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CINEMA/ESTRÉIAS
"TRAPACEIROS"
No filme de 2000, diretor conta a história de um casal de vigaristas que se transformam em novos ricos
Melhor um Woody Allen tarde do que nada
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Moral da história: mesmo
um Woody Allen mediano,
como este "Trapaceiros" (Small
Time Crooks), é melhor do que
90% das porcarias em cartaz.
Dito isso, vamos ao blablablá. O
filme chega aos tristes trópicos
com dois anos de atraso. Desde
então, o diretor já filmou "The
Curse of The Jade Scorpion" (A
Maldição do Escorpião de Jade) e
conclui o próximo.
"Trapaceiros" é um dos melhores trios roteiro-personagem-direção do cineasta nova-iorquino
mais complicado pessoalmente
(casado com a filha adotiva da ex-mulher, neurótico assumido e filho de mãe judia igualmente assumida) e menos complicado cinematograficamente em atividade.
Seus filmes são invariavelmente
bons -alguns ótimos, um ou outro sensacional. "Trapaceiros" está entre os melhores, mas não
chega a ser obra-prima. Na história, Allen é Ray Winkler, vigarista
sem talento que sonha em dar um
grande golpe e se aposentar.
Ele é casado com Frenchy (Tracey Ullman, que absolutamente
rouba todas as cenas e está fantástica no papel), uma manicure que
vive em paz com a realidade tal
qual ela se apresenta. É a única
que trabalha entre os Winkler;
Ray a espera chegar do salão para
preparar seu jantar e ouvir seu
próximo plano perfeito.
A oportunidade aparece quando ele reúne uma quadrilha com
colegas de prisão e aluga uma casinha cujo andar de baixo é vizinho de um banco, e é exatamente
neste andar que ficam os cofres.
Frenchy também tem de entrar na
história para que o golpe dê certo
-ela fica no andar de cima vendendo biscoitos como disfarce.
Acontece que os biscoitos são
um sucesso absoluto e conquistam o coração duro e carente dos
moradores de Manhattan. A lojinha cresce e se torna uma fábrica
imensa, cheia de funcionários, e
toda a velha quadrilha é empregada em cargos de confiança.
Ray e Frenchy viram novos ricos, organizam festas e redecoram a casa a toda hora. Ela adota
David, um marchand inglês pilantra interpretado com a maior
naturalidade por Hugh Grant. Já
Ray odeia a nova vida. Sente falta
de tomar cerveja e jogar baralho.
Gruda, então, na prima lerda de
Frenchy (May Sloan), com dois
neurônios e muito humor.
No fim das contas, "Trapaceiros" aposta de uma forma doce e
divertida nas possibilidades de
um casamento passar por vários
obstáculos e continuar existindo
baseado simplesmente no amor e
no companheirismo.
Seu maior problema é a visão viciada que Allen tem do que ele
imagina ser o mundo dos pobres,
que parece tirada de um mau filme dos anos 50. Mas você já sabe a
moral da história.
Trapaceiros
Small Time Crooks
Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 2000
Com: Woody Allen, Tracey Ullman
Quando: a partir de hoje, nos cines
Espaço Unibanco, Frei Caneca e circuito
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