São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Greve é exemplo para o mundo todo"

Para Michael Winship, do sindicato dos autores, "exigências dizem respeito à economia do século 21, e não só à do entretenimento'

Presidente de divisão da WGA imagina que movimento sirva de referência a diretores; acordo celebrado por David Letterman é "simbólico"

CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK

A programação da TV dos EUA se tornou curiosa vitrine do que significa o mundo do entretenimento sem roteiristas. Suspensos desde o início da greve, em novembro, os principais talk-shows retornaram à ativa em condições distintas.
Enquanto David Letterman celebrou acordo independente com seus roteiristas, que voltaram ao trabalho, Jay Leno e Jon Stewart estão por conta só deles mesmos e de seus produtores. A diferença de qualidade a favor do primeiro é sensível, reforçando a idéia -martelada pelo WGA, o sindicato dos roteiristas- de que os autênticos criadores dos programas são os profissionais que os escrevem.
Michael Winship, presidente da divisão Leste do WGA, crê que acordos isolados como os celebrados por Letterman e pela United Artists apontam para o fim do impasse, pois atendem as exigências feitas à AMPTP, a aliança dos produtores.
"Os parâmetros desses acordos são idênticos aos que tentamos estabelecer inicialmente nas negociações", diz Winship. "O entendimento com a United Artists, onde estão Tom Cruise e Paula Wagner, é especialmente simbólico. Foi numa situação como essa, de confronto entre artistas e produtores, que Charles Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D.W. Griffith fundaram o estúdio."
Satisfeito com a solidariedade dos atores, que decidiram boicotar a cerimônia do Globo de Ouro, Winship lembra que o Directors Guild of América (DGA), o sindicato dos diretores, poderá viver impasse similar ao dos roteiristas nas negociações com os produtores. "O dissídio coletivo dos diretores termina em 30 de junho, e a primeira rodada de negociações, marcada para iniciar na última segunda, foi adiada. Espero que o nosso movimento sirva como referência para o que pode ocorrer se não houver diálogo."
Segundo a "Variety", o mais prestigioso veículo de cobertura da indústria norte-americana do entretenimento, há uma "grande distância" entre o DGA e a AMPTP em relação a pontos-chave do dissídio, o que inviabilizaria ainda a realização de um primeiro encontro.
Entre as prioridades dos diretores, também estaria um aumento na remuneração pelas vendas em novas mídias. Eventual entendimento do DGA com a AMPTP sobre esse tópico poderia orientar contratos subseqüentes com o WGA e com o Screen Actors Guild (SGA), o sindicato dos atores, cujo acordo com os produtores também se encerra em 30/6.

"Interesse universal"
"O que acontece aqui é de interesse universal", diz Winship, para quem a greve é exemplo para roteiristas do mundo todo. "Nossas exigências dizem respeito à economia do século 21, e não só à do entretenimento. Cerca de 26% dos americanos assistiram a filmes ou programas pela internet em 2007."
Para ele, é "território inexplorado, com muito a crescer". "Se os produtores fazem dinheiro com isso, queremos nossa parte." A convicção não gera otimismo. "Não tenho previsão de quando a greve terminará. Gostaria que tivesse terminado ontem, porque é difícil para muita gente. Espero que os produtores percebam os danos que causam aos roteiristas, ao público e a eles mesmos."
Enquanto um acordo não vem, as demissões já rondam os estúdios. Nesta semana, a Warner anúnciou que fará neste mês mil dispensas temporárias -sem roteiros, seus funcionários estão ociosos. (SÉRGIO RIZZO)


Texto Anterior: O poder dos roteiristas
Próximo Texto: Entrevista: "Eles fazem de tudo para não dividir lucros"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.