - Encontro Brasileiro de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral, encerrado anteontem em Belo Horizonte, no Galpão Cine Horto, espaço do grupo Galpão.
Durante três dias, nos turnos da manhã (exceto na abertura), tarde e noite, participaram 52 grupos ou entidades afins, 34 deles de fora da capital mineira, equivalente a 12 Estados de quatro regiões do país (exceto Norte).
Aconteceram palestras com pesquisadores de teatro, antropologia e história, além da participação do presidente da Funarte, Antônio Grassi, e do secretário municipal da Cultura de São Paulo, Celso Frateschi; mesas-redondas com iniciativas independentes, públicas e coletivas; e grupos de trabalho que trataram de formação da rede, parcerias a partir das estruturas já existentes e atuação política junto ao poder público. Deste, saiu o embrião do documento tirado ao final do Redemoinho, na quarta (leia abaixo).
Simbolicamente, o encontro reata com três reuniões nacionais de coletivos teatrais ocorridas nos anos 90, duas em Ribeirão Preto (organizada pelo grupo Fora do Sério) e outra em São Paulo (pela Cooperativa Paulista de Teatro).
À época, estavam lá o Imbuaça, de Aracaju (SE), hoje com 27 anos de estrada; a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre (RS), 26; o grupo Tá na Rua (RJ), 24, e o próprio Galpão, 22, todos presentes em Minas.
Os tempos são outros, mas a pauta permanece. Como a percepção de que é preciso sair urgente do isolamento de seu Estado, às vezes de sua cidade, para "encontrar o outro, colaborar, circular, reinventar o teatro com a comunidade", segundo o ator e diretor Chico Pelúcio (Galpão).
Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa... O Redemoinho não quer dissociar estética e ética. Sua principal referência é o movimento Arte contra a Barbárie, de São Paulo, histórica iniciativa da classe teatral da cidade, no final da década passada, pela criação de políticas públicas, o que resultou no Programa Municipal de Fomento ao Teatro, a Lei do Fomento, aprovada em 2001 (cerca de R$ 6 milhões do Orçamento da prefeitura destinados a grupos que desenvolvam pesquisas continuadas).
A professora Regina Helena Alves da Silva (UFMG) falou sobre "a sociedade em rede" e disse que "é preciso pensar a cultura como conhecimento compartilhado". Sua colega, Iná Camargo Costa (USP), dedicada à história do teatro de esquerda no Brasil, Europa e EUA, comentou a importância da atuação dos grupos e estabeleceu paralelo com o Teatro Livre , o grupo comandado por André Antoine (1859-1943), que catalisou a cena na Paris do final do século 19, influenciado pelo realismo -oposição às convenções do teatro de seu tempo.
O diretor Amir Haddad (Tá na Rua) conclamou à utopia que encontra "terreno fértil no teatro, uma mina". O ator Sérgio Siviero (Vertigem) observou a importância da memória dos espaços habitados pelo teatro (seu grupo ocupa a Casa nº 1 no centro histórico da cidade de São Paulo). Por um diálogo entre o patrimônio histórico e o "patrimônio vivo", como se refere ao teatro.
A atriz e diretora Tiche Vianna (Barracão Teatro, de Campinas) falou sobre a experiência de trocas concretas entre os grupos (seis espaços, 12 coletivos) e a comunidade de Barão Geraldo, distrito onde fica a Unicamp e a sede do Lume, por exemplo.
Representante da Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga (CE), Luciano Bezerra contou como aquela cidade serrana do interior cearense, de 5.700 habitantes, "passou pelos ciclos econômicos da cana-de-açúcar, do café e, desde 1992, desenvolve uma demanda cultural, sobretudo por conta do Festival Nordestino de Teatro, que vai para a 12ª edição em 2005.
O antropólogo José Márcio de Barros comentou sobre os paradoxos das sociedades seduzidas pelo consumismo e alheias à cidadania. "A dimensão política e cultural da cidadania convive cada vez mais com sua crescente dimensão mercadológica."
"Nosso papel não é resistir, mas propor, ser vanguarda. Esta é uma palavra que tem que ser recuperada. Não interessa a contrapartida social, mas a partida cultural", afirmou Frateschi, que a partir de janeiro passa para o lado de cá da trincheira, já que é ator, autor e diretor.


Texto Anterior: Artes plásticas: El Greco é vendido por US$ 1,5 milhão
Próximo Texto: Classe teatral assina manifesto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.