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TEATRO
Redemoinho, iniciativa do Galpão, reúne 52 entidades de 12 Estados durante três dias para criação de rede nacional
Grupos debatem políticas públicas em BH
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O teatro brasileiro quer pensar e
agir em rede. Pelo menos é o desejo manifestado por alguns dos
mais importantes grupos, associações e entidades do país durante o 1º Redemoinho - Encontro
Brasileiro de Espaços de Criação,
Compartilhamento e Pesquisa
Teatral, encerrado anteontem em
Belo Horizonte, no Galpão Cine
Horto, espaço do grupo Galpão.
Durante três dias, nos turnos da
manhã (exceto na abertura), tarde
e noite, participaram 52 grupos
ou entidades afins, 34 deles de fora da capital mineira, equivalente
a 12 Estados de quatro regiões do
país (exceto Norte).
Aconteceram palestras com
pesquisadores de teatro, antropologia e história, além da participação do presidente da Funarte, Antônio Grassi, e do secretário municipal da Cultura de São Paulo,
Celso Frateschi; mesas-redondas
com iniciativas independentes,
públicas e coletivas; e grupos de
trabalho que trataram de formação da rede, parcerias a partir das
estruturas já existentes e atuação
política junto ao poder público.
Deste, saiu o embrião do documento tirado ao final do Redemoinho, na quarta (leia abaixo).
Simbolicamente, o encontro
reata com três reuniões nacionais
de coletivos teatrais ocorridas nos
anos 90, duas em Ribeirão Preto
(organizada pelo grupo Fora do
Sério) e outra em São Paulo (pela
Cooperativa Paulista de Teatro).
À época, estavam lá o Imbuaça,
de Aracaju (SE), hoje com 27 anos
de estrada; a Tribo de Atuadores
Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto
Alegre (RS), 26; o grupo Tá na
Rua (RJ), 24, e o próprio Galpão,
22, todos presentes em Minas.
Os tempos são outros, mas a
pauta permanece. Como a percepção de que é preciso sair urgente do isolamento de seu Estado, às vezes de sua cidade, para
"encontrar o outro, colaborar,
circular, reinventar o teatro com a
comunidade", segundo o ator e
diretor Chico Pelúcio (Galpão).
Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa... O Redemoinho não quer dissociar estética e ética. Sua principal referência
é o movimento Arte contra a Barbárie, de São Paulo, histórica iniciativa da classe teatral da cidade,
no final da década passada, pela
criação de políticas públicas, o
que resultou no Programa Municipal de Fomento ao Teatro, a Lei
do Fomento, aprovada em 2001
(cerca de R$ 6 milhões do Orçamento da prefeitura destinados a
grupos que desenvolvam pesquisas continuadas).
A professora Regina Helena Alves da Silva (UFMG) falou sobre
"a sociedade em rede" e disse que
"é preciso pensar a cultura como
conhecimento compartilhado".
Sua colega, Iná Camargo Costa
(USP), dedicada à história do teatro de esquerda no Brasil, Europa
e EUA, comentou a importância
da atuação dos grupos e estabeleceu paralelo com o Teatro Livre , o
grupo comandado por André Antoine (1859-1943), que catalisou a
cena na Paris do final do século 19,
influenciado pelo realismo
-oposição às convenções do teatro de seu tempo.
O diretor Amir Haddad (Tá na
Rua) conclamou à utopia que encontra "terreno fértil no teatro,
uma mina". O ator Sérgio Siviero
(Vertigem) observou a importância da memória dos espaços habitados pelo teatro (seu grupo ocupa a Casa nº 1 no centro histórico
da cidade de São Paulo). Por um
diálogo entre o patrimônio histórico e o "patrimônio vivo", como
se refere ao teatro.
A atriz e diretora Tiche Vianna
(Barracão Teatro, de Campinas)
falou sobre a experiência de trocas concretas entre os grupos (seis
espaços, 12 coletivos) e a comunidade de Barão Geraldo, distrito
onde fica a Unicamp e a sede do
Lume, por exemplo.
Representante da Associação
dos Amigos da Arte de Guaramiranga (CE), Luciano Bezerra contou como aquela cidade serrana
do interior cearense, de 5.700 habitantes, "passou pelos ciclos econômicos da cana-de-açúcar, do
café e, desde 1992, desenvolve
uma demanda cultural, sobretudo por conta do Festival Nordestino de Teatro, que vai para a 12ª
edição em 2005.
O antropólogo José Márcio de
Barros comentou sobre os paradoxos das sociedades seduzidas
pelo consumismo e alheias à cidadania. "A dimensão política e cultural da cidadania convive cada
vez mais com sua crescente dimensão mercadológica."
"Nosso papel não é resistir, mas
propor, ser vanguarda. Esta é
uma palavra que tem que ser recuperada. Não interessa a contrapartida social, mas a partida cultural", afirmou Frateschi, que a
partir de janeiro passa para o lado
de cá da trincheira, já que é ator,
autor e diretor.
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