São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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O poder dos roteiristas

Após esvaziar o Globo de Ouro, greve dos autores dos EUA já causa dispensas na indústria e atrasa filmes, séries e o Oscar; sem acordo, piquetes continuam

Kathy Willens/Associated Press
A roteirista e atriz Tina Fey durante piquete em NY, anteontem


SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK

Muitos dos nova-iorquinos e dos turistas que circulavam por Times Square na última quarta, no horário do almoço, nem notaram que, no quarteirão da avenida Broadway entre as ruas 44 e 45, cerca de 200 pessoas participavam de um ordeiro e silencioso piquete grevista.
No espaço reservado para a manifestação, em frente ao prédio do grupo Viacom, que controla a Paramount e a MTV, roteiristas de cinema e TV marchavam lentamente com cartazes em punho, formavam pequenos grupos para conversar e tentavam se proteger das ocasionais rajadas de vento.
Um boneco inflável em forma de porco, com cifrões pelo corpo, simbolizava a suposta ganância dos conglomerados de entretenimento, como Viacom, Disney-ABC, Fox, Warner Bros., CBS e NBC-Universal, descritos em panfletos como os que "se recusam a discutir um acordo" com os roteiristas.
A discrição do evento contrasta com os prejuízos causados pela paralisação, iniciada em 5/11, e com a sua importância política, ao menos na avaliação de Michael Winship, 56, presidente da divisão Leste do Writers Guild of América (WGA), o sindicato norte-americano dos roteiristas.
Para Winship, que falou à Folha durante o piquete, a greve seria "o primeiro grande movimento trabalhista do século 21", por defender o valor do "trabalho mental" na economia digital. Pelo dissídio coletivo que vigorava até 31/10, os roteiristas recebiam 0,3% sobre o valor das vendas em DVD dos produtos que escreveram.
Para celebrar novo acordo, o sindicato quer 2,5% sobre as vendas em disco (DVD, HD-DVD ou Blu-Ray), bem como de streamings e downloads pela internet. Inflexível nesse ponto, que abriria precedentes, a Alliance of Motion Pictures and Television Producers (AMPTP), representante dos produtores, interrompeu as negociações e se recusa a retomá-las. O impasse forçou emissoras de TV a suspender programas e a exibir reprises de séries.

Prejuízos
No cinema, foram alterados cronogramas de filmes em pré-produção, projetos foram suspensos, e preparativos do Oscar estão atrasados. A mais longa greve dos roteiristas, em 1988, durou cinco meses e gerou à indústria do setor perdas estimadas em US$ 500 milhões.
Na atual paralisação, o WGA tem o apoio do Screen Actors Guild (SGA), o sindicato dos atores. A solidariedade se mostrou estratégica com a recusa destes em participar da cerimônia do Globo de Ouro, neste domingo. O esvaziamento da festa, organizada pelos correspondentes estrangeiros de Hollywood e transmitida pela NBC, vai gerar prejuízos de cerca de US$ 60 milhões, entre publicidade e direitos de transmissão a outros países, calcula Winship. "É mais que os 2,5% que nos pagariam neste ano."
A esperança do WGA é que o incidente ajude a convencer a AMPTP a reabrir negociações. Teme-se, porém, que os produtores, enfurecidos com o episódio, endureçam ainda mais.


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