|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Tragédia urbana escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes ganha encenação no Sesc Ipiranga com Georgette Fadel
"Gota d'Água" volta em diálogo com os "tempos sombrios"
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Trinta anos separam a primeira
montagem de "Gota d'Água", tragédia urbana de Chico Buarque e
Paulo Pontes, da releitura enxuta
que estréia hoje à noite no Sesc
Ipiranga, em São Paulo.
A Joana de Bibi Ferreira hoje é
vivida por Georgette Fadel. A direção de Gianni Ratto agora é de
Heron Coelho. Antes italiano,
aqui o palco é uma arena. Em vez
da duração extensa, a atual tem
uma hora e meia. Contudo, o contexto social, tão bem retratado
neste clássico do teatro musical
brasileiro, revela-se, ainda, atual.
"Começamos a desenhar o que
seria "Gota d'Água" hoje, desses
outros tempos sombrios. Descobrimos uma ressonância", conta
o diretor Heron Coelho, 28. "Tivemos que condensar o original, em
busca da espinha dorsal do texto,
que é a atualidade, a conexão com
os nossos tempos de guerra."
Com direção musical de Alessandro Pennezi, "Gota d'Água
-°Breviário" tem trilha incidental
tocada ao vivo. Em relação à linguagem, a montagem segue um
conceito naturalista. A busca é pelo simples. Exemplo é o uso da iluminação de Cibele Forjaz para ora
mostrar, ora esconder as personagens, o tempo todo em cena.
"É tudo diferente [do original].
Recorremos à simplicidade para
ficarmos centrados no texto", diz
o diretor. "Tem que compreender, dentro da proposta, que os
tempos são outros, é outra moçada. É um trabalho de resgate."
O contato de Coelho com o texto remonta ao último ano, quando ele dirigiu trechos da obra no
projeto "Em Cena, Ações!", do
Sesc Ipiranga. Foi lá também que
a atriz Georgette Fadel, 31, da Cia.
São Jorge de Variedades, interpretou Joana pela primeira vez.
"O texto tem uma métrica absurda, mas cabe na boca por ter
uma pegada cotidiana", diz Fadel.
Adaptação de "Medéia", de Eurípedes, a obra de Chico Buarque
e Paulo Pontes trata-se de um
poema com mais de 4.000 versos.
A cena se passa em conjunto habitacional carioca, a Vila do Meio-Dia. Joana, a "Medéia" brasileira,
envenena os filhos e se suicida para se vingar da traição do marido,
Jasão (Cristiano Tomiossi). Compositor, ele abandona mulher e filhos para se casar com Alma, filha
do empresário Creonte.
"Tenho tentado me colocar no
lugar dela [Joana] para entender
como ela fez o que fez", conta Fadel. "Tenho chafurdado na sombra do sentimento humano para
entender o mecanismo."
E viver uma personagem feita
para Bibi Ferreira pesa?
"Se eu deixar pesar, pesa. Nem
entro em cena. É na humildade
dos meus 31 anos, sabendo que
sou pessoa em construção e imperfeita [que eu interpreto]. Em
cada espetáculo faço em homenagem aos que fizeram antes, para
acrescentar uma nova visão. O
que trago para Joana é a minha
fragilidade, as minhas questões."
Gota d'Água
Quando: qua., às 21h; até 29/3
Onde: Teatro Sesc Ipiranga (r. Bom
Pastor, 822, SP, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quanto: R$ 3 a R$ 10
Texto Anterior: Marcelo Coelho: O marketing do sucesso e da penitência Próximo Texto: Família e amigos homenageiam teatrólogo Gianni Ratto em SP Índice
|