São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

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CRÍTICA

Álbum busca referências no passado com ar cool do jazz

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Soando como o disco retro-vanguardista que realmente é, este "Other Directions" realmente mostra outras direções na música de Nicola Conte, mas na verdade é a continuação lógica de seu trabalho, que sempre buscou no passado as referências para o que fazer no futuro.
Consciente de sua importância, sem despretensão, o álbum traz em uma hora 11 composições do italiano, seis delas com letras (em inglês), mais duas canções tiradas de filmes pouco conhecidos dos anos 60, "All Gone", do cult inglês "The Servant" (no Brasil, "O Criado"), e "Le Depart", do ainda mais cult filme francês de mesmo nome, com trilha composta pelo jazzista polonês Krzysztof Komeda (autor da inesquecível trilha de "O Bebê de Rosemary").
Interpretado por representativos músicos italianos de jazz, como o pianista Pietro Lussu, o trombonista Gianluca Petrella e os saxofonistas Daniele Scannapieco e Rosario Giuliani, além do trompetista e cantor alemão Till Brönner, o disco já valeria, no mínimo, como um excelente panorama da atual cena jazzística da Itália. Mas é mais que isso, com ótimas composições, como a valsinha "A Time for Spring", a dançante "Kind of Sunshine" (que foi até lançada em single para DJs) e a quase lounge "Dharma Bums", levada por "badabas" cantados sobre vibrafone e trombone.
Influenciado principalmente pelo jazz europeu dos anos 60, o álbum tem todas as músicas levadas por piano, contrabaixo acústico e bateria, acompanhados alternadamente por instrumentos como trombone, trompete, sax (tenor e alto), flauta, vibrafone e bongôs. É a dose certa de sonoridade clássica com idéias modernas que só um produtor com muita noção histórica (leia-se colecionador de discos antigos) poderia conseguir.
Com diferentes cantoras convidadas, como Cristina Zavalloni, Lucia Minetti e Lisa Bassenge, o disco não é exclusivo para fãs de jazz: funciona muito bem na coleção de consumidores de eletrônica sossegados que servem de trilha para o jantar, como Thievery Corporation e Zero 7.
O fato de sair pela Blue Note ajuda na hora de ganhar seriedade com o público jazzístico e participar de festivais "sérios", além de ser bom para o moral. A intenção final, na qual ele se satisfaz plenamente, é funcionar como trilha de um filme nouvelle vague italiano, se isso existisse. Elementos europeus, alguns ritmos latinos, o ar cool do jazz americano dos anos 50, toques de bossa e canções bacanas de filmes obscuros, não tinha como dar errado. (RONALDO EVANGELISTA)


Other Directions
   
Artista: Nicola Conte
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 30, em média


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