São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2002

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FESTIVAL DE BERLIM

Estréia mundial de Aluizio Abranches não convence

Brasileiro "As Três Marias" tem recepção modesta

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Berlim recebeu com frieza a estréia mundial de "As Três Marias", de Aluizio Abranches, ao contrário do que aconteceu há dois anos, quando o mesmo diretor estreou aqui "Um Copo de Cólera". Antes da exibição do longa, Abranches revelou que, durante toda a realização do filme, seu maior desejo "era voltar a Berlim". Não teve sorte desta vez.
Os aplausos surgiram modestos já quando os créditos apareciam na tela e se mantiveram diplomáticos. Metade da sala abandonou o teatro e não acompanhou o debate que se seguiu à projeção, com a presença de Marieta Severo, Júlia Lemmertz e outras pessoas envolvidas na produção.
O filme tinha muita expectativa, pois nem mesmo as atrizes haviam assistido ao longa. Talvez a razão para a frieza da recepção seja o problema de dramaturgia do filme. Com ótimo elenco, uma produção impecável e cheia de efeitos especiais -ótimo que a trilha sonora de um filme ambientado no sertão seja de música eletrônica-, a trama não convence. As histórias das jovens que vão atrás de matadores para vingar a morte do pai acabam muito confusas e diminuem o belo efeito visual de "As Três Marias".
Outro filme exibido anteontem na mostra Panorama foi "Moro no Brasil", de Mika Kaurismäki. Foi recebido formalmente, com poucos aplausos.
Possivelmente pela óbvia semelhança com "Buena Vista Social Club", de Wim Wenders. A grande diferença é que Kaurismäki está falando dele mesmo. Sua busca pela raiz do samba no país acaba com o espaço que ele próprio abriu, no Rio, para apresentar grupos. Tal personalização diminui a força dos cantores e grupos exibidos, como a Velha Guarda da Mangueira.
Enquanto isso, na mostra competitiva, o destaque no sábado foi "Oito Mulheres", de François Ozon. É até agora o melhor já exibido e certamente vai levar algum Urso para a França. O filme faz um perfil de oito mulheres trancadas numa mansão com um homem morto. Todas são possíveis culpadas, como num livro de Agatha Christie. Mas tal trama é apenas o motivo para Ozon construir um perfil de cada uma delas, que cantam e dançam na produção. Entre elas, performances inesquecíveis de Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e Fanny Ardant. Um ótimo retrato do "misterioso universo feminino", segundo o próprio diretor.



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