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FESTIVAL DE BERLIM
Estréia mundial de Aluizio Abranches não convence
Brasileiro "As Três Marias" tem recepção modesta
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Berlim recebeu com frieza a estréia mundial de "As Três Marias", de Aluizio Abranches, ao
contrário do que aconteceu há
dois anos, quando o mesmo diretor estreou aqui "Um Copo de
Cólera". Antes da exibição do longa, Abranches revelou que, durante toda a realização do filme,
seu maior desejo "era voltar a Berlim". Não teve sorte desta vez.
Os aplausos surgiram modestos
já quando os créditos apareciam
na tela e se mantiveram diplomáticos. Metade da sala abandonou
o teatro e não acompanhou o debate que se seguiu à projeção,
com a presença de Marieta Severo, Júlia Lemmertz e outras pessoas envolvidas na produção.
O filme tinha muita expectativa,
pois nem mesmo as atrizes haviam assistido ao longa. Talvez a
razão para a frieza da recepção seja o problema de dramaturgia do
filme. Com ótimo elenco, uma
produção impecável e cheia de
efeitos especiais -ótimo que a
trilha sonora de um filme ambientado no sertão seja de música
eletrônica-, a trama não convence. As histórias das jovens que
vão atrás de matadores para vingar a morte do pai acabam muito
confusas e diminuem o belo efeito
visual de "As Três Marias".
Outro filme exibido anteontem
na mostra Panorama foi "Moro
no Brasil", de Mika Kaurismäki.
Foi recebido formalmente, com
poucos aplausos.
Possivelmente pela óbvia semelhança com "Buena Vista Social
Club", de Wim Wenders. A grande diferença é que Kaurismäki está falando dele mesmo. Sua busca
pela raiz do samba no país acaba
com o espaço que ele próprio
abriu, no Rio, para apresentar
grupos. Tal personalização diminui a força dos cantores e grupos
exibidos, como a Velha Guarda
da Mangueira.
Enquanto isso, na mostra competitiva, o destaque no sábado foi
"Oito Mulheres", de François
Ozon. É até agora o melhor já exibido e certamente vai levar algum
Urso para a França. O filme faz
um perfil de oito mulheres trancadas numa mansão com um homem morto. Todas são possíveis
culpadas, como num livro de
Agatha Christie. Mas tal trama é
apenas o motivo para Ozon construir um perfil de cada uma delas,
que cantam e dançam na produção. Entre elas, performances
inesquecíveis de Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e Fanny
Ardant. Um ótimo retrato do
"misterioso universo feminino",
segundo o próprio diretor.
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