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BUÑUEL
Eurochannel exibe ciclo às quartas à noite
especial para a Folha
Uma das diversões ao ver o cinema de Luis Buñuel é tentar adivinhar o significado de determinados elementos incluídos por ele
em seus filmes e exaustivamente
-algumas vezes de forma mirabolante- interpretados pelos especialistas em sua obra.
Alguns dos filmes podem ser
conferidos nas quartas à noite
deste mês, no Eurochannel
(TVA).
As obsessões de Buñuel se manifestam em pequenos detalhes,
incluídos sutilmente ao longo de
seus filmes. Tudo começa já em
"O Cão Andaluz" (1929), a obra
surrealista que escreveu a quatro
mãos com Salvador Dalí.
Ali aparece simbolizada a figura
do "Angelus", de Millet, inocente
quadro com camponeses que Dalí, Buñuel e os demais surrealistas
interpretavam como sendo representativa do louva-a-deus em pré-cópula: em seguida, a fêmea devorará o macho.
A própria imagem do olho sendo cortado teria sido inspirada
em um retrato de Buñuel feito por
Dalí. Pode-se reparar aí que a nuvem que aparece, ao fundo, pontuda, está exatamente na altura do
olho direito do cineasta, como penetrando-o.
Uma cena recorrente em Buñuel é o da mulher cosendo ou
bordando. Aparece em "Viridiana" (61), em "A Bela da Tarde"
(67) -quando o marido já está
na cadeira de rodas, Séverine (Catherine Deneuve) borda- e na
cena final de "Esse Obscuro Objeto do Desejo" (77).
Inspirada no quadro "A Rendeira", do holandês Vermeer, outro alvo da interpretação "paranóico-crítica" dos surrealistas, a
cena do bordado está associada à
culpa na obra de Buñuel, não se
sabe exatamente o por quê.
Há inúmeros outros detalhes
oníricos: o homem carregando o
saco que aparece ao fundo em
"Esse Obscuro..."; o Jesus Cristo
que ri de "A Via Láctea" (69); a cena da freira Viridiana despindo as
meias -Buñuel era um fetichista
confesso, embora se afirme um
"pervertido" apenas "teórico" em
suas memórias.
Toda essa gana de tentar explicar estas aparentes loucuras incomodava o cineasta. "A fúria de
compreender é uma das desgraças de nossa natureza", escreveu,
em "Meu Último Suspiro". Sobre
a cena do saco, por exemplo, diz
que a utilizou porque foi uma
"inspiração repentina".
"Por quê? Impossível dizê-lo, a
não ser que se caia nos clichês da
psicanálise ou de qualquer outra
explicação", disse Buñuel, que defendia: "Em algum lugar, entre o
acaso e o mistério, insinua-se a
imaginação, liberdade total do
homem".
(CYNARA MENEZES)
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