São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

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POPLOAD

Tecnológico

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Grosso modo, a seqüência é mais ou menos assim: internet, Napster, milhões de downloads, Metallica, Courtney Love, indústria do disco desesperada, processos contra usuários de 15 anos, Napster fechado, dezenas de "Napsters" surgindo, milhões e milhões de downloads, iTunes, iPod e a revista "Rip & Burn".
O último elo da cadeia da "imparável" e ainda imensurável revolução musical acaba de chegar ao seu quinto número na Inglaterra, tem o "Extraia e Queime" no título e se autoproclama a "A nova "bíblia" musical para o século 21". E quem há de dizer que não é?
A "Burn", que neste mês dá a capa para a festejada nova banda Kasabian, é o produto mais bem acabado para a geração MP3.
Traz matérias sobre bandas novas, sobre as antigas que (ainda) interessam, fala de atuais tendências de cinema, cerca os principais lançamentos de DVD, é esperta em games. Mas não perde nunca o foco do ser humano que não vive hoje sem seu computador, sem suas conversas via MSN e celular.
Começou agressiva em seu primeiro número, no final de 2004. Deu capa de estréia ao rapper Eminem e anunciava tudo sobre MP3 e "bootlegs". Estampava uma manchete "Download This" ("Ouvimos 2.374 canções e encontramos 132 clássicos"). Chamava para a matéria "MP3 Knowledge" ("Como funciona. Onde ir. Qual será o próximo passo"). E anunciava um milhão de canções grátis, numa promoção com o redivivo Napster, agora um "instrumento" de download comportadinho e pago.
No número dois, a "Burn" tirou o "bootlegs" da capa, mas o recado à geração iPod continuava bem explícito, seja em seu conceito ou na quantidade de textos, ilustrações, exemplos e anúncios dedicados ao tocador de MP3 campeão da Apple. A seção inicial, de notícias rápidas, foi batizada de "Upload" e entre outras coisas dá a dica de 60 minutos de canções novas legais para você baixar e ouvir em seu toca-MP3.
Como toda revista gringa, eles divulgam uma parada. Mas de download, não a de venda. É a "The Official Download Chart", com a lista das mais "baixadas" músicas dos sites legais. A reboque vêm as paradas do Napster, do iTunes e do Shazam.
O "show" é a seção de lançamentos. Tem a crítica, um comentário de letra, o faixa-a-faixa, por que é importante ouvir tal CD e... a lista das músicas que realmente interessam no disco e que precisam do seu download.
Desnecessário dizer a quantidade de anúncios de toca-MP3s e de acessórios para incrementar toca-MP3s, relógios com MP3, toca-CDs de carro com MP3, chaveiros com MP3, celular com MP3...

Daft Punk
Minha sobrinha não tem conhecimento nenhum em inglês, mas sabe bem o que é "cut", "paste", "rip", "scroll" e usa MSN como verbo.
É para ela e para milhares como ela que a dupla francesa Daft Punk deve ter feito "Technologic", uma das canções mais legais de seu mais novo disco, "Human After All", a ser lançado oficialmente em março, mas já tocado graças ao mundo virtual.
A música, que pode ser o primeiro single do novo disco, traz o vocal de uma garotinha dizendo expressões como "Buy it, use it, break it, fix it, trash it, change it, upgrade it, zoom it, press it, erase it, paste it, save it, load it, check it, plug it, play it, burn it, rip it, drag and drop it, zip - unzip it, surf it, scroll it, turn it, leave it, stop - format it". É a voz da menina, falada e não cantada, sob uma batida disco-retrô-futurística de matar. Coisa do Daft Punk. Se bobear, minha sobrinha não vai largar o CPM22 para ouvir pelo menos uma vez "Technologic".

Dia dos Namorados
Lá, não aqui. A inglesa Kate Moss, a modelo rock'n'roll, pagou fiança de US$ 280 mil para soltar o namorado-problema, guitarrista, vocalista e viciado Pete Doherty (ex-Libertines, atual Babyshambles) da cadeia, quatro dias enjaulado por roubo e chantagem.
A outra é que a gravadora Rough Trade precisou vender parte do passe do esperadíssimo primeiro disco do Babyshambles para a mega EMI para conseguir levantar o dinheiro da fiança.
Outra história é que Doherty, que no julgamento pode amargar quatro anos de prisão, ameaçou se matar se for condenado.
Big Brother Celebrity? Isso é que é "hiper-reality show".


@ - lucio@uol.com.br

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