São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

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CRÍTICA/LIVRO

Biografia privilegia fofocas e esquece aviação

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O título desta biografia do magnata Howard R. Hughes (1905-1976) foi mudado para aproveitar o lançamento do filme de Martin Scorsese; o original era apenas "Howard Hughes". Mas, em vez de "O Aviador", seria melhor outro título: "O Fornicador".
O autor, Charles Higham, dá um destaque sensacionalista à vida sexual do biografado, entrando em detalhes que dariam vergonha a uma revista de fofocas. Apesar de apresentar poucas provas, insiste que Hughes era bissexual, ao contrário de uma biografia rival, de Peter Harry Brown e Pat Broeske, que nega o interesse dele por sexo com homens.
"Seus hábitos sexuais eram variados. Preferia o intercurso intermamário -fazer amor entre os seios da mulher- ou a felação à penetração vaginal. Com os homens também preferia sexo oral. Era um amante insensível, desapaixonado, procurando apenas o controle", descreve Higham.
A lista de atrizes famosas que teriam ido para a cama com Hughes é extensa: Katharine Hepburn, Jean Harlow, Gingers Rogers, Jane Russell, Bette Davis. Já entre os supostos casos homossexuais estariam Randolph Scott, Cary Grant e Tyrone Power.
Hughes é um prato cheio para biógrafos, especialmente os da variedade moderna, que procuram vasculhar aspectos da vida íntima dos biografados. É curioso que tenha sido vivido no cinema por um galã como Leonardo DiCaprio, pois ele era um ser humano asqueroso, repulsivo.
O filme pouco aproveitou das revelações mais desagradáveis do livro, além de tornar o magnata uma espécie de rebelde visionário, algo que não era. Higham conta toda a podridão -até demais, pois inclui boatos e especulações com pouca evidência.
Hughes esteve envolvido com duas das principais indústrias americanas, o cinema e a aviação. Tinha distúrbios psicológicos sérios, como sua mania por limpeza e o medo de germes. Viveu depois como recluso. Era racista e anti-semita. Anticomunista ferrenho, participou da caça às bruxas no mundo do cinema. Ligou-se a alguns dos mais corruptos políticos do século 20, como Richard Nixon, e os ditadores de Cuba, Fulgêncio Batista, e da Nicarágua, Anastasio Somoza.
Higham é um jornalista e biógrafo especializado em Hollywood, também autor de uma biografia de Ava Gardner, atriz que Hughes tentou levar para a cama. O lado de aviação termina sendo, ironicamente, uma das partes mais fracas deste livro.
Hughes fez proezas como piloto. Mas foi um fracasso retumbante como industrial de aviação. Nenhum dos aviões importantes do conflito saiu da sua empresa. Se a força aérea americana dependesse dele, japoneses e alemães teriam ganho a guerra, enquanto Hughes perseguia atrizes, para voar com elas, e fornicá-las.


O Aviador - A Vida Secreta de Howard Hughes
 
Autor: Charles Higham
Tradução: Alves Calado
Editora: Record
Quanto: R$ 59,90 (420 págs.)


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