São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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LIVRO/LANÇAMENTO

"O CINEMA DA RETOMADA"

Lúcia Nagib reuniu depoimentos de 90 diretores

Obra transmite diversidade da produção nacional

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A palavra "diversidade", tão usada a propósito do cinema brasileiro nos anos 90, logo ocorre, à leitura dos depoimentos de "O Cinema da Retomada", volume organizado por Lúcia Nagib com depoimentos de 90 diretores em atividade no período.
Diversidade não quer dizer pluralismo: o embate de idéias aqui não é prioritário, até porque o conjunto exprime um cinema que tateia em busca de caminhos, manifesta a necessidade de forjar sua identidade, de reencontrar seu público, de optar por sistemas de produção, técnicas, linguagens.
Nada está fechado: o livro transmite a impressão de um setor que vive momento de grande vitalidade, fato que independe do maior ou menor interesse de cada filme em particular. É o processo que importa. Tal processo não ocorre num momento qualquer, mas basicamente entre 94 e 98, apogeu do pensamento neoliberal no Brasil. Trata-se de um cinema pressionado pela crença no lucro.
É nesse particular que ele enfrenta sua maior contradição, à qual os entrevistados não se mostram indiferentes: para competir é preciso gastar muito; ao gastar muito, perde-se a possibilidade de ver o capital investido retornar.
E com isso voltamos ao ponto de partida: o som pode ter melhorado muito, mas a distribuição continua capenga; os roteiros podem ser caprichados, mas a bilheteria despencou de 1980 para cá.
Ou seja: que caminhos existem para o cinema brasileiro? Fala-se em uma indústria. Mas que indústria é essa? Indústria pode tanto significar produção contínua (pensando em termos europeus) ou indústria cultural (pensando em termos norte-americanos).
Entre outras questões que se insinuam ao longo do livro, esta, centenária, persiste: será o cinema, prioritariamente, arte ou indústria? A história do cinema no Brasil demonstra que a opção industrial só fez dar com os burros n'água. Considerando que, entre nós, a TV supre o consumo de massas, resta ao cinema duas opções: persistir como atividade artística, porém marginal, ou associar-se à TV. Caso essa hipótese se mostre viável, resta saber em que termos a associação pode se dar.
É sobre o terreno controverso, espinhoso, mas cheio de perspectivas, que se movem os entrevistados desse livro oportuno, certamente o documento mais completo a respeito do modo como os cineastas assumiram o desafio de retomar a produção após o fechamento da Embrafilme, em 1990.


O Cinema da Retomada
    Autor: Lúcia Nagib Editora: 34 Quanto: R$ 48 (528 págs.)


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