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ANÁLISE
Diretor fundiu erotismo, revolta e poesia
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Não há nada mais equivocado
do que pensar Luis Buñuel como
um artista delirante, cuja obra seria marcada pelo niilismo e pela
gratuidade.
Como notaram críticos perspicazes como Octavio Paz, André
Bazin e Paulo Emilio Sales Gomes, em Buñuel o aparente desvario é lucidez, e a rebeldia é um imperativo moral.
"Ateu graças a Deus" (segundo
sua própria definição), Buñuel foi
entretanto profundamente marcado pelo imaginário católico medieval -fruto de sua formação
num colégio jesuíta-, que ele
passou a virar do avesso a partir
da leitura de Sade, aos 25 anos.
Esse universo filosófico e estético, feito de iconografia cristã e radicalismo sadiano, já estava incorporado em Buñuel quando ele
fez seu primeiro filme, o curta
"Um Cão Andaluz" (1928), em
parceria com Salvador Dalí.
Desde então, seu cinema atravessou várias fases, gêneros e condições de produção.
Grosso modo, a carreira de Buñuel divide-se em três grandes períodos: os anos heróicos do surrealismo, na França, quando realizou "Um Cão Andaluz" e "A
Idade do Ouro" (1930); a fase mexicana (1947-62); e o segundo período francês, quando conquistou
a consagração mundial com
obras como "Bela da Tarde"
(1967) e "O Discreto Charme da
Burguesia" (1972).
Entre essas fases, realizou dois
filmes capitais na Espanha: o documentário "Las Hurdes - Terra
sin Pan" (1932) e a obra-prima
"Viridiana" (1961).
O período mais sujeito a equívocos de interpretação foi o mexicano: durante muito tempo, muitos críticos o menosprezaram em
bloco, como uma capitulação de
Buñuel ao cinema comercial, da
qual só se salvavam "Nazarin",
"Los Olvidados" e "O Anjo Exterminador".
Aos poucos, com a ajuda de críticos como Bazin e François Truffaut, descobriu-se que Buñuel se
servira de gêneros como o melodrama e a comédia de costumes
para colocar nas telas sua ferocidade antiburguesa e sua irredutível poesia.
Hoje parece incontestável a coerência da obra de Buñuel, marcada pelo elogio radical do desejo, e
pelo ataque a todas as instituições
repressoras: o Estado, a religião, a
moral estabelecida.
Seu último filme foi "Esse Obscuro Objeto do Desejo". Buñuel
concebia a arte como hipnose -e
sabia praticá-la como ninguém.
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