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Obra discute relação com artista
da Redação
A admiração que a família iraniana retratada em "Close Up"
sente por Mohsen Makhmalbaf
coexiste com o distanciamento
entre cineasta e público.
É essa mitificação do grande artista que Hosein Sabzian, personagem que interpreta a si mesmo
(a obra se baseia em um fato verídico), diz tentar combater ao passar-se pelo diretor iraniano.
"Queria tirar da cabeça deles a
impressão de que um diretor é diferente das outras pessoas. Queria
que eles compreendessem que o
verdadeiro artista está muito próximo ao público", afirma Sabzian,
durante seu julgamento, depois
de o disfarce ter sido revelado.
Makhmalbaf também expressou, em entrevista aos escritores
Ahmad Talebinejad e Houshang
Golmakani, sua permanente intenção de discutir a relação entre
a platéia e o cinema.
Ele conta a história de uma menina iraniana que lhe perguntou
qual era a diferença entre um cineasta e um ser humano. "Quero
ser ambos", afirma.
Questionado sobre a multidão
que foi participar dos testes para o
filme "Salaam, Cinema" ("Salve o
Cinema"), Makhmalbaf diz que
esses iranianos "representam
uma geração que gosta de ter esperança na vida, mas, quando eles
chegarem ao poder, agirão como
eu".
O processo cinematográfico
normalmente impõe uma barreira entre criadores e platéia difícil
de assimilar numa sociedade como a iraniana, em que a mãe do
acusado se utiliza de argumentos
religiosos e alega ser descendente
do profeta Muhammad (fundador do islamismo) para pedir a
atenuação da pena.
No Irã, onde a impessoalidade
se faz bem menos marcada que
no Ocidente, o repórter Hasan Farazmand, que cobre a prisão do
farsante, sai tocando a campainha
dos vizinhos da família enganada
em busca de um gravador.
"Em todos os meus filmes, há
temas como a importância da influência da cultura no comportamento humano e como ele varia",
explica Makhmalbaf, cujos filmes
que mais agradam a Sabzian, "O
Ciclista" e "O Casamento dos
Abençoados", destacam-se por
sua abordagem realista.
Dessa forma, o desemprego no
Irã e os "sofrimentos" confessos
do personagem real de "Close
Up" aparecem nessa obra de Abbas Kiarostami, em geral menos
crítico que Makhmalbaf.
(PAULO DANIEL FARAH)
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