São Paulo, quarta, 11 de fevereiro de 1998

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DISCOS CRÍTICA
Verve reedita clássicos

CARLOS CALADO
especial para a Folha

A PolyGram acaba de importar dos EUA outro suplemento de CDs da série Master Edition -um novo formato criado pelo selo Verve para reeditar destaques de seu conceituado catálogo de jazz.
Com simpáticas capas de papel, que reproduzem as velhas edições em vinil, os CDs da série trazem gravações restauradas com tecnologia digital de alta resolução.
Além de oferecer faixas-extras (algumas nunca antes lançadas), o requinte da Master Edition também se estende aos encartes, que acrescentam fotos inéditas e textos analíticos aos designs originais desses álbuns.
Estrelados pelo pianista Bill Evans, pela orquestra de Count Basie e pela dupla Charlie Parker e Dizzy Gillespie, os três CDs do pacote representam pontos altos do jazz desenvolvido entre as décadas de 30 e 60, nos EUA.
Apesar de ter sido gravado já em 1955, o álbum "April in Paris", da Count Basie Orchestra, está inegavelmente ligado à estética dançante do swing e das "big bands", que dominaram o cenário jazzístico até meados dos anos 40.
Um dos maiores hits da orquestra, a faixa-título indica o alto grau de sofisticação alcançado por Basie e suas "feras". O inovador arranjo de Wild Bill Davis, para a canção de Vernon Duke, é realçado pela máquina de swing comandada por Basie.
E para os fanáticos por essa orquestra, a boa notícia: essa edição inclui sete versões alternativas de faixas como "Corner Pocket", "Magic", "Midgets", "What Am Here For" e "April in Paris".
Dois responsáveis indiretos pelo ostracismo que encobriu as big bands foram justamente o saxofonista Charlie Parker (1920-1955) e o trompetista Dizzy Gillespie (1917-1993), músicos essenciais na criação do "bebop", o nervoso estilo que inaugurou o jazz moderno, em meados dos anos 40.
Exibindo gravações realizadas em 1950, o CD "Bird and Diz" revive a irreverência e a grande dose de inventividade que gerou o "bebop" -estampados nos solos incandescentes de Parker e Gillespie, em faixas como "Bloomdido" ou "An Oscar for Treadwell".
Quatro diferentes versões de "Leap Frog", três de "Relaxin' with Lee" e duas de "Mohawk" revelam escancaradamente como a liberdade nos improvisos era essencial para os "beboppers".
Liberdade também era um conceito central na música de Bill Evans (1929-1980), talvez o pianista de jazz mais cultuado durante as últimas três décadas.
Em 1963, quando foi lançado, o álbum "Conversations with Myself" provocou muita polêmica. Os mais puristas não aceitavam a idéia de um pianista tocando diferentes vozes, graças à hoje costumeira técnica do "overdub" (que permite sobrepor outras gravações à inicial).
Combinando invenção e lirismo, faixas como "Round about Midnight", "Stella by Starlight" e "Bemsha Swing" provam que a idéia de Evans não era ludibriar o ouvinte, mas apenas tocar em trio consigo mesmo. Mais uma vez os puristas radicais trocaram música de qualidade por preconceito.

Disco: Conversations with Myself
Artista: Bill Evans

Disco: Bird and Diz
Artistas: Charlie Parker e Dizzy Gillespie

Disco: April in Paris
Artista: Count Basie Orchestra
Lançamentos: Verve/PolyGram (importados)
Quanto: R$ 22, cada CD, em média



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