São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2000


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Obra discute relação com artista

da Redação

A admiração que a família iraniana retratada em "Close Up" sente por Mohsen Makhmalbaf coexiste com o distanciamento entre cineasta e público.
É essa mitificação do grande artista que Hosein Sabzian, personagem que interpreta a si mesmo (a obra se baseia em um fato verídico), diz tentar combater ao passar-se pelo diretor iraniano.
"Queria tirar da cabeça deles a impressão de que um diretor é diferente das outras pessoas. Queria que eles compreendessem que o verdadeiro artista está muito próximo ao público", afirma Sabzian, durante seu julgamento, depois de o disfarce ter sido revelado.
Makhmalbaf também expressou, em entrevista aos escritores Ahmad Talebinejad e Houshang Golmakani, sua permanente intenção de discutir a relação entre a platéia e o cinema.
Ele conta a história de uma menina iraniana que lhe perguntou qual era a diferença entre um cineasta e um ser humano. "Quero ser ambos", afirma.
Questionado sobre a multidão que foi participar dos testes para o filme "Salaam, Cinema" ("Salve o Cinema"), Makhmalbaf diz que esses iranianos "representam uma geração que gosta de ter esperança na vida, mas, quando eles chegarem ao poder, agirão como eu".
O processo cinematográfico normalmente impõe uma barreira entre criadores e platéia difícil de assimilar numa sociedade como a iraniana, em que a mãe do acusado se utiliza de argumentos religiosos e alega ser descendente do profeta Muhammad (fundador do islamismo) para pedir a atenuação da pena.
No Irã, onde a impessoalidade se faz bem menos marcada que no Ocidente, o repórter Hasan Farazmand, que cobre a prisão do farsante, sai tocando a campainha dos vizinhos da família enganada em busca de um gravador.
"Em todos os meus filmes, há temas como a importância da influência da cultura no comportamento humano e como ele varia", explica Makhmalbaf, cujos filmes que mais agradam a Sabzian, "O Ciclista" e "O Casamento dos Abençoados", destacam-se por sua abordagem realista.
Dessa forma, o desemprego no Irã e os "sofrimentos" confessos do personagem real de "Close Up" aparecem nessa obra de Abbas Kiarostami, em geral menos crítico que Makhmalbaf.
(PAULO DANIEL FARAH)

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