|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Os elétrons da música
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
Fossem outras as eras em que vivemos, Iara Lee e seus parceiros
nesse projeto "Architettura" seriam lançados à fogueira em praça
pública sem piedade. Heresia das
mais impuras seria o motivo.
Como se atrevem a sonorizar um
prédio e uma estação de trem? Como ousam "tocar" construções? É
uma audácia quase inacreditável
mesmo nos dias atuais.
Mas nada mais é do que uma
evolução natural do casamento entre música e matemática, existente
desde os tempos de Pitágoras e
suas descobertas de harmonias e
escalas e extremada aqui.
É o caso do disco "Waterloo Terminal", a estação de trem londrina
que liga Paris à capital inglesa pelo
Eurostar, em que mil fotos do terminal foram processadas no computador de Tetsu Inoue, que matematicamente foram transformadas em sons, ritmos, algoritmos.
É possível, num dos raros momentos de não-abstração, escutar
por exemplo o que seria o barulho
do trem e vozes ao fundo, reprocessados, com texturas várias, na
música (?) "Room FX".
Os grandes arcos, aços inoxidáveis, vidros, e tudo mais que concerne à estação foram traduzidos e
alterados eletronicamente- numa quase literalidade impressionante. As cócegas que por ventura
atingem o tímpano ao ouvir o disco são o que mais próximo pode-se
chegar ao barulho do movimento
de elétrons -se é que há.
Um pouco mais "digerível" para
os ouvidos é o disco "Tower of
Winds", a torre do vento, localizada na cidade de Yokohama, no Japão. Há melodias e ritmos mais fáceis e identificáveis, quase dançantes, mas é igualmente perturbador.
O grego Savvas Ysatis e Taylor
Deupree captaram momentos da
torre, uma construção cilíndrica
ultramoderna, que de dia é uma
mera torre de metal e à noite ganha
diversos tipos de iluminação com
suas 1.280 lâmpadas e 12 anéis de
néon em toda sua extensão.
As luzes são controladas por
computador e mudam de acordo
com a velocidade do vento, barulho exterior e iluminação natural.
Com tantas mudanças na fachada, as músicas receberam o nome
do dia e da hora em que foram
"captadas": "Dec.19 11:57PM Magic Tower of Magic", "Jan.2 3AM
Spiraling against Anything" etc.
Não foi usado nenhum instrumento, nem sintetizador, para chegar às músicas -isso é bruxaria
pesada-, apenas o mouse.
Os discos extrapolam uma barreira tecnológico-musical, experimentos que ainda hoje podem ser
chamados de futuristas, um porvir
cedo demais talvez. Será mesmo?
Discos: Waterloo Terminal, de Tetsu Inoue, e Tower of Winds, de Savvas Ysatis e Taylor Deupree
Lançamento: Caipirinha Music
Onde encomendar: www.caipirinha.com
Texto Anterior: "Architettura" constrói a nova música concreta Próximo Texto: Tower os winds Índice
|