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LIVRO/LANÇAMENTO
"O CINEMA DA RETOMADA"
Lúcia Nagib reuniu depoimentos de 90 diretores
Obra transmite diversidade da produção nacional
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A palavra "diversidade",
tão usada a propósito do cinema brasileiro nos anos 90, logo
ocorre, à leitura dos depoimentos
de "O Cinema da Retomada", volume organizado por Lúcia Nagib
com depoimentos de 90 diretores
em atividade no período.
Diversidade não quer dizer pluralismo: o embate de idéias aqui
não é prioritário, até porque o
conjunto exprime um cinema que
tateia em busca de caminhos, manifesta a necessidade de forjar sua
identidade, de reencontrar seu
público, de optar por sistemas de
produção, técnicas, linguagens.
Nada está fechado: o livro transmite a impressão de um setor que
vive momento de grande vitalidade, fato que independe do maior
ou menor interesse de cada filme
em particular. É o processo que
importa. Tal processo não ocorre
num momento qualquer, mas basicamente entre 94 e 98, apogeu
do pensamento neoliberal no
Brasil. Trata-se de um cinema
pressionado pela crença no lucro.
É nesse particular que ele enfrenta sua maior contradição, à
qual os entrevistados não se mostram indiferentes: para competir
é preciso gastar muito; ao gastar
muito, perde-se a possibilidade
de ver o capital investido retornar.
E com isso voltamos ao ponto
de partida: o som pode ter melhorado muito, mas a distribuição
continua capenga; os roteiros podem ser caprichados, mas a bilheteria despencou de 1980 para cá.
Ou seja: que caminhos existem
para o cinema brasileiro? Fala-se
em uma indústria. Mas que indústria é essa? Indústria pode tanto significar produção contínua
(pensando em termos europeus)
ou indústria cultural (pensando
em termos norte-americanos).
Entre outras questões que se insinuam ao longo do livro, esta,
centenária, persiste: será o cinema, prioritariamente, arte ou indústria? A história do cinema no
Brasil demonstra que a opção industrial só fez dar com os burros
n'água. Considerando que, entre
nós, a TV supre o consumo de
massas, resta ao cinema duas opções: persistir como atividade artística, porém marginal, ou associar-se à TV. Caso essa hipótese se
mostre viável, resta saber em que
termos a associação pode se dar.
É sobre o terreno controverso,
espinhoso, mas cheio de perspectivas, que se movem os entrevistados desse livro oportuno, certamente o documento mais completo a respeito do modo como os
cineastas assumiram o desafio de
retomar a produção após o fechamento da Embrafilme, em 1990.
O Cinema da Retomada
Autor: Lúcia Nagib Editora: 34 Quanto: R$ 48 (528 págs.)
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