|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO/CRÍTICA
"Atitude", pede ele aos novos
DO ENVIADO AO RIO
"Atitude!", grita Erasmo
Carlos enquanto canta para Tim Maia. Parece ser essa sua
grande saudade: da atitude artística contestadora. Ele próprio sabe
que já não a possui, mas é um jeito
de dizer o que espera dos artistas
de agora -e o que encontrou em
alguns dos que tomou recentemente como parceiros (Los Hermanos, Max de Castro).
"Santa Música" é um disco em
que Erasmo relembra seu passado individual mal notado, mas
cheio de atitude. Mesmo sendo
parceiro de Roberto Carlos, ele
em outros tempos cantou (com
discrição, é verdade) a anistia, as
diretas-já, a democracia...
Agora inventa uma divindade
para a música, seu modo de contestar a beatitude de RC. A religião perpassa "Santa Música",
mesmo fingida de negação -é de
sua co-autoria, também.
Atualiza a elegância simples que
sempre ostentou como autor,
cantando com mansidão o soul
("Calma, Baby"), o sentimento de
inferioridade ("Cultura Poética"),
o sexo ("Lua no Cio"), a morte
("Tim", "No Olho do Furacão").
Desabrigado de Roberto, pela
primeira vez admite usar atributos que pareciam ser só do outro
-a melancolia, principalmente.
Nunca nega a saudade do parceiro, como mostra uma canção
fantasiada de balada de amor,
mas com mais jeito de beijo torto
a Roberto Carlos. "Talvez você me
surpreenda/ que eu vou tentar
surpreender você/ tropece nos
seus passos/ caia nos meus braços", canta em "Dois em Um", feito criança que aprende a andar.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Santa Música
Artista: Erasmo Carlos
Lançamento: Indie
Quanto: R$ 30, em média
Texto Anterior: Música: Erasmo assume a liberdade e a solidão Próximo Texto: Indústria tem demissões e fechamento Índice
|