São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS


Palestra na Folha aborda choque causado pelo movimento

Professora analisa impressionismo



DA REPORTAGEM LOCAL

Por que "O Almoço na Relva", tela de Manet que se tornou símbolo do movimento impressionista, chocou o meio acadêmico e a crítica da segunda metade do século 19?
Essa e outras questões sobre o surgimento, as características, as curiosidades e a importância do impressionismo foram abordadas pela doutora em história crítica da arte Ana Gonçalves Magalhães, no dia 4 de dezembro, na penúltima conferência gratuita do ciclo sobre história da arte, promovido pela Folha em parceria com a Escola do Masp.
A resposta sobre o quadro de Manet: "Porque o grupo central retratado na tela pode ter sido tirado de duas referências clássicas da pintura -uma gravura de Marcantonio Raimondi feita a partir de pintura de Rafael e um grupo presente no "Concerto Campestre", de Giorgionne. E também pela ousadia de representar, em primeiríssimo plano, uma figura feminina completamente nua, que olha para o espectador e que não é nenhuma divindade".
Outras características do quadro, como ter por tema uma cena da vida contemporânea e apresentar "falhas" na composição, são também marcas de todo o movimento, surgido em oposição à "institucionalização da arte", corrente na época.
Os expoentes do impressionismo -Manet, Degas, Renoir, Monet, Pissarro, Cézanne- e outros artistas uniram-se numa sociedade de artistas independentes com o objetivo de buscar espaços para expor suas obras alternativos à austera Academia de Belas Artes de Paris, onde eram sistematicamente recusados.
Ana Gonçalves Magalhães, que é professora de história da arte da Faculdade Paulista de Artes e autora de "Claude Monet: A Canoa e a Ponte" (Pontes Editores), falou sobre aspectos inaugurais do movimento, que estabelecem clara oposição à pintura acadêmica.
Entre eles, o fato de a pintura ser inteiramente executada ao ar livre; o uso da espátula, que faz com que texturas e empastamentos sejam mais aparentes; o uso da tela não preparada; a utilização de uma paleta de cores vivas e puras; a prática de misturar as tintas na tela e não na paleta.
A sociedade de artistas independentes foi criada em 1873, depois da guerra franco-prussiana. É quando o grupo passa a contribuir com dinheiro para alugar um espaço e abrir uma mostra particular, independente do salão oficial. Entre 1874 e 1886, são realizadas oito mostras nesses moldes. "Isso tem grande impacto na cultura de exposições existente na França no século 19", afirma a historiadora.
Quando as mostras foram realizadas, os artistas já rejeitavam a denominação "impressionista", que lhes havia sido atribuída pejorativamente, no Salão dos Recusados.
Avanços tecnológicos contribuíram para o surgimento e a afirmação do novo estilo. "A invenção das tintas em bisnaga e as telas menores, distintas das monumentais dimensões acadêmicas, tornaram possível que os artistas carregassem seus quadros debaixo do braço", diz Ana.
A professora ressaltou que os impressionistas "pintam uma Paris em transformação. Retratam os cafés-concerto, a ópera Garnier. São, nas palavras de Baudelaire, esses pintores da vida moderna".


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