São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 1997.

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CINEMA
HAL-9000, o computador enlouquecido que destrói a missão espacial mais ambiciosa do cinema em `2001' seria ligado em 12 de janeiro de 97; o cineasta volta com `Eyes Wide Shut'
Kubrick sai do esconderijo

JEANNE WOLF
especial para a Folha

Amanhã, um domingo, por obra de um norte-americano radicado em Londres, a máquina mais inteligente já elaborada pelo homem, o computador HAL-9000, finalmente entrará em funcionamento.
O vilão da profecia escrita por Arthur C. Clarke em ``2001 - Uma Odisséia no Espaço'' (o computador que aprende a pensar e decide exterminar a tripulação de astronautas em busca da verdade sobre um monolito negro) foi transformado em ``obra de arte'' pelo cineasta Stanley Kubrick.
E ajudou a firmar sua imagem de um diretor solitário, capaz de contratar um ator para fazer o papel de si mesmo para a imprensa, um dos mitos a seu respeito.
Depois de uma ausência de dez anos (seu último filme, ``Nascido Para Matar'', foi produzido em 1987), ele é mais uma vez a atração do ano com ``Eyes Wide Shut''.
Como se já não bastasse a própria fama, agora com ele está o casal Nicole Kidman-Tom Cruise. Kubrick parece rir da curiosidade de todos chamando essas estrelas para seu segredo.
Nicole, como é demonstrado nesta entrevista, em que fala de sua ``experiência Kubrick'', parece adorar a brincadeira de esconde-esconde entre ela, seu marido, o diretor e o mundo.

Pergunta - Você está fazendo esse filme e...
Nicole Kidman -
Uau! (Ri)
Pergunta - ...e, na sua vida pessoal, vem passando cada vez mais tempo na Europa.
Kidman -
Moramos em Londres. Na realidade, acontece simplesmente que os filmes que queremos fazer, por acaso, são por lá; obviamente estamos fazendo o filme de Kubrick agora e Kubrick não viaja, então nós fomos até ele.
Pergunta - Você pode dar alguma dica sobre o filme de Kubrick?
Kidman -
Estou autorizada a dizer que é sobre obsessão sexual e ciúmes, foi isso que Stanley escreveu para mim (ri). Só isso.
Pergunta - Kubrick é o perfeccionista absoluto?
Kidman -
Sim.
Pergunta - Ele é como dizem?
Kidman -
É, sim.
Pergunta - Quero dizer, isso é assustador ou ...
Kidman -
É assustador, mas ele é muito bonzinho. Ele tem uma atitude muito protetora em relação a seus atores e adora seus atores. Mas a expectativa dele é que você se dedique 200% ao filme, nada menos do que isso serve.
Pergunta - E o que dizer dos diretores e de sua relação com Jane Campion, com quem filmou ``Retrato de uma Senhora''?
Kidman -
Acho que com uma mulher você, enquanto mulher, tende a sentir que pode expressar alguns de seus sentimentos mais abertamente. E toda mulher que assiste àquilo diz ``também já tive essa fantasia!''.
Não sei se um diretor homem teria feito aquilo, e, nesse sentido, acho que se obtém uma visão diferente da sexualidade feminina, que, para mim, é muito interessante. Mas Kubrick, você sabe, é diferente, obviamente ele não vem me abraçar. Mas ambos amam o que fazem e suas paixões pelo que fazem são semelhantes.
Pergunta - Então até agora temos duas pessoas que se envolvem tão profundamente nesses projetos que os distanciam das crianças, do companheiro.
Kidman -
Bem, nós trabalhamos alternadamente. Quando está trabalhando, o outro não trabalha.
Pergunta - Isso não torna as coisas um pouco difíceis?
Kidman -
Trabalhar com Kubrick é a oportunidade de uma vida, então é uma coisa que estamos tendo que dar um jeito. Na realidade, quando você assistir ao filme, e quando pudermos falar sobre ele, você verá que... não posso explicar, não estou autorizada a falar nada sobre o filme, não posso nem mesmo dizer o quanto eu trabalho.


Colaborou a Reportagem Local

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