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Livro se presta ao cinema lacrimoso
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Beverly Donofrio, quando adolescente, quis ser primeiro atriz e,
depois, escritora. Ter engravidado aos 17 anos atrasou um bocado
seus planos e mudou os rumos do
que viria a ser sua literatura
-composta de dois títulos baseados em sua própria experiência.
"Os Garotos da Minha Vida", o
primeiro deles, inspira o filme que
estréia hoje no Brasil, com Drew
Barrymore no papel da autora,
dos 15 anos, na década de 60, até
os 35, em meados dos 80.
Existem vários motivos para ler
um livro. Os mais exigentes se
voltam à leitura em busca de prazer formal; esperam que o autor
lhes diga algo que compreendam
e até já tenham sentido, mas de
um modo que não formulariam.
Há os que buscam o entretenimento proporcionado por uma
trama que "prenda", toque. É a
este segundo grupo que "Os Garotos da Minha Vida" alcançará.
O livro de Donofrio comove, às
vezes. Mas não pela qualidade estética do texto, e sim pelo "lado
humano", principal matéria de
que se constrói e que faz com que
pareça prestar-se exatamente ao
tipo de cinema que "Os Garotos
de Minha Vida" pretende ser: algo
lacrimoso, de fundo edificante.
Vale lembrar que o produtor do
filme de Penny Marshall é justamente James Brooks, roteirista,
autor e diretor de "Laços de Ternura" (1983), um megahit do gênero, indicado para 11 Oscars em
84 -dos quais levou cinco.
Nos EUA, a adaptação de Marshall suscitou pelo menos uma voz
discordante: a da escritora Amy
Benfer, cuja história de vida se assemelha à de Donofrio.
"É uma fábula para promover a
educação sexual pela abstinência", esbravejou Benfer contra o
filme, num artigo intitulado
"Hollywood Hypocrisy", publicado pela conceituada "Salon"
(www.salon.com).
Para ela, o filme calca a mão no
comercial. Primeiro, adiantando
em dois anos a gravidez da autora,
que ocorreu aos 17, e não aos 15.
Depois, carregando nas outras
tintas: Bev é abandonada pelos
pais (o que não aconteceu), tem
de trabalhar como garçonete enquanto estuda (tampouco é verdade), e por aí vai.
Além disso, o que fez o êxito de
Donofrio como escritora foi o
que, em primeiro lugar a afastara
dos estudos -o filho, Jason.
No livro, apesar de a autora não
esconder sua frustração pela maternidade precoce, salta aos olhos
o relativo sucesso com que conduz a empreitada de criar o filho
sozinha; Jason torna-se, afinal,
um rapaz responsável.
No filme, reclama Benfer, o garoto se ressente do modo como a
mãe o cria e de como ele parece
uma caricatura do Jason real, supostamente muito mais concordante com a mãe, algo tresloucada, do que quer a produção.
OS GAROTOS DA MINHA VIDA - De: Beverly Donofrio. Editora: Record (0/xx/21/2585-2000). Tradução: Vera Whately.
Primeira edição. 208 págs. R$ 25.
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