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TELEVISÃO
Produção da série enfrenta dilemas na última temporada
Carrie não sabe como sair de cena
DO "NEW YORK TIMES"
"Case-se com Big! Case-se com
Big! Case-se com Big."
Sarah Jessica Parker está sentada em seu trailer do lado de fora
do Silvercup Studios, em Long Island City, Queens, onde "Sex and
the City" é filmado. Com uma sobrancelha erguida, ela canta o refrão que ouve a cada dia, mulheres implorando por um final de
conto de fadas para a série, que
começa sua temporada final, de
oito episódios, nos EUA, na HBO.
É um final que, ela sabe, comoveria metade de sua audiência e deixaria a outra metade furiosa.
"Quero só que Carrie fique feliz", diz, falando da personagem
que interpreta há seis temporadas. "Quero que sintam que ela
está bem. Mas é preciso cuidado,
porque temos de honrar as pessoas que pagam para nos receber
em suas casas, e muitas mulheres
que não acreditam que encontrar
um homem seja a origem da satisfação pessoal, e pensam que ficar
sozinhas é bom, certo e satisfatório, e que as famílias que criamos
podem nos realizar. E temos de
honrar aquilo que já fizemos. Não
podemos fracassar."
Ela está saindo um pouco do tema, mas é compreensível, até certo ponto. Encerrar uma série de
televisão duradoura é sempre um
desafio, que terá de ser enfrentado
por diversas delas neste ano, entre
as quais "Frazier" e "Friends".
Mas para "Sex and the City", a
amarra final da trama oferece um
dilema especialmente espinhoso.
Desde o começo, a série gira em
torno da questão: é possível ser feliz sem um parceiro romântico fixo? Não importa que rumo os roteiristas tenham escolhido, o episódio final será visto como uma
resposta a uma pergunta que Carrie Bradshaw mesma poderia ter
proposto, cigarro na mão, olhando pela janela de seu apartamento: na vida de uma mulher solteira, o que vale como final feliz?
"Eu não gosto muito da expressão "só faltam dois episódios'", diz
Michael Patrick King, um dos
produtores-executivos da série.
"Essa é a frase que mais me assusta quanto a possibilidade de que
as pessoas fiquem tão frenéticas
que, quando virem o episódio pela primeira vez, entrem em choque porque acabou."
Os roteiristas estão decididos a
manter segredo sobre suas soluções, ainda que certos elementos
já sejam conhecidos, como o fato
de que haverá cenas em Paris. Finais diferentes foram filmados
para impedir que o verdadeiro
chegue à imprensa.
Com dois terços da temporada
final exibidos no terceiro e quarto
trimestres do ano passado, parte
das conclusões da série já parece
determinada. Charlotte está feliz
em seu segundo casamento, acaba de se converter ao judaísmo e
está se tratando para poder ter bebês. Miranda, a advogada corporativa, tem um bebê, e retomou
um romance cálido e idiossincrático com o pai do menino. Samantha, a aventureira sexual do
seriado, uma espécie de super-heroína estilizada da promiscuidade
feliz, teria de enfrentar dúvidas
quanto à sua sobrevivência, na última temporada, segundo alguns
boatos. Mas parece improvável
que sucumba à febre do casamento, a despeito da devoção quase
canina de seu namorado modelo.
Isso deixa Carrie Bradshaw, a
heroína solteira da série, o alvo da
identificação de todos os fãs. Alternando coragem e covardia,
egoísmo e generosidade, Carrie
começou como criação quase autobiográfica de Candace Bushnell,
a glamourosa jornalista cuja coleção de colunas para o "New York
Observer" inspirou a série. Mas
sob a orientação de King e Parker,
Carrie se aprofundou e deixou para trás suas origens como uma
frágil antropóloga urbana, tornando-se uma complicada combinação: um personagem icônico
retratado na forma de indivíduo
idiossincrático.
Casar Carrie Bradshaw e dar-lhe
uma festa conjugal de final de
temporada aparentemente violaria a premissa central da série.
Mas deixá-la sem par também pode parecer decepcionante, e o
mesmo se aplica à opção por um
conceito falsamente audacioso de
vitória da autonomia, que pouco
combinaria com o personagem.
Todos querem estar representados nas cenas finais de "Sex and
the City", diz King. "Mulheres solteiras, casadas, casais não casados, mulheres mais velhas, caras
mais velhos que gostam de Samantha, meninas de 17 anos que
prestam atenção nos sapatos."
As discussões tomaram a sala
dos roteiristas, todos solteiros.
Jenny Brick, que escreve para a
série desde a primeira temporada,
diz que, com os roteiristas tantas
vezes usando situações de suas vidas para o programa, se sentem
particularmente envolvidos na
decisão quanto ao final. "Somos
um grupo muito emotivo", diz.
King tem um pesadelo quanto ao
final da série. "É aquela idéia de as
quatro se casando no Central
Park", diz, cerrando seu elegante
punho. "Não creio que eu poderia
forçar minhas mãos a digitar isso."
No Brasil, a série está na quinta
temporada, transmitida pelo
Multishow, e verá os capítulos finais apenas em maio.
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