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TELEVISÃO/CRÍTICA
Minissérie "Os Maias" tem início com capítulo um pouco irregular
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma primeira sequência
ousada, longa e contemplativa, um miolo de capítulo difícil
e, ao final, a introdução de ação
que promete. Assim, um pouco
irregular, foi a estréia de "Os
Maias" anteontem. Uma adaptação literária de um clássico da literatura portuguesa, uma superprodução com pretensões cinematográficas, no atual panorama
-de busca de alternativas para a
teleficção-, o trabalho aposta na
grandiosidade.
O olhar nostálgico e emocionado de Carlos da Maia (Fábio Assunção) sobre o casarão abandonado de seu avô, o patriarca da
Maia, introduziu a minissérie
com raro primor cenográfico e de
iluminação. A memória do filho
introduz a saga do pai, Pedro da
Maia, cuja complexidade não
conseguiu vencer as limitações da
telinha. Reduzido à melancolia regada a muitas lágrimas, Pedro
não cativa. Ao menos até que inicia o romance proibido que insemina a narrativa.
Com seis semanas de gravação
além-mar, "Os Maias" se passa no
estrangeiro. Os da Maia se apresentam como os que acreditaram,
mas não conseguiram, mudar um
país, que não é o Brasil. No texto
de Eça de Queirós, o Brasil, e principalmente as brasileiras, mãe e filha, vem carregado de significações exóticas que estruturavam a
imaginação do império. Será interessante observar a antiga metrópole colonial representada em
uma produção da ex-colônia,
que, ironicamente, aliás, se especializou nas artes do espetáculo
televisivo, invertendo o sentido
do fluxo de produtos culturais.
Será curioso ver como os portugueses, ávidos consumidores dos
produtos dessa economia, que
desfrutam da manufatura de imagens "made in Brazil", um pouco
como consumiram a madeira, o
açúcar, o ouro e o café da colônia,
apreciarão a apropriação.
O desafio em uma adaptação literária para a TV é ir além das
oposições básicas que estruturam
a narrativa -e vale observar que
dentre as inúmeras possibilidades
de textos a serem adaptados, a escolha muitas vezes recai sobre
obras de base melodramática.
Aquele olhar fatal que dá início
ao romance, o apelido "a negreira", a fala em que a jovem senhorita de peito arfante declara sua
preferência pelas touradas espanholas, já que em Portugal haveria pouco sangue, são características que vão compondo a personagem mãe, em oposição ao caráter
frágil e chorão do pai. Cabe aguardar que a caracterização se enriqueça, compondo um tecido capaz de especificar a profundidade
dramática de um personagem em
sua implicação histórica múltipla.
Mais do que o orçamento milionário, vale esperar a densidade
dramática do texto de Maria Adelaide Amaral, a direção de Luiz
Fernando Carvalho e a performance de um elenco que inclui
Matheus Nachtergaele, José Lewgoy, Walmor Chagas e Myriam
Muniz, atriz que honra, com sua
presença, o universo da telinha.
Avaliação:

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