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Tecnológico
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Grosso modo, a seqüência é
mais ou menos assim: internet, Napster, milhões de downloads, Metallica, Courtney Love,
indústria do disco desesperada,
processos contra usuários de 15
anos, Napster fechado, dezenas
de "Napsters" surgindo, milhões
e milhões de downloads, iTunes,
iPod e a revista "Rip & Burn".
O último elo da cadeia da "imparável" e ainda imensurável revolução musical acaba de chegar
ao seu quinto número na Inglaterra, tem o "Extraia e Queime"
no título e se autoproclama a "A
nova "bíblia" musical para o século
21". E quem há de dizer que não é?
A "Burn", que neste mês dá a
capa para a festejada nova banda
Kasabian, é o produto mais bem
acabado para a geração MP3.
Traz matérias sobre bandas novas, sobre as antigas que (ainda)
interessam, fala de atuais tendências de cinema, cerca os principais
lançamentos de DVD, é esperta
em games. Mas não perde nunca
o foco do ser humano que não vive hoje sem seu computador, sem
suas conversas via MSN e celular.
Começou agressiva em seu primeiro número, no final de 2004.
Deu capa de estréia ao rapper
Eminem e anunciava tudo sobre
MP3 e "bootlegs". Estampava
uma manchete "Download This"
("Ouvimos 2.374 canções e encontramos 132 clássicos"). Chamava para a matéria "MP3 Knowledge" ("Como funciona. Onde
ir. Qual será o próximo passo"). E
anunciava um milhão de canções
grátis, numa promoção com o redivivo Napster, agora um "instrumento" de download comportadinho e pago.
No número dois, a "Burn" tirou
o "bootlegs" da capa, mas o recado à geração iPod continuava
bem explícito, seja em seu conceito ou na quantidade de textos,
ilustrações, exemplos e anúncios
dedicados ao tocador de MP3
campeão da Apple. A seção inicial, de notícias rápidas, foi batizada de "Upload" e entre outras coisas dá a dica de 60 minutos de
canções novas legais para você
baixar e ouvir em seu toca-MP3.
Como toda revista gringa, eles
divulgam uma parada. Mas de
download, não a de venda. É a
"The Official Download Chart",
com a lista das mais "baixadas"
músicas dos sites legais. A reboque vêm as paradas do Napster,
do iTunes e do Shazam.
O "show" é a seção de lançamentos. Tem a crítica, um comentário de letra, o faixa-a-faixa,
por que é importante ouvir tal CD
e... a lista das músicas que realmente interessam no disco e que
precisam do seu download.
Desnecessário dizer a quantidade de anúncios de toca-MP3s e de
acessórios para incrementar toca-MP3s, relógios com MP3, toca-CDs de carro com MP3, chaveiros
com MP3, celular com MP3...
Daft Punk
Minha sobrinha não tem conhecimento nenhum em inglês,
mas sabe bem o que é "cut", "paste", "rip", "scroll" e usa MSN como verbo.
É para ela e para milhares como
ela que a dupla francesa Daft
Punk deve ter feito "Technologic", uma das canções mais legais
de seu mais novo disco, "Human
After All", a ser lançado oficialmente em março, mas já tocado
graças ao mundo virtual.
A música, que pode ser o primeiro single do novo disco, traz o
vocal de uma garotinha dizendo
expressões como "Buy it, use it,
break it, fix it, trash it, change it,
upgrade it, zoom it, press it, erase
it, paste it, save it, load it, check it,
plug it, play it, burn it, rip it, drag
and drop it, zip - unzip it, surf it,
scroll it, turn it, leave it, stop - format it". É a voz da menina, falada
e não cantada, sob uma batida
disco-retrô-futurística de matar.
Coisa do Daft Punk. Se bobear,
minha sobrinha não vai largar o
CPM22 para ouvir pelo menos
uma vez "Technologic".
Dia dos Namorados
Lá, não aqui. A inglesa Kate
Moss, a modelo rock'n'roll, pagou
fiança de US$ 280 mil para soltar o
namorado-problema, guitarrista,
vocalista e viciado Pete Doherty
(ex-Libertines, atual Babyshambles) da cadeia, quatro dias enjaulado por roubo e chantagem.
A outra é que a gravadora
Rough Trade precisou vender
parte do passe do esperadíssimo
primeiro disco do Babyshambles
para a mega EMI para conseguir
levantar o dinheiro da fiança.
Outra história é que Doherty,
que no julgamento pode amargar
quatro anos de prisão, ameaçou
se matar se for condenado.
Big Brother Celebrity? Isso é que
é "hiper-reality show".
@ - lucio@uol.com.br
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