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Líder comunista ofusca vida de Olga
DA SUCURSAL DO RIO
O olhar dos adversários por vezes é boa medida para aquilatar a
dimensão de uma figura histórica.
O jornalista Paulo Francis (1930-97) tinha aversão a Luiz Carlos
Prestes. Dizia, porém: no século
20, o Brasil teve dois grandes personagens: Getúlio Vargas, presidente duas vezes (1930-1945; 1951-1954), e Prestes.
A trajetória de Prestes (1898-1990) acabou ofuscando Olga Benario (1908-42) da história do
Brasil. Mesmo entre os acadêmicos e memorialistas de esquerda,
a maioria simpática à corrente
política à qual ela se filiava, a revolucionária alemã não passava de
mulher do maior líder do Partido
Comunista Brasileiro. Um aposto
histórico. Até o aparecimento da
biografia "Olga", de Fernando
Morais, em 1985.
A crônica sobre Prestes e Olga se
aproxima de um épico. Num feito
de repercussão mundial, de 1924 a
1927 ele comandou por 25 mil
quilômetros uma tropa de insurgentes, a Coluna Prestes, que pretendia derrubar o governo central. Passou a ser chamado pelos
adeptos de "Cavaleiro da Esperança". Exilado na Bolívia, aproximou-se do marxismo e viajou
no começo dos anos 30 para a então União Soviética. Lá, aderiu ao
Comintern, como era conhecida a
Internacional Comunista, organização controlada por seu maior
partido, o da própria URSS.
Olga ganhou um lugar cativo
nos arquivos da polícia política
alemã em 1928, quando participou de uma operação que libertou da prisão de Moabit seu namorado, o professor Otto Braun.
Quando foi presa em 1936, no
Rio, suas fotos foram enviadas para a Alemanha. A embaixada do
Brasil encaminhou-as para a Gestapo, a polícia secreta nazista. No
relatório de tom anti-semita
transmitido pelo embaixador em
Berlim ao Ministério das Relações
Exteriores, Olga foi descrita como
"elemento considerado altamente
eficiente pela sua coragem e viva
inteligência". Cópia do relatório
está no Arquivo Público do Estado do Rio.
Da Alemanha, Olga foi para a
URSS. Tornou-se espiã do Exército Vermelho. Não foi contudo
nessa condição que foi escalada
para a viagem ao Brasil, e sim na
de guarda-costas de Prestes.
O Comintern engolira a análise
prestista de que as condições
amadureciam para uma revolução proletária no país. Militantes
de diversos países foram enviados
para a conspiração, financiada e
co-dirigida por Moscou, como
comprovou William Waack no livro "Camaradas" (1993).
Fracassou o levante de 1935,
quando Olga e Prestes já haviam
se tornado de fato marido e mulher. Rebeldes foram torturados e
mortos. Olga e Prestes seriam presos em março de 1936. Grávida,
ela se colocou à frente do marido
para impedir que atirassem nele.
Foram separados no prédio da
Polícia Central. Nunca mais se viram. Olga foi deportada em outubro para a Alemanha, onde teve a
filha e morreu em 1942 na câmara
de gás do Holocausto.
Prestes ficou preso até 1945,
quando, como chefe máximo do
então poderoso PCB, apoiou com
entusiasmo o mesmo Getúlio
Vargas que deu sua mulher de
presente a Adolf Hitler. Prestes
morreu em 1990. O velho comunista perdera o controle do seu
partido e se opunha ao PT.
Nos anos 30, Olga e Prestes foram típicos personagens de um
tempo de paixões. Arriscaram a
vida, e ela a perdeu, em nome do
ideal de mudar o mundo. Enquanto isso, o regime stalinista
que apoiavam exterminava milhões de pessoas na URSS.
(MM)
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