São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO

Tragédia urbana escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes ganha encenação no Sesc Ipiranga com Georgette Fadel

"Gota d'Água" volta em diálogo com os "tempos sombrios"

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Trinta anos separam a primeira montagem de "Gota d'Água", tragédia urbana de Chico Buarque e Paulo Pontes, da releitura enxuta que estréia hoje à noite no Sesc Ipiranga, em São Paulo.
A Joana de Bibi Ferreira hoje é vivida por Georgette Fadel. A direção de Gianni Ratto agora é de Heron Coelho. Antes italiano, aqui o palco é uma arena. Em vez da duração extensa, a atual tem uma hora e meia. Contudo, o contexto social, tão bem retratado neste clássico do teatro musical brasileiro, revela-se, ainda, atual.
"Começamos a desenhar o que seria "Gota d'Água" hoje, desses outros tempos sombrios. Descobrimos uma ressonância", conta o diretor Heron Coelho, 28. "Tivemos que condensar o original, em busca da espinha dorsal do texto, que é a atualidade, a conexão com os nossos tempos de guerra."
Com direção musical de Alessandro Pennezi, "Gota d'Água -°Breviário" tem trilha incidental tocada ao vivo. Em relação à linguagem, a montagem segue um conceito naturalista. A busca é pelo simples. Exemplo é o uso da iluminação de Cibele Forjaz para ora mostrar, ora esconder as personagens, o tempo todo em cena.
"É tudo diferente [do original]. Recorremos à simplicidade para ficarmos centrados no texto", diz o diretor. "Tem que compreender, dentro da proposta, que os tempos são outros, é outra moçada. É um trabalho de resgate."
O contato de Coelho com o texto remonta ao último ano, quando ele dirigiu trechos da obra no projeto "Em Cena, Ações!", do Sesc Ipiranga. Foi lá também que a atriz Georgette Fadel, 31, da Cia. São Jorge de Variedades, interpretou Joana pela primeira vez.
"O texto tem uma métrica absurda, mas cabe na boca por ter uma pegada cotidiana", diz Fadel.
Adaptação de "Medéia", de Eurípedes, a obra de Chico Buarque e Paulo Pontes trata-se de um poema com mais de 4.000 versos. A cena se passa em conjunto habitacional carioca, a Vila do Meio-Dia. Joana, a "Medéia" brasileira, envenena os filhos e se suicida para se vingar da traição do marido, Jasão (Cristiano Tomiossi). Compositor, ele abandona mulher e filhos para se casar com Alma, filha do empresário Creonte.
"Tenho tentado me colocar no lugar dela [Joana] para entender como ela fez o que fez", conta Fadel. "Tenho chafurdado na sombra do sentimento humano para entender o mecanismo."
E viver uma personagem feita para Bibi Ferreira pesa?
"Se eu deixar pesar, pesa. Nem entro em cena. É na humildade dos meus 31 anos, sabendo que sou pessoa em construção e imperfeita [que eu interpreto]. Em cada espetáculo faço em homenagem aos que fizeram antes, para acrescentar uma nova visão. O que trago para Joana é a minha fragilidade, as minhas questões."


Gota d'Água
Quando:
qua., às 21h; até 29/3
Onde: Teatro Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, SP, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quanto: R$ 3 a R$ 10


Texto Anterior: Marcelo Coelho: O marketing do sucesso e da penitência
Próximo Texto: Família e amigos homenageiam teatrólogo Gianni Ratto em SP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.