São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2001

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RELÂMPAGOS


Aventureiro



JOÃO GILBERTO NOLL

Alguém, pressentindo minha presença, escapara. Quem me abria a porta? Uma sombra para quem soltei um murcho oi. Logo percebi a tal ausência. Ao farejar minha chegada, não suportara o vislumbre do encontro, desabalando-se pela escada. Um cão latia para a alma fugitiva, nessas alturas talvez já dormitando em sua desvairada evasão. No banheiro, curvado sobre a privada, sem qualquer conteúdo para lançar, procurei desvendar o que em mim deveria ter provocado aquela retirada. "Hein?", perguntei ao meu inexistente reflexo no regato da descarga. Bateram na porta. Abri. "É você?", disparei. A criatura falou que não. Eu teria entrado na casa errada? Não seria tarde demais para assumir o engano? Arrotei, como se desfrutando da intimidade do melhor amigo.


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