São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2001

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CINEMA

Contrato entre grandes estúdios e sindicatos de atores e de roteiristas está defasado e não houve acordo até agora

Greve ameaça parar máquina Hollywood

MILLY LACOMBE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hollywood está prestes a parar: uma greve sem proporções ameaça congelar a maior indústria cinematográfica mundial. Se a paralisação acontecer, é provável que por pelo menos seis meses não haja nenhum filme sendo produzido nos Estados Unidos ou por aqueles pertencentes à maior associação de profissionais de cinema do planeta.
À meia-noite e um minuto do próximo dia 2 de maio, o contrato de roteiristas (todos afiliados ao Writers Guild of America) com estúdios e produtores expira. Dois meses depois, o contrato dos atores (afiliados ao Actors Guild of America) também chegará ao fim. Sem roteiros e atores, não há filme ou programa de TV que possa ser produzido.
A questão é que os dois contratos em questão encontram-se defasados e dificilmente haverá acordo que agrade a todas as partes antes que eles expirem. Pior: até agora nenhum estúdio se prontificou a iniciar negociações. A greve é, portanto, dada como certa em Hollywood.
Profissionais da indústria -e a lista inclui desde atores a técnicos de iluminação, passando por roteiristas, figurinistas, agentes, dublês e carpinteiros- estão trabalhando freneticamente para terminar todas as filmagens antes do dia 30 de junho, data do início da greve para atores. Nesse contexto, longas são aprovados em doses diárias, produções são alucinadamente aceleradas, filmagens são iniciadas às pressas, roteiros são escritos e vendidos em quantidades triplicadas, agentes trabalham 24 horas por dia para incluir seus clientes no maior número possível de filmes e programas de TV antes de junho.
"Não vejo como a greve vá deixar de acontecer", disse Tim Robbins à Folha em Los Angeles. "É uma pena, mas acho que ela é inevitável."
Para Robbins, um dos homens mais ativos politicamente em Hollywood, a greve é essencial porque o salário médio de um ator afiliado ao Actors Guild of America (e para trabalhar na indústria do entretenimento americana a afiliação é obrigatória) é de 5.000 dólares por ano. "Atores que conseguem viver bem e sustentar uma família são uma raridade. Nós, os que ganhamos milhões por filme, somos 1% da classe, mas quase ninguém sabe disso", disse Robbins, que promete, ao lado de sua mulher, a atriz Susan Sarandon, fazer manifestações pela causa se for necessário.
Mas a iminência da paralisação ameaça acima de tudo os programas de TV em 2002. Hoje, o commodity mais valioso na indústria americana do entretenimento são os programas de realidade, que não necessitam de roteiros ou de atores e, por isso, estão sendo oferecidos -e comprados- aos milhares pelos estúdios americanos, que esperam viver deles enquanto a paralisação durar.
Em maio, a primeira greve, a dos roteiristas, já vai começar a colocar pedra no sapato de estúdios e produtores. Isso porque é muito comum que escritores acompanhem as filmagens para fazer ajustes e alterações no script. Sem escritores, atores terão que reescrever suas falas ou improvisar.
Em junho, quando os atores iniciarem sua greve, a indústria será então paralisada.
Grandes produções como "Men in Black 2" e "Spider Man" serão imediatamente iniciadas para serem concluídas ainda em maio; "Planet of the Apes" e "Road to Perdition", o novo filme de Tom Hanks e do diretor de "Beleza Americana", Sam Mendes, também foram colocados na via expressa para poderem chegar à sala de edição antes de junho.
"Não vamos correr o risco de ficar no meio do caminho", disse à Folha Sam Raimi, diretor de "Spider Man". "Estamos preparados para terminar antes da greve."
Para Cuba Gooding Jr., que será visto agora ao lado de Robert de Niro em "Men of Honor", a greve ainda pode ser evitada. "Gostaria muito que se chegasse a um acordo, antes que seja tarde demais", disse. "Ainda tenho esperança."


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