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TV CULTURA
Jorge da Cunha Lima, que administra a emissora, diz que a programação está melhor e que logo trará bons resultados
"Estamos no rumo certo", diz presidente
Divulgação
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O presidente da Fundação padre Anchieta, Jorge da Cunha Lima, qua administra a TV Cultura
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DA REPORTAGEM LOCAL
Por trás da nova filosofia da TV
Cultura existe um nome: Jorge da
Cunha Lima. Aos 69 anos, o presidente da Fundação Padre Anchieta, que administra a emissora desde 1995, não tem dúvida de que
está no rumo certo para construir
uma televisão pública de sucesso.
Sem rodeios, recebeu a Folha
em seu escritório e não vacilou
nem para responder o que achou
de o "Castelo Rá-Tim-Bum" ter
exibido um comercial da boneca
Barbie: "Isso foi um erro. A Barbie
é uma coisa escrota". Leia os principais trechos da entrevista.
(LAURA MATTOS)
Folha - Em 2000, a Cultura passou
a trabalhar mais com publicidade,
a mudar seus conceitos...
Jorge da Cunha Lima - Foi uma
retomada de pensamentos. Para
colocar projetos em prática, nós
precisávamos de verba. Tínhamos de pagar dívidas. Enquanto
estávamos preocupados com dívidas, a nova ação filosófica ia para o brejo.
Folha - Dívidas com serviços que,
privatizados, como Embratel, passaram a ser cobrados da Cultura?
Cunha Lima - Antes, os pagamentos não eram rigorosos. Não
era justo que, além de dar a programação para TVs de todo o
país, pagássemos a transmissão.
Como prestava serviço ao governo e a Embratel era do governo,
eles entendiam isso. Com a mudança, pagamos parte da dívida e
o resto virou uma bola de neve.
Folha - Na busca de anunciantes,
a Cultura passou a se preocupar
com a audiência?
Cunha Lima - Antes nos desesperávamos com isso. Mas percebemos que deveríamos fazer pesquisas qualitativas, para ver se o
segmento que pretendemos atingir gosta ou não da programação.
Nós falamos para um público segmentado, com forte compreensão
da mensagem publicitária. Outra
idéia é a publicidade institucional
de produto, que não fica estimulando consumo, mas empresta o
prestígio da Cultura à marca.
Folha - Mas essa idéia se encaixa,
por exemplo, no anúncio da Barbie
no "Castelo Rá-Tim-Bum"?
Cunha Lima -A Barbie não está
no "Castelo Rá-Tim-Bum".
Folha - Mas já foi anunciada.
Cunha Lima -Erraram. A Barbie é
uma coisa escrota. Às vezes só
percebemos o inconveniente depois. A idéia de publicidade institucional é nova. Quando me perguntaram o que é publicidade institucional, respondi que seria
mais fácil definir o que não poderíamos anunciar. Não podemos,
por exemplo, usar aqueles comerciais testemunhais que eu acho
mais escrotos que a Barbie.
Folha - Não é complicado definir
o que é ético anunciar na Cultura?
Cunha Lima -No Brasil, ninguém
entendeu que, pela Constituição,
temos três tipos de televisão: educativa, pública e comercial. Como
isso nunca foi regulamentado, todo mundo acha que só existem
TV educativa e comercial. E a
educativa não poderia nem receber doação. Então, querem enquadrar a TV pública, que é a Cultura, nessas restrições. A televisão
pública não tem finalidade de lucro, mas sobrevive com o apoio
da sociedade, do governo e das
empresas, por meio da publicidade institucional, patrocínios.
Folha - Por que a Cultura optou
por terceirizar a venda de espaço
publicitário em vez de criar um departamento comercial interno?
Cunha Lima -Porque isso não é
permitido. A conquista de um
mercado tem de ser feita por uma
empresa intermediária que vai arriscar, fazer despesas. E, se fizermos isso internamente, no terceiro dia o Tribunal de Contas me
mata. Outra coisa: eu ganho R$
8.000, R$ 7.000, quando um presidente de TV comercial ganha R$
50 mil, R$ 100 mil. Se chamar um
diretor comercial e disser o salário
que ele poderia ganhar, que não
poderia ser maior que o meu, ele
vai me mandar comer prego.
