São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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DISCO/CRÍTICA

"Atitude", pede ele aos novos

DO ENVIADO AO RIO

"Atitude!", grita Erasmo Carlos enquanto canta para Tim Maia. Parece ser essa sua grande saudade: da atitude artística contestadora. Ele próprio sabe que já não a possui, mas é um jeito de dizer o que espera dos artistas de agora -e o que encontrou em alguns dos que tomou recentemente como parceiros (Los Hermanos, Max de Castro).
"Santa Música" é um disco em que Erasmo relembra seu passado individual mal notado, mas cheio de atitude. Mesmo sendo parceiro de Roberto Carlos, ele em outros tempos cantou (com discrição, é verdade) a anistia, as diretas-já, a democracia...
Agora inventa uma divindade para a música, seu modo de contestar a beatitude de RC. A religião perpassa "Santa Música", mesmo fingida de negação -é de sua co-autoria, também.
Atualiza a elegância simples que sempre ostentou como autor, cantando com mansidão o soul ("Calma, Baby"), o sentimento de inferioridade ("Cultura Poética"), o sexo ("Lua no Cio"), a morte ("Tim", "No Olho do Furacão").
Desabrigado de Roberto, pela primeira vez admite usar atributos que pareciam ser só do outro -a melancolia, principalmente.
Nunca nega a saudade do parceiro, como mostra uma canção fantasiada de balada de amor, mas com mais jeito de beijo torto a Roberto Carlos. "Talvez você me surpreenda/ que eu vou tentar surpreender você/ tropece nos seus passos/ caia nos meus braços", canta em "Dois em Um", feito criança que aprende a andar.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Santa Música    
Artista: Erasmo Carlos
Lançamento: Indie
Quanto: R$ 30, em média



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