São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

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CELEBRIDADE

Arquivo mostra respostas confidenciais de questionário feito aos 243 candidatos a júri de Michael Jackson

Pré-jurados já levaram filhos a Neverland

DA CALIFÓRNIA

Pelo menos cinco das 243 pessoas pré-selecionadas para o júri do caso contra Michael Jackson já levaram suas crianças ao rancho Neverland, a casa do músico, em Los Olivos, no litoral californiano. Os fac-símiles com as respostas confidenciais dadas pelos candidatos aos questionários distribuídos pelo juiz Rodney S. Melville constam de arquivo a que a Folha teve acesso.
Foram feitas 41 perguntas pela promotoria da cidade de Santa Maria, onde o julgamento acontece, e pela defesa do astro pop, acusado de ter molestado sexualmente um menino de 13 anos em 2003.
Os nomes foram omitidos, e cada potencial jurado foi identificado por um número. Em resposta à questão 39, se "Você ou alguém de sua família já esteve em Neverland", a candidata 243, uma analista de riscos de Santa Maria, escreveu: "Eu permiti que minha filha deficiente visitasse Neverland, mas o sr. Jackson não estava presente durante o passeio de sua escola".
Já a candidata 194, uma dona-de-casa de 49 anos que vive na cidade vizinha de Solvang, respondeu: "Um de meus filhos trabalha no rancho agora. O outro, de 15 anos, já foi a Neverland com um amigo de Michael para andar a cavalo e se divertir com eles".
Outras 62 pessoas disseram conhecer Michael Jackson, conhecer alguém que o conhece, ter visitado seu rancho ou conhecer alguém que já visitou o lugar. O número não chega a ser extraordinariamente alto, segundo especialistas ouvidos pela Folha, porque a base inicial era de 750 moradores desta região do Estado da Califórnia, Santa Clara, a meio caminho entre as cidades de Los Angeles e San Francisco, que tem como capital do condado (divisão administrativa) a cidade de Santa Maria e da qual faz parte Los Olivos, onde fica Neverland. E o parque de diversões que serve de residência ao cantor sempre foi a principal atração da área.
Assim, há o jurado de 70 anos que tem como amigo pessoal um tio de Jackson. Outro mantém amizade com um primo do músico. A professora que levou seus alunos ao lugar durante passeio num feriado. E outro ainda que trabalhou como bombeiro de meio período na fazenda do cantor. Dos 243, apenas seis são negros e cerca de um terço tem origem latino-americana, a maioria mexicana. As idades variam entre 19 anos e 80 anos, com uma média de 46 anos e 55% de mulheres. Mais de 80% disseram que sua primeira língua é o inglês, mas houve quem listasse espanhol, coreano e até o tagalo, um dialeto falado nas Filipinas.
Um número surpreendentemente alto respondeu "sim" à questão 31 ("Você, seus parentes ou amigos próximos já foram PRESOS ou ACUSADOS por algum crime -multas de trânsito não contam?"). "Eu estava com alguém que roubou algo que colocou em minha bolsa", disse a candidata número 10, uma professora de 38 anos. Três beiraram o racismo ao dizer "sim" também à questão 31 ("Acredita que seus sentimentos ou alguma experiência com pessoas de raças diferentes podem afetar sua habilidade para servir como júri imparcial e justo neste caso?").

Sete páginas
A especificidade das perguntas, que ocupam sete páginas, frente e verso, se justifica pelo chamado "efeito O.J. Simpson". Em 1995, no julgamento que atraiu mais mídia no país até então, o ex-jogador de futebol americano foi inocentado pelo júri no calor de outro caso, o de Rodney King, em que um ex-convicto também negro foi espancado pela polícia de Los Angeles numa ação flagrada por câmeras de TV, o que provocou passeatas e protestos de grupos anti-racismo no país inteiro.
A decisão de inocentar Simpson foi unânime, como pede a lei nesses casos, apesar de evidências fortes contra ele. Dois anos depois, numa ação civil, seria condenado a pagar indenização de US$ 33,5 milhões (cerca de R$ 87,3 milhões) por homicídio culposo e agressão dupla, mas por uma brecha legal a pena nunca chegou a ser aplicada.
Dessa vez, a promotoria deve se inclinar por jurados mais velhos, portanto menos volúveis ao status de celebridade do acusado, de orientação política mais conservadora, mais obedientes à autoridade (daí as perguntas sobre a relação com militares) e que tenham filhos, por razões óbvias.
Já a defesa precisa montar um time com formação universitária, liberais na política e em questões sexuais e de preferência solteiros. A questão racial é complicada: tanto pode beneficiar Michael Jackson, afinal de família afro-americana, quanto prejudicá-lo, depois da boataria, sempre negada pelo cantor, dando conta de seus esforços para clarear a própria pele.
O grupo que acaba de responder ao questionário passou pela primeira triagem do julgamento, em que 750 pessoas foram convocadas a participar da seleção que definirá quais serão os 12 jurados titulares e os oito reservas que decidirão o destino do rei do pop. Nesta segunda-feira, com base nas e a partir das respostas fornecidas, promotoria e defesa passarão a eliminar candidatos entre os 243 restantes.
Esta fase do processo pode levar até um mês, mas o juiz Melville tem se revelado um homem expedito nos procedimentos de sua corte. A fase anterior, em que 500 pessoas foram descartadas, estava prevista para durar 30 dias. Foi resolvida em apenas dois.
(SD)


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