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CRÍTICA/LIVRO
Biografia privilegia fofocas e esquece aviação
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O título desta biografia do
magnata Howard R. Hughes
(1905-1976) foi mudado para
aproveitar o lançamento do filme
de Martin Scorsese; o original era
apenas "Howard Hughes". Mas,
em vez de "O Aviador", seria melhor outro título: "O Fornicador".
O autor, Charles Higham, dá
um destaque sensacionalista à vida sexual do biografado, entrando em detalhes que dariam vergonha a uma revista de fofocas. Apesar de apresentar poucas provas,
insiste que Hughes era bissexual,
ao contrário de uma biografia rival, de Peter Harry Brown e Pat
Broeske, que nega o interesse dele
por sexo com homens.
"Seus hábitos sexuais eram variados. Preferia o intercurso intermamário -fazer amor entre os
seios da mulher- ou a felação à
penetração vaginal. Com os homens também preferia sexo oral.
Era um amante insensível, desapaixonado, procurando apenas o
controle", descreve Higham.
A lista de atrizes famosas que teriam ido para a cama com Hughes
é extensa: Katharine Hepburn,
Jean Harlow, Gingers Rogers, Jane Russell, Bette Davis. Já entre os
supostos casos homossexuais estariam Randolph Scott, Cary
Grant e Tyrone Power.
Hughes é um prato cheio para
biógrafos, especialmente os da variedade moderna, que procuram
vasculhar aspectos da vida íntima
dos biografados. É curioso que tenha sido vivido no cinema por
um galã como Leonardo DiCaprio, pois ele era um ser humano
asqueroso, repulsivo.
O filme pouco aproveitou das
revelações mais desagradáveis do
livro, além de tornar o magnata
uma espécie de rebelde visionário, algo que não era. Higham
conta toda a podridão -até demais, pois inclui boatos e especulações com pouca evidência.
Hughes esteve envolvido com
duas das principais indústrias
americanas, o cinema e a aviação.
Tinha distúrbios psicológicos sérios, como sua mania por limpeza
e o medo de germes. Viveu depois
como recluso. Era racista e anti-semita. Anticomunista ferrenho,
participou da caça às bruxas no
mundo do cinema. Ligou-se a alguns dos mais corruptos políticos
do século 20, como Richard Nixon, e os ditadores de Cuba, Fulgêncio Batista, e da Nicarágua,
Anastasio Somoza.
Higham é um jornalista e biógrafo especializado em Hollywood, também autor de uma biografia de Ava Gardner, atriz que
Hughes tentou levar para a cama.
O lado de aviação termina sendo,
ironicamente, uma das partes
mais fracas deste livro.
Hughes fez proezas como piloto. Mas foi um fracasso retumbante como industrial de aviação.
Nenhum dos aviões importantes
do conflito saiu da sua empresa.
Se a força aérea americana dependesse dele, japoneses e alemães teriam ganho a guerra, enquanto
Hughes perseguia atrizes, para
voar com elas, e fornicá-las.
O Aviador - A Vida Secreta de Howard Hughes
Autor: Charles Higham
Tradução: Alves Calado
Editora: Record
Quanto: R$ 59,90 (420 págs.)
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