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MÚSICA
Novo disco de Nicola Conte remete a clássicos dos anos 50 da Blue Note
Produtor italiano faz jazz retrô e pós-modernista
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Discos velhos são objeto de culto. Hoje em dia, especialmente
por músicos, produtores e DJs em
busca de referências para seus novos trabalhos, o que faz com que
os álbuns mais modernos dos
nossos tempos sejam feitos pelas
pessoas que mais conhecem o
passado. Puro pós-modernismo
retrô. Não deixa de ser altamente
irônico, por exemplo, que um
produtor italiano contemporâneo
entenda a sonoridade clássica do
jazz americano e da bossa brasileira melhor do que a maioria dos
próprios músicos desses países.
Seguindo a equação "jazz dos
anos 50 + bossa dos anos 60 + trilhas italianas dos anos 70", o produtor, compositor e músico Nicola Conte acaba de chegar ao seu
segundo álbum, "Other Directions" (outras direções).
Lançado pela Blue Note -há
mais de meio século a mais importante gravadora de jazz do
mundo-, o disco remete, da capa aos sons, aos discos clássicos
da gravadora dos anos 50.
Entrelinhas
Mesmo assim, Conte se vê mais
como um vanguardista do que
como um saudosista. "Eu não
acho que o disco seja tradicional.
É mais como um som clássico,
mas eu não sou um tradicionalista em nada. Você tem que ler nas
entrelinhas; eu acho que não há
nenhum disco de hoje que soe como esse", analisa o músico.
Utilizando-se de instrumentação acústica, mas com uma certa
concepção moderna, o álbum pode facilmente agradar os ouvintes
de jazz mais caretas e os ávidos
por novidades. Com solos bem
desenvolvidos de piano, trompete
e sax tenor, mas com baixos e baterias que buscam o groove certo
para pistas de dança, as composições de Nicola Conte podem ser
consideradas parte importante do
novo e crescente movimento de
"nu-jazz", que engloba novas visões do antigo jazz e conta com
bandas como Cinematic Orchestra, Jazzanova e St. Germain, embora o trabalho de Conte seja
mais explicitamente jazzístico
que a maioria. Acaba de formar,
por exemplo, um octeto para interpretar ao vivo as faixas do álbum. (Alô, Tim Festival.)
O disco de estréia do italiano,
"Jet Sounds", foi lançado em 2000
(nos EUA, foi lançado como
"Bossa per Due" em 2001) e trazia
uma influência mais especificamente sessentista, quase easy listening.
"Naquela época, eu estava profundamente fascinado por filmes
italianos dos anos 60 e começo
dos 70, então o álbum retratava
essas imagens e sons", diz. "Depois disso eu fiz muita coisa, e tudo me levava na direção do jazz.
Eu tive que estudar música para
entender o coração do estilo. Ser
DJ, que é algo que eu adoro, não
era era suficiente para criar o disco novo, precisava de mais, voltei
a tocar guitarra seriamente."
A carreira do guitarrista, na verdade, teve início no começo dos
anos 90, dez anos antes de seu primeiro álbum solo. Na época, fundou o movimento Fez, espécie de
new wave da nova música italiana, com dezenas de talentosos
músicos recriando o jazz e a bossa
nova com estilo e originalidade.
Conte produziu os álbuns de
conjuntos como Paolo Achenza
Trio, Quartetto Moderno e Quintetto X, todos lançados pela descolada gravadora Schema, que se
tornou o centro de toda a cena.
Aos poucos, o músico foi se tornando um importante e respeitado produtor e DJ de remixes por
toda a Europa. No começo dos
anos 2000 se tornou conhecido
também nos EUA, ao ter sua música "Bossa per Due" licenciada
para um comercial de carro.
Em 2003 produziu o disco "Nicola Conte Apresenta Rosalia de
Souza - Garota Moderna", da cantora brasileira radicada na Itália
Rosalia de Souza. O disco soava
mais perfeitamente inspirado pela clássica música carioca dos
anos 60 do que qualquer disco feito por qualquer brasileiro nos últimos 30 anos. "Eu sou apaixonado por bossa nova e samba-jazz.
Sendo um italiano, eu sinto a essência dessa música. Você consegue explicar exatamente por que
você ama quem você ama? Acontece. Eu quase sinto como se fosse
da zona sul do Rio...", explica.
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