São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/cinema/"O Suspeito"

Jogos do poder são malconduzidos em longa

CRÍTICO DA FOLHA

No espectro ideológico dos filmes recentes sobre a "guerra contra o terror" movida pela administração Bush, "O Suspeito" pertence à ala mais liberal, ao denunciar abusos do governo contra cidadãos estrangeiros e o recurso à tortura como forma de obter informações de segurança nacional.
Sua trama poderia ser extraída das páginas dos jornais no período posterior ao 11 de Setembro, mas é ficcional e caminha em duas frentes paralelas.
Uma delas, no Egito, nasce da tentativa de assassinato a um chefe de polícia local (Ygal Naor). Por acidente, uma das vítimas é agente da CIA.
A outra frente envolve um egípcio (Omar Metwally) que retorna aos EUA depois de viagem de negócios à África do Sul. Para seu azar, logo depois do tal atentado. Preso no aeroporto, desaparece dos registros oficiais e leva sua mulher (Reese Whiterspoon), cidadã norte-americana, ao desespero na tentativa de localizá-lo.
É nas entranhas da CIA, contudo, que se dá o embate-chave.
A vilã é a implacável diretora da agência (Meryl Streep), convicta de que a prisão de eventuais inocentes se justifica pela possibilidade de salvar "7.000 vidas em Londres" graças a uma informação obtida por meios condenáveis.
Seu antagonista é um agente administrativo (Jake Gyllenhaal) que trabalha no Cairo e, com a morte do colega, o substitui no jogo sujo disputado em parceria com o chefe de polícia.
O conhecimento do que ocorre nos porões, sob a chancela do governo norte-americano, o lança em crise de consciência.
Ao dispor dessa forma as peças sobre o tabuleiro, o diretor sul-africano Gavin Hood ("Infância Roubada") deixa claro qual é o posicionamento do filme. Talvez não precisasse exagerar, portanto, no uso de muletas dramáticas, como a ênfase no sofrimento de famílias.
A mulher do egípcio preso arbitrariamente está grávida, e a filha adolescente do chefe de polícia é mais autônoma do que ele gostaria. Na supremacia dos assuntos privados sobre os públicos, o conservadorismo cinematográfico se sobrepõe ao liberalismo político. (SR)

O SUSPEITO
Produção:
EUA/África do Sul, 2007
Direção: Gavin Hood
Com: Meryl Streep, Jake Gyllenhaal
Onde: estréia hoje nos cines Bristol, Unibanco Arteplex e circuito
Avaliação: regular


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Cinema/estréias - Crítica/"A Espiã": Verhoeven faz jogo com a descrença na narrativa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.