São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro se presta ao cinema lacrimoso

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Beverly Donofrio, quando adolescente, quis ser primeiro atriz e, depois, escritora. Ter engravidado aos 17 anos atrasou um bocado seus planos e mudou os rumos do que viria a ser sua literatura -composta de dois títulos baseados em sua própria experiência.
"Os Garotos da Minha Vida", o primeiro deles, inspira o filme que estréia hoje no Brasil, com Drew Barrymore no papel da autora, dos 15 anos, na década de 60, até os 35, em meados dos 80.
Existem vários motivos para ler um livro. Os mais exigentes se voltam à leitura em busca de prazer formal; esperam que o autor lhes diga algo que compreendam e até já tenham sentido, mas de um modo que não formulariam.
Há os que buscam o entretenimento proporcionado por uma trama que "prenda", toque. É a este segundo grupo que "Os Garotos da Minha Vida" alcançará.
O livro de Donofrio comove, às vezes. Mas não pela qualidade estética do texto, e sim pelo "lado humano", principal matéria de que se constrói e que faz com que pareça prestar-se exatamente ao tipo de cinema que "Os Garotos de Minha Vida" pretende ser: algo lacrimoso, de fundo edificante.
Vale lembrar que o produtor do filme de Penny Marshall é justamente James Brooks, roteirista, autor e diretor de "Laços de Ternura" (1983), um megahit do gênero, indicado para 11 Oscars em 84 -dos quais levou cinco.
Nos EUA, a adaptação de Marshall suscitou pelo menos uma voz discordante: a da escritora Amy Benfer, cuja história de vida se assemelha à de Donofrio.
"É uma fábula para promover a educação sexual pela abstinência", esbravejou Benfer contra o filme, num artigo intitulado "Hollywood Hypocrisy", publicado pela conceituada "Salon" (www.salon.com).
Para ela, o filme calca a mão no comercial. Primeiro, adiantando em dois anos a gravidez da autora, que ocorreu aos 17, e não aos 15. Depois, carregando nas outras tintas: Bev é abandonada pelos pais (o que não aconteceu), tem de trabalhar como garçonete enquanto estuda (tampouco é verdade), e por aí vai.
Além disso, o que fez o êxito de Donofrio como escritora foi o que, em primeiro lugar a afastara dos estudos -o filho, Jason.
No livro, apesar de a autora não esconder sua frustração pela maternidade precoce, salta aos olhos o relativo sucesso com que conduz a empreitada de criar o filho sozinha; Jason torna-se, afinal, um rapaz responsável.
No filme, reclama Benfer, o garoto se ressente do modo como a mãe o cria e de como ele parece uma caricatura do Jason real, supostamente muito mais concordante com a mãe, algo tresloucada, do que quer a produção.


OS GAROTOS DA MINHA VIDA - De: Beverly Donofrio. Editora: Record (0/xx/21/2585-2000). Tradução: Vera Whately. Primeira edição. 208 págs. R$ 25.


Texto Anterior: "Os Garotos de Minha Vida": Barrymore abandona imagem de garota fofa
Próximo Texto: "Trapaceiros": Melhor um Woody Allen tarde do que nada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.