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Kaurismäki indaga o que é samba
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Por mais que pareça simples, o
sujeito do título "Moro no Brasil"
é composto (e caleidoscópico).
No documentário que o finlandês Mika Kaurismäki, 45, exibe
hoje na mostra Panorama, do
Festival de Berlim, não é apenas
ele quem mora no Brasil -para
onde se mudou há dez anos-,
mas cada um dos artistas populares cujo trabalho o cineasta registra à guisa de fazer um inventário
dos ritmos musicais brasileiros.
O desafio de mapear a música
de extração popular no Brasil foi
proposto a Kaurismäki pela produtora francesa Arte, a mesma
que levou adiante o projeto "Buena Vista Social Club", de Wim
Wenders. "Eles acharam que o
Brasil também merecia ter um filme sobre sua música e que seria
interessante isso ser feito por uma
pessoa que não é nem estrangeira
nem do lugar, como eu", conta.
Acertada a co-produção com a
Alemanha e com o Brasil, por
meio da TV Cultura, rapidamente
o finlandês percebeu que a música brasileira não cabe num só filme. A solução foi adotar o viés
subjetivo na seleção dos artistas.
"Escolhi ser o narrador e apresentar os encontros que tive ao longo
das viagens que fiz pelo Brasil e do
tempo que permaneci aqui."
A narrativa se inicia por uma
comunidade indígena de Pernambuco, na tentativa de remeter
o espectador aos primórdios da
música no país, e passa a seguir
pela Bahia, traçando um painel de
ritmos com uma pergunta de fundo: afinal o que é o samba?
A síntese fica reservada ao Rio
de Janeiro, "onde o samba se sente em casa", de acordo com o documentarista, que entrevista representantes de sua "realeza", como a Velha Guarda da Mangueira
e Walter Alfaiate, e expressões da
nova geração, como Seu Jorge.
Os depoimentos do embolador
Caju e do forrozeiro Jacinto Silva,
que morreram pouco depois das
gravações, adquiriram o caráter
de registro histórico.
A possibilidade de dar sequência ao retrato da música do Brasil
em outros filmes está sendo discutida com a TV Cultura, mas deve ser acomodada com duas produções de ficção que o cineasta
tem em perspectiva. Na Rússia,
filmará uma adaptação contemporânea de "Orfeu", sob o título
de "Honey Baby". Em 2003, pretende ter Johnny Depp no papel
de Descartes, em uma ficção histórica em torno do encontro do filósofo com a rainha da Suécia.
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