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MÚSICA
Artista carioca cria seu primeiro trabalho 100% autoral e fala sobre a interrupção de parceria com Roberto Carlos
Erasmo assume a liberdade e a solidão
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Erasmo Carlos, 62, consuma a
interrupção da histórica parceria
com Roberto Carlos: fato inédito,
as 12 faixas de seu novo disco,
"Santa Música", são compostas só
por ele, sozinho.
"O meu telefone continua o
mesmo, é só chamar", afirma,
reagindo à distância mantida por
Roberto desde a morte de sua
mulher, Maria Rita, em 1999. "Se
eu ligar, o chato sou eu. Então espero o momento dele."
Sem citar Roberto, explica o que
há de libertador em compor sozinho: "Você pode falar do que quiser, não depende do crivo do parceiro. Se quiser matar o personagem no final, você mata".
Enquanto espera um chamado,
Erasmo tem composto canções
que considera "mais negras do
que brancas". E cria um funk para
homenagear outro amigo distante, Tim Maia (1942-98).
Escrita como se fosse uma carta
ao amigo de adolescência, "Tim"
não evita o tema da morte.
"Quem sabe sai até um novo hit/
quando a gente se encontrar", ele
canta, melancólico. "Não tenho
frescura de falar desse assunto",
explica Erasmo.
Falando sobre liberdade de
compor, acaba comentando as diferenças entre criar em regime
militar e em democracia. "O que
dizem que é liberdade até hoje
não sei direito. Fui votar com não
sei quantos anos de idade."
Compara sua situação com a
dos Beatles: "Quando comecei
não era livre. Os Beatles sempre
foram livres, os antepassados deles foram livres. Aqui fomos fazendo como pudemos".
Outro tipo de liberdade que só
agora ele conquista é em relação à
indústria fonográfica em processo de desmonte. "Santa Música"
sai pela Indie Records, que acaba
de interromper contrato de distribuição com a multinacional Universal. É o primeiro disco totalmente independente de Erasmo.
Erasmo opina sobre a situação
de crise das gravadoras: "A culpada da pirataria é a própria indústria. Se morrer, foi porque ela se
matou, se suicidou".
Tentando definir sua trajetória,
o co-autor de cerca de 500 canções de Roberto Carlos volta a falar de liberdade. "Toda geração
primeiro xinga os pais, os professores, o sistema, depois a si própria. Aí não tem mais quem xingar e acaba falando de amor."
Disco pop com sotaques de
funk, discothèque, soul, rock e
reggae, "Santa Música" tem 11 faixas de amor -e mais "No Olho
do Furacão", sobre guerra e morte, composta na noite em que começou a Guerra do Iraque.
O jornalista Pedro Alexandre Sanches
viajou a convite da gravadora Indie
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