São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Música

Wanderléa volta ao palco com CD "Nova Estação"

Após 16 anos sem gravar, cantora "volta às origens" com CD sem faixas inéditas

Com carreira que estourou na época da jovem guarda, Wanderléa afirma que era impossível deixar a indústria naquela época


AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Wanderléa foi convidada para ser cantora de axé. Achou estranho subir ao palco e fazer passos coreografados -"eu sempre voei no palco, nunca fui programada", diz. Entre os que considera "convites indecorosos", negou também um para cantar lambadas. "Lambada? Eu não tenho nada com essa coisa de lambada! Tô fora", ela disse à gravadora que convidou.
"Não tenho nada contra, mas a gente tem uma personalidade, um conceito para o público."
Para preservar a "personalidade", ficou 16 anos sem gravar -fez, em 2003, o institucional "O Amor Sobreviverá", trabalho filantrópico, mas não o considera álbum de sua carreira- até chegar ao repertório de "Nova Estação", que lança pela Lua Music, com shows em São Paulo, no teatro Cosipa.
De lenço alaranjado com detalhes cor-de-rosa, botinha marrom e calça jeans, ela ensaia alguns passos de samba em "Adeus, América", de João Gilberto. "O samba mandou me chamar", canta, abusando do grave, durante um ensaio. Em seguida, já está em "My Funny Valentine", de Rodgers e Hart, famosa na voz de Chet Baker.
Do clássico do jazz, pula para a balada pop "Se Tudo Pode Acontecer", de Arnaldo Antunes, e "Chiclete com Banana", de Jackson do Pandeiro.
"Fiquei fora do mercado fonográfico, mas gravando em casa, o tempo inteiro, aquilo que me dava prazer de fazer", conta.
"Os convites não eram legais.
Primeiro, não tinha músicas tão legais para fazer um disco de inéditas. E também, me vendo sempre como uma grande vendedora de discos, as pessoas chegavam pra mim querendo emplacar no mercado."
Lançar "Nova Estação", diz, é como "voltar às origens" de crooner de conjunto de baile.
"Eu trago para esse disco uma maturidade que eu consegui lá quando menina." Por "menina", ela se refere ao tempo anterior ao da jovem guarda.

De volta ao baile
Depois de ganhar um concurso aos 9 anos como "a mais bela voz infantil", Wanderléa conseguiu um contrato com a gravadora Columbia -atual Sony. Engavetou o contrato, pois seu pai, "um senhor austero de família libanesa", achou "psicologicamente perigoso" a filha se transformar em "menina prodígio". Em 1962, aos 16, a gravadora resgatou o contrato -"queriam uma artista jovem, para fazer música jovem. A Celly Campelo tinha parado. Já tinha o Roberto Carlos". Ela, então, gravou o primeiro disco: de um lado, rock; do outro, o blues "Tell Me How Long".
"Aí aconteceu isso, né? Explodiu no Brasil todo. Eu tive de reformular tudo o que eu fazia antes. Era uma coisa nova", diz. Lá se foi a carreira de crooner de conjunto de baile, substituída pela de pop star. "Minha música foi ficando."
Foi, então, "arrastada" pela jovem guarda? "Não dava para escapar [do rótulo de roqueira da jovem guarda]. O sucesso era muito grande. Eu queria experimentar outras coisas, mas a indústria da época era uma coisa poderosa. Tinha compromissos, compromissos, compromissos e shows e coisas e não parava mais. Então, nunca deu para dar uma mexida, uma reformulada no trabalho." Só agora, perto dos 40 anos de carreira, ela conseguiu: "Foi bonito, foi uma história bacana. E, agora, eu me sinto no direito de fazer o que eu tenho vontade".


WANDERLÉA - NOVA ESTAÇÃO
Quando: sex., 21h30; sáb., 21h; dom., 18h30
Onde: teatro Cosipa (av. do Café, 277; tel. 0/xx/11/5070-7018)
Quanto: R$ 30
Classificação indicativa: livre



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