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CELEBRIDADE
Arquivo mostra respostas confidenciais de questionário feito aos 243 candidatos a júri de Michael Jackson
Pré-jurados já levaram filhos a Neverland
DA CALIFÓRNIA
Pelo menos cinco das 243 pessoas pré-selecionadas para o júri
do caso contra Michael Jackson já
levaram suas crianças ao rancho
Neverland, a casa do músico, em
Los Olivos, no litoral californiano.
Os fac-símiles com as respostas
confidenciais dadas pelos candidatos aos questionários distribuídos pelo juiz Rodney S. Melville
constam de arquivo a que a Folha
teve acesso.
Foram feitas 41 perguntas pela
promotoria da cidade de Santa
Maria, onde o julgamento acontece, e pela defesa do astro pop, acusado de ter molestado sexualmente um menino de 13 anos em 2003.
Os nomes foram omitidos, e cada potencial jurado foi identificado por um número. Em resposta à
questão 39, se "Você ou alguém de
sua família já esteve em Neverland", a candidata 243, uma analista de riscos de Santa Maria, escreveu: "Eu permiti que minha filha deficiente visitasse Neverland,
mas o sr. Jackson não estava presente durante o passeio de sua escola".
Já a candidata 194, uma dona-de-casa de 49 anos que vive na cidade vizinha de Solvang, respondeu: "Um de meus filhos trabalha
no rancho agora. O outro, de 15
anos, já foi a Neverland com um
amigo de Michael para andar a
cavalo e se divertir com eles".
Outras 62 pessoas disseram conhecer Michael Jackson, conhecer alguém que o conhece, ter visitado seu rancho ou conhecer alguém que já visitou o lugar. O número não chega a ser extraordinariamente alto, segundo especialistas ouvidos pela Folha, porque a
base inicial era de 750 moradores
desta região do Estado da Califórnia, Santa Clara, a meio caminho
entre as cidades de Los Angeles e
San Francisco, que tem como capital do condado (divisão administrativa) a cidade de Santa Maria e da qual faz parte Los Olivos,
onde fica Neverland. E o parque
de diversões que serve de residência ao cantor sempre foi a principal atração da área.
Assim, há o jurado de 70 anos
que tem como amigo pessoal um
tio de Jackson. Outro mantém
amizade com um primo do músico. A professora que levou seus
alunos ao lugar durante passeio
num feriado. E outro ainda que
trabalhou como bombeiro de
meio período na fazenda do cantor. Dos 243, apenas seis são negros e cerca de um terço tem origem latino-americana, a maioria
mexicana. As idades variam entre
19 anos e 80 anos, com uma média
de 46 anos e 55% de mulheres.
Mais de 80% disseram que sua
primeira língua é o inglês, mas
houve quem listasse espanhol, coreano e até o tagalo, um dialeto falado nas Filipinas.
Um número surpreendentemente alto respondeu "sim" à
questão 31 ("Você, seus parentes
ou amigos próximos já foram
PRESOS ou ACUSADOS por algum crime -multas de trânsito
não contam?"). "Eu estava com
alguém que roubou algo que colocou em minha bolsa", disse a candidata número 10, uma professora de 38 anos. Três beiraram o racismo ao dizer "sim" também à
questão 31 ("Acredita que seus
sentimentos ou alguma experiência com pessoas de raças diferentes podem afetar sua habilidade
para servir como júri imparcial e
justo neste caso?").
Sete páginas
A especificidade das perguntas,
que ocupam sete páginas, frente e
verso, se justifica pelo chamado
"efeito O.J. Simpson". Em 1995,
no julgamento que atraiu mais
mídia no país até então, o ex-jogador de futebol americano foi inocentado pelo júri no calor de outro caso, o de Rodney King, em
que um ex-convicto também negro foi espancado pela polícia de
Los Angeles numa ação flagrada
por câmeras de TV, o que provocou passeatas e protestos de grupos anti-racismo no país inteiro.
A decisão de inocentar Simpson
foi unânime, como pede a lei nesses casos, apesar de evidências
fortes contra ele. Dois anos depois, numa ação civil, seria condenado a pagar indenização de US$
33,5 milhões (cerca de R$ 87,3 milhões) por homicídio culposo e
agressão dupla, mas por uma brecha legal a pena nunca chegou a
ser aplicada.
Dessa vez, a promotoria deve se
inclinar por jurados mais velhos,
portanto menos volúveis ao status de celebridade do acusado, de
orientação política mais conservadora, mais obedientes à autoridade (daí as perguntas sobre a relação com militares) e que tenham filhos, por razões óbvias.
Já a defesa precisa montar um
time com formação universitária,
liberais na política e em questões
sexuais e de preferência solteiros.
A questão racial é complicada:
tanto pode beneficiar Michael
Jackson, afinal de família afro-americana, quanto prejudicá-lo,
depois da boataria, sempre negada pelo cantor, dando conta de
seus esforços para clarear a própria pele.
O grupo que acaba de responder ao questionário passou pela
primeira triagem do julgamento,
em que 750 pessoas foram convocadas a participar da seleção que
definirá quais serão os 12 jurados
titulares e os oito reservas que decidirão o destino do rei do pop.
Nesta segunda-feira, com base
nas e a partir das respostas fornecidas, promotoria e defesa passarão a eliminar candidatos entre os
243 restantes.
Esta fase do processo pode levar
até um mês, mas o juiz Melville
tem se revelado um homem expedito nos procedimentos de sua
corte. A fase anterior, em que 500
pessoas foram descartadas, estava
prevista para durar 30 dias. Foi resolvida em apenas dois.
(SD)
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