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ANÁLISE
Falta temperatura ao modelo independente
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A televisão pública -não
estatal nem comercial- tem
um lugar essencial a ocupar. Canais públicos teoricamente são reservatórios de experimentação,
alternativas à concorrência privada, seara de independência política. A BBC é um exemplo raro.
A TV Cultura de São Paulo é a
emissora brasileira que mais se
aproxima desse modelo. Durante
alguns poucos anos, na década de
90, a Cultura demonstrou que podia ser competitiva. Conquistou
público com uma programação
provocativa.
Desde então, imersa em uma
profunda crise financeira, institucional e de identidade, a emissora
perdeu audiência e influência. O
que impressiona na hora em que
se realiza o projeto longamente
adiado de reformular os programas jornalísticos.
A Cultura lançou anteontem
sua proposta de jornalismo público "independente do poder e do
mercado". O projeto é corajoso e
bem intencionado. Será que funciona? Tomara que sim. Ainda é
cedo para avaliar.
Segundo Marco Antônio Coelho Filho, diretor de Jornalismo
da emissora, a idéia é fazer um
jornalismo "que não apele para a
emoção". Na pauta, crimes, tragédias e acidentes não têm vez. A reportagem ao vivo também não. O
risco é cair em um extremo oposto ao sensacionalismo.
Reformulados, os dois telejornais da emissora são frios, longos,
permeados de matérias com intenção didática-explicativa. Na
última segunda-feira a pauta soava requentada, com assuntos já
extensamente tratados na imprensa escrita, falada e televisiva.
O "Diário Paulista" informava
que o Hospital das Clínicas não
vai mais tratar de casos de rotina.
No "Jornal da Cultura", os parlamentares ganharam extra para
trabalhar nas férias.
Denunciar a convocação extraordinária a essas alturas é quase como bater em cachorro morto. E não compensa o tom oficial
que ameaça o projeto. De um jornalismo independente espera-se
menos cobertura de eventos e discursos oficiais, mais investigação.
Vale a pena aguardar nomes como Paulo Markum e Luís Nassif
-colunista da Folha- ao longo
da semana. As séries de reportagens especiais prometem. O
anunciado -não no ar- ombudsman também.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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