|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/cinema/"O Suspeito"
Jogos do poder são malconduzidos em longa
CRÍTICO DA FOLHA
No espectro ideológico
dos filmes recentes sobre a "guerra contra o
terror" movida pela administração Bush, "O Suspeito" pertence à ala mais liberal, ao denunciar abusos do governo
contra cidadãos estrangeiros e
o recurso à tortura como forma
de obter informações de segurança nacional.
Sua trama poderia ser extraída das páginas dos jornais no
período posterior ao 11 de Setembro, mas é ficcional e caminha em duas frentes paralelas.
Uma delas, no Egito, nasce da
tentativa de assassinato a um
chefe de polícia local (Ygal
Naor). Por acidente, uma das
vítimas é agente da CIA.
A outra frente envolve um
egípcio (Omar Metwally) que
retorna aos EUA depois de viagem de negócios à África do Sul.
Para seu azar, logo depois do tal
atentado. Preso no aeroporto,
desaparece dos registros oficiais e leva sua mulher (Reese
Whiterspoon), cidadã norte-americana, ao desespero na
tentativa de localizá-lo.
É nas entranhas da CIA, contudo, que se dá o embate-chave.
A vilã é a implacável diretora da
agência (Meryl Streep), convicta de que a prisão de eventuais
inocentes se justifica pela possibilidade de salvar "7.000 vidas em Londres" graças a uma
informação obtida por meios
condenáveis.
Seu antagonista é um agente
administrativo (Jake Gyllenhaal) que trabalha no Cairo e,
com a morte do colega, o substitui no jogo sujo disputado em
parceria com o chefe de polícia.
O conhecimento do que ocorre
nos porões, sob a chancela do
governo norte-americano, o
lança em crise de consciência.
Ao dispor dessa forma as peças sobre o tabuleiro, o diretor
sul-africano Gavin Hood ("Infância Roubada") deixa claro
qual é o posicionamento do filme. Talvez não precisasse exagerar, portanto, no uso de muletas dramáticas, como a ênfase
no sofrimento de famílias.
A mulher do egípcio preso arbitrariamente está grávida, e a
filha adolescente do chefe de
polícia é mais autônoma do que
ele gostaria. Na supremacia dos
assuntos privados sobre os públicos, o conservadorismo cinematográfico se sobrepõe ao liberalismo político.
(SR)
O SUSPEITO
Produção: EUA/África do Sul, 2007
Direção: Gavin Hood
Com: Meryl Streep, Jake Gyllenhaal
Onde: estréia hoje nos cines Bristol,
Unibanco Arteplex e circuito
Avaliação: regular
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Cinema/estréias - Crítica/"A Espiã": Verhoeven faz jogo com a descrença na narrativa Índice
|