São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIAS

"TRAPACEIROS"

No filme de 2000, diretor conta a história de um casal de vigaristas que se transformam em novos ricos

Melhor um Woody Allen tarde do que nada

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Moral da história: mesmo um Woody Allen mediano, como este "Trapaceiros" (Small Time Crooks), é melhor do que 90% das porcarias em cartaz.
Dito isso, vamos ao blablablá. O filme chega aos tristes trópicos com dois anos de atraso. Desde então, o diretor já filmou "The Curse of The Jade Scorpion" (A Maldição do Escorpião de Jade) e conclui o próximo.
"Trapaceiros" é um dos melhores trios roteiro-personagem-direção do cineasta nova-iorquino mais complicado pessoalmente (casado com a filha adotiva da ex-mulher, neurótico assumido e filho de mãe judia igualmente assumida) e menos complicado cinematograficamente em atividade.
Seus filmes são invariavelmente bons -alguns ótimos, um ou outro sensacional. "Trapaceiros" está entre os melhores, mas não chega a ser obra-prima. Na história, Allen é Ray Winkler, vigarista sem talento que sonha em dar um grande golpe e se aposentar.
Ele é casado com Frenchy (Tracey Ullman, que absolutamente rouba todas as cenas e está fantástica no papel), uma manicure que vive em paz com a realidade tal qual ela se apresenta. É a única que trabalha entre os Winkler; Ray a espera chegar do salão para preparar seu jantar e ouvir seu próximo plano perfeito.
A oportunidade aparece quando ele reúne uma quadrilha com colegas de prisão e aluga uma casinha cujo andar de baixo é vizinho de um banco, e é exatamente neste andar que ficam os cofres. Frenchy também tem de entrar na história para que o golpe dê certo -ela fica no andar de cima vendendo biscoitos como disfarce.
Acontece que os biscoitos são um sucesso absoluto e conquistam o coração duro e carente dos moradores de Manhattan. A lojinha cresce e se torna uma fábrica imensa, cheia de funcionários, e toda a velha quadrilha é empregada em cargos de confiança.
Ray e Frenchy viram novos ricos, organizam festas e redecoram a casa a toda hora. Ela adota David, um marchand inglês pilantra interpretado com a maior naturalidade por Hugh Grant. Já Ray odeia a nova vida. Sente falta de tomar cerveja e jogar baralho. Gruda, então, na prima lerda de Frenchy (May Sloan), com dois neurônios e muito humor.
No fim das contas, "Trapaceiros" aposta de uma forma doce e divertida nas possibilidades de um casamento passar por vários obstáculos e continuar existindo baseado simplesmente no amor e no companheirismo.
Seu maior problema é a visão viciada que Allen tem do que ele imagina ser o mundo dos pobres, que parece tirada de um mau filme dos anos 50. Mas você já sabe a moral da história.


Trapaceiros
Small Time Crooks
   
Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 2000
Com: Woody Allen, Tracey Ullman
Quando: a partir de hoje, nos cines
Espaço Unibanco, Frei Caneca e circuito



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