São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

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Conjuntos culturais continuam fechados

Após inaugurados, projetos de Niemeyer viram objetos de disputa

Símbolos das gestões anteriores, complexo em Goiânia e parque em Natal foram vitimados por rixas políticas

Eraldo Peres/Photo Agência
Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiás

ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

O Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, é um conjunto com teatro, museu, biblioteca e um pátio de concreto. Desenhado pelo arquiteto que o batiza, foi aberto em março de 2006. Custou mais de R$ 60 milhões. Hoje, está fechado.
O Parque da Cidade, em Natal, também projetado por Oscar Niemeyer, conta com auditório, biblioteca, área para caminhadas e, claro, um pátio de concreto. Foi inaugurado em novembro de 2008, a um custo de R$ 26 milhões. Hoje, está fechado.
Em Recife, o Parque Dona Lindu, orçado em R$ 29 milhões, foi inaugurado em dezembro de 2008. Salvo pela área externa, teatro, restaurante e pavilhão desenhados por Oscar Niemeyer continuam fechados. (Ao menos o pátio de concreto pode ser usado por quem gosta de pátio de concreto.)
A Prefeitura de Recife afirma que as obras do Parque Dona Lindu estão dentro do prognóstico e devem ser finalizadas em janeiro. Já em Goiânia e Natal, os complexos culturais chegaram a receber visitantes, antes de serem interditados pelo Tribunal de Contas dos Estados.
A Folha conversou com arquitetos e políticos para saber por que esses projetos de Oscar Niemeyer -que completa 103 anos no dia 15 de dezembro- acabaram fechados, após o empenho de tanto dinheiro público. Em comum, dois pontos: mau planejamento urbanístico e falta de vontade política.
John Mivaldo, presidente do IAB de Goiás (Instituto dos Arquitetos do Brasil), diz que o Centro Cultural Oscar Niemeyer foi mal projetado, por alijado que está da área central de Goiânia: "É junto a uma rodovia, só se chega de carro ou de ônibus. Quando você formula um projeto de arquitetura, não pode apenas jogar o monumento no lugar. Tem que pensar urbanisticamente". Mivaldo aponta também que o governo esteve mais atento à construção do que à utilidade pública que se daria ao conjunto: "Um dos prédios foi pensado para ser uma biblioteca, e nunca teve um livro".
O produtor Pablo Kossa reclama que o conjunto foi construído sem demanda popular: "A gente não precisava de uma obra daquele porte. Havia vários espaços culturais subutilizados na cidade. Mas, já que estava pronto, batalhamos pela reabertura". Em março, ele organizou o "Rock pelo Niemeyer", que juntou 5.000 pessoas diante do Centro Cultural na tentativa de fazer com que voltasse a funcionar.

RETALIAÇÃO
O Centro Cultural Oscar Niemeyer foi erguido durante o segundo mandato de Marconi Perillo (PSDB) à frente do Estado de Goiás. Perillo diz que a obra teve duas funções: criar um palco para grandes eventos e "reconhecer o talento do arquiteto". "O problema é que meu vice ficou com ciúmes e, ao me substituir, quis me retaliar através do monumento."
Perillo, que acaba de ser eleito pela terceira vez ao governo, anunciou que tomaria posse no Centro Cultural. Foi impedido pela promotora Marta Moriya Loyola, que constatou, em perícia recente, que o conjunto de prédios, cinco anos após a inauguração, ainda não tem licença ambiental e alvará do Corpo de Bombeiros.
João Furtado de Mendonça Neto, procurador do Estado e integrante da equipe de transição de Perillo, resume: "O Centro Cultural é o grande marco da arquitetura de Goiás. O Perillo lutou muito para realizar essa obra, que acabou penalizada justamente por estar ligada à imagem dele".

PROJEÇÃO
Em Natal, quando firmou contrato para a construção do Parque da Cidade, em 2006, o então prefeito Carlos Eduardo Alves comemorou: "O grande arquiteto Oscar Niemeyer irá dar uma enorme contribuição à nossa cidade, com esse projeto que ganhará projeção nacional".
"Não houve projeção alguma. Se era para potencializar o uso turístico da cidade, não deu certo", afirma Olegário Passos, atual secretário municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal. "Independente do respeito pelo Niemeyer, poderiam ter encomendado uma coisa mais barata, com materiais menos complicados. E o fundamental não foi atendido: um parque para uso da população."
O Parque da Cidade foi fechado no início de 2009, logo após Micarla de Sousa (PV) assumir a Prefeitura de Natal, sob justificativa de má conclusão do projeto. O ex-prefeito Carlos Eduardo Alves alega "perseguição política": "A biblioteca vivia lotada. Mas essa mocinha chegou com muita inveja. De cara, fez uma auditoria e mandou fechar".
Alves acredita que Micarla fechou o parque "porque era obra do Oscar Niemeyer, de grande visibilidade": "Atingindo a ele, atingia a mim também".


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