São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

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MÚSICA

Novo disco de Nicola Conte remete a clássicos dos anos 50 da Blue Note

Produtor italiano faz jazz retrô e pós-modernista

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Discos velhos são objeto de culto. Hoje em dia, especialmente por músicos, produtores e DJs em busca de referências para seus novos trabalhos, o que faz com que os álbuns mais modernos dos nossos tempos sejam feitos pelas pessoas que mais conhecem o passado. Puro pós-modernismo retrô. Não deixa de ser altamente irônico, por exemplo, que um produtor italiano contemporâneo entenda a sonoridade clássica do jazz americano e da bossa brasileira melhor do que a maioria dos próprios músicos desses países.
Seguindo a equação "jazz dos anos 50 + bossa dos anos 60 + trilhas italianas dos anos 70", o produtor, compositor e músico Nicola Conte acaba de chegar ao seu segundo álbum, "Other Directions" (outras direções).
Lançado pela Blue Note -há mais de meio século a mais importante gravadora de jazz do mundo-, o disco remete, da capa aos sons, aos discos clássicos da gravadora dos anos 50.

Entrelinhas
Mesmo assim, Conte se vê mais como um vanguardista do que como um saudosista. "Eu não acho que o disco seja tradicional. É mais como um som clássico, mas eu não sou um tradicionalista em nada. Você tem que ler nas entrelinhas; eu acho que não há nenhum disco de hoje que soe como esse", analisa o músico.
Utilizando-se de instrumentação acústica, mas com uma certa concepção moderna, o álbum pode facilmente agradar os ouvintes de jazz mais caretas e os ávidos por novidades. Com solos bem desenvolvidos de piano, trompete e sax tenor, mas com baixos e baterias que buscam o groove certo para pistas de dança, as composições de Nicola Conte podem ser consideradas parte importante do novo e crescente movimento de "nu-jazz", que engloba novas visões do antigo jazz e conta com bandas como Cinematic Orchestra, Jazzanova e St. Germain, embora o trabalho de Conte seja mais explicitamente jazzístico que a maioria. Acaba de formar, por exemplo, um octeto para interpretar ao vivo as faixas do álbum. (Alô, Tim Festival.)
O disco de estréia do italiano, "Jet Sounds", foi lançado em 2000 (nos EUA, foi lançado como "Bossa per Due" em 2001) e trazia uma influência mais especificamente sessentista, quase easy listening.
"Naquela época, eu estava profundamente fascinado por filmes italianos dos anos 60 e começo dos 70, então o álbum retratava essas imagens e sons", diz. "Depois disso eu fiz muita coisa, e tudo me levava na direção do jazz. Eu tive que estudar música para entender o coração do estilo. Ser DJ, que é algo que eu adoro, não era era suficiente para criar o disco novo, precisava de mais, voltei a tocar guitarra seriamente."
A carreira do guitarrista, na verdade, teve início no começo dos anos 90, dez anos antes de seu primeiro álbum solo. Na época, fundou o movimento Fez, espécie de new wave da nova música italiana, com dezenas de talentosos músicos recriando o jazz e a bossa nova com estilo e originalidade.
Conte produziu os álbuns de conjuntos como Paolo Achenza Trio, Quartetto Moderno e Quintetto X, todos lançados pela descolada gravadora Schema, que se tornou o centro de toda a cena. Aos poucos, o músico foi se tornando um importante e respeitado produtor e DJ de remixes por toda a Europa. No começo dos anos 2000 se tornou conhecido também nos EUA, ao ter sua música "Bossa per Due" licenciada para um comercial de carro.
Em 2003 produziu o disco "Nicola Conte Apresenta Rosalia de Souza - Garota Moderna", da cantora brasileira radicada na Itália Rosalia de Souza. O disco soava mais perfeitamente inspirado pela clássica música carioca dos anos 60 do que qualquer disco feito por qualquer brasileiro nos últimos 30 anos. "Eu sou apaixonado por bossa nova e samba-jazz. Sendo um italiano, eu sinto a essência dessa música. Você consegue explicar exatamente por que você ama quem você ama? Acontece. Eu quase sinto como se fosse da zona sul do Rio...", explica.


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