São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2002

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Kaurismäki indaga o que é samba

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Por mais que pareça simples, o sujeito do título "Moro no Brasil" é composto (e caleidoscópico).
No documentário que o finlandês Mika Kaurismäki, 45, exibe hoje na mostra Panorama, do Festival de Berlim, não é apenas ele quem mora no Brasil -para onde se mudou há dez anos-, mas cada um dos artistas populares cujo trabalho o cineasta registra à guisa de fazer um inventário dos ritmos musicais brasileiros.
O desafio de mapear a música de extração popular no Brasil foi proposto a Kaurismäki pela produtora francesa Arte, a mesma que levou adiante o projeto "Buena Vista Social Club", de Wim Wenders. "Eles acharam que o Brasil também merecia ter um filme sobre sua música e que seria interessante isso ser feito por uma pessoa que não é nem estrangeira nem do lugar, como eu", conta.
Acertada a co-produção com a Alemanha e com o Brasil, por meio da TV Cultura, rapidamente o finlandês percebeu que a música brasileira não cabe num só filme. A solução foi adotar o viés subjetivo na seleção dos artistas. "Escolhi ser o narrador e apresentar os encontros que tive ao longo das viagens que fiz pelo Brasil e do tempo que permaneci aqui."
A narrativa se inicia por uma comunidade indígena de Pernambuco, na tentativa de remeter o espectador aos primórdios da música no país, e passa a seguir pela Bahia, traçando um painel de ritmos com uma pergunta de fundo: afinal o que é o samba?
A síntese fica reservada ao Rio de Janeiro, "onde o samba se sente em casa", de acordo com o documentarista, que entrevista representantes de sua "realeza", como a Velha Guarda da Mangueira e Walter Alfaiate, e expressões da nova geração, como Seu Jorge.
Os depoimentos do embolador Caju e do forrozeiro Jacinto Silva, que morreram pouco depois das gravações, adquiriram o caráter de registro histórico.
A possibilidade de dar sequência ao retrato da música do Brasil em outros filmes está sendo discutida com a TV Cultura, mas deve ser acomodada com duas produções de ficção que o cineasta tem em perspectiva. Na Rússia, filmará uma adaptação contemporânea de "Orfeu", sob o título de "Honey Baby". Em 2003, pretende ter Johnny Depp no papel de Descartes, em uma ficção histórica em torno do encontro do filósofo com a rainha da Suécia.


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