|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Álbum busca referências no passado com ar cool do jazz
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Soando como o disco retro-vanguardista que realmente é,
este "Other Directions" realmente
mostra outras direções na música
de Nicola Conte, mas na verdade é
a continuação lógica de seu trabalho, que sempre buscou no passado as referências para o que fazer
no futuro.
Consciente de sua importância,
sem despretensão, o álbum traz
em uma hora 11 composições do
italiano, seis delas com letras (em
inglês), mais duas canções tiradas
de filmes pouco conhecidos dos
anos 60, "All Gone", do cult inglês
"The Servant" (no Brasil, "O Criado"), e "Le Depart", do ainda
mais cult filme francês de mesmo
nome, com trilha composta pelo
jazzista polonês Krzysztof Komeda (autor da inesquecível trilha de
"O Bebê de Rosemary").
Interpretado por representativos músicos italianos de jazz, como o pianista Pietro Lussu, o
trombonista Gianluca Petrella e
os saxofonistas Daniele Scannapieco e Rosario Giuliani, além do
trompetista e cantor alemão Till
Brönner, o disco já valeria, no mínimo, como um excelente panorama da atual cena jazzística da
Itália. Mas é mais que isso, com
ótimas composições, como a valsinha "A Time for Spring", a dançante "Kind of Sunshine" (que foi
até lançada em single para DJs) e a
quase lounge "Dharma Bums",
levada por "badabas" cantados
sobre vibrafone e trombone.
Influenciado principalmente
pelo jazz europeu dos anos 60, o
álbum tem todas as músicas levadas por piano, contrabaixo acústico e bateria, acompanhados alternadamente por instrumentos
como trombone, trompete, sax
(tenor e alto), flauta, vibrafone e
bongôs. É a dose certa de sonoridade clássica com idéias modernas que só um produtor com
muita noção histórica (leia-se colecionador de discos antigos) poderia conseguir.
Com diferentes cantoras convidadas, como Cristina Zavalloni,
Lucia Minetti e Lisa Bassenge, o
disco não é exclusivo para fãs de
jazz: funciona muito bem na coleção de consumidores de eletrônica sossegados que servem de trilha para o jantar, como Thievery
Corporation e Zero 7.
O fato de sair pela Blue Note
ajuda na hora de ganhar seriedade com o público jazzístico e participar de festivais "sérios", além
de ser bom para o moral. A intenção final, na qual ele se satisfaz
plenamente, é funcionar como
trilha de um filme nouvelle vague
italiano, se isso existisse. Elementos europeus, alguns ritmos latinos, o ar cool do jazz americano
dos anos 50, toques de bossa e
canções bacanas de filmes obscuros, não tinha como dar errado.
(RONALDO EVANGELISTA)
Other Directions
Artista: Nicola Conte
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 30, em média
Texto Anterior: Música: Produtor italiano faz jazz retrô e pós-modernista Próximo Texto: Memória: Jazz está órfão do órgão de Jimmy Smith Índice
|