Folha - E por que a Connect foi escolhida, mesmo sem licitação?
Cunha Lima -Porque não há esse
tipo de empresa no mercado, com
experiência de captação de publicidade para TV pública. Os que
mais se aproximam são os que
vendem publicidade de TV paga.
O Tribunal de Contas mandou
abrir concorrência e abrimos. E os
mesmos apareceram.
Folha - A Connect não foi formada
justo na época em que a Cultura
precisava do serviço?
Cunha Lima -Ela foi formada,
acho, para isso.
Folha - E como ela não tinha
know-how no negócio, contratou
outra empresa, a Starsat, que já fazia o trabalho para a TV paga...
Cunha Lima -Não. Ela tinha muito mais know-how porque o Marcos (Amazonas, dono da Connect) é o maior know-how do
Brasil. Estamos fazendo uma concorrência transparente. Mas não
posso arriscar fazendo uma concorrência na qual pudesse entrar
todo mundo e daqui a seis meses
eu não teria nenhum tostão.
Folha - A Starsat trabalhava para
a Connect vendendo o espaço publicitário da Cultura e ficava com
12% de comissão. Depois, a Connect tirava 20% de comissão...
Cunha Lima - É tão primária essa
questão que respondo por respeito a você. A Starsat, a Connect ou
qualquer empresa que faz isso
tem despesa estrutural. A TV Cultura não existia no mercado publicitário. A Connect gastava com
uma estrutura inteira de comunicação, folhetos, cafés da manhã,
gestão, gerência. E a Starsat funcionava como um corretor. Mas,
se eu contratar direto o corretor,
como bater na porta da (agência
de publicidade) DPZ?
Como vão as finanças da Cultura?
Cunha Lima - A situação financeira chegou a um certo equilíbrio. Primeiro com a compreensão do governo de manter o orçamento sem cortes, com ajuda para investimento, e com o advento
de R$ 18 milhões a R$ 20 milhões
vindo da publicidade institucional. Para 2001, teremos a ajuda da
Lei Rouanet, que agora nos deu a
possibilidade de arrecadar R$ 5
milhões para a programação.
Folha - Por que houve mudança
em toda a programação?
Cunha Lima - Decidimos dividir
a programação por faixas de horários destinadas a diferentes segmentos. A idéia é fidelizar mais o
telespectador, fazer com que ele
memorize a programação.
Folha - Mas todos parecem sentir
saudade do tempo em que a Cultura
tinha boa audiência no horário nobre, com o "Castelo Rá-Tim-Bum"...
Cunha Lima -O que acontecia na
época é que não tínhamos concorrência. Depois que o "Castelo"
atingiu aqueles pontos malucos,
em 1995, o Silvio Santos comprou
a programação da Disney. Todo
mundo entrou de sola nesse nicho, com os desenhos japoneses...
Folha - "Ilha Rá-Tim-Bum", que
seria o próximo grande investimento da Cultura, não sai do papel
há três anos. Com as trocas de equipes, não houve desperdício de dinheiro?
Cunha Lima - Houve alguns erros. Tivemos diretores contratados antes de termos a idéia pronta. Mas vamos lembrar que o
"Castelo Rá-Tim-Bum" demorou
quatro anos, mesmo havendo recursos fartos na época. A produção de um programa como a
"Ilha" é complicada. Essa demora
acontece em todas as emissoras.
Folha - O problema é que quando
acontece na Cultura há mais cobrança, por se tratar de uma emissora que envolve verba pública...
Cunha Lima - Você tem razão. A
Cultura é uma fundação de direito privado, embora seja TV pública. Temos dinheiro do Estado,
mas essa verba é gasta com a manutenção da emissora. Na "Ilha",
coloco dinheiro de patrocínio.
Folha - O que vem em 2001?
Cunha Lima -Nossa idéia é fazer
de meia-noite ao meio-dia só programas de educação, o que chamo
de Universidade da Madrugada.
Antes, não acreditava em educação à distância. Mas, com a Internet, essa utopia voltou. O telespectador vê o programa, recebe as
apostilas e pode entrar na Internet
e tirar dúvidas com o professor.
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