São Paulo, Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 1999
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RÁDIO
Diretor admite "pressões da sociedade"
Governo do DF tira programa gay do ar

WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

Às vésperas de completar um ano no ar, o programa "Múltipla Escolha", dirigido ao público GLS, veiculado pela rádio do governo do Distrito Federal, Cultura FM, foi retirado da grade de programação da emissora.
O fim do programa coincidiu com a troca de governo. Saiu o petista Cristovam Buarque, que apoiava abertamente movimentos de minorias, e entrou o peemedebista Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal, católico conservador, cujo vice é um pastor evangélico, Benedito Domingos.
O criador, diretor e apresentador do programa, Enilson Ferreira Bastos, 36, o DJ Lagartixa, aponta pressão política e de grupos religiosos como causa do fim do programa.
"O programa sempre teve um tom crítico. Se acontecia algum fato com uma visão distorcida da homossexualidade, a gente respondia. Lutávamos contra o preconceito", disse Lagartixa. Ele integra o grupo gay Estruturação.
O "Múltipla Escolha" foi ao ar por 51 semanas, durante uma hora, sempre aos sábados à noite.
Segundo Lagartixa, durante esse tempo houve apenas dois telefonemas de ouvintes contrários ao programa: uma mulher que o classificou de "imoral e indecente" e um rapaz que devolveu um disco sorteado, para não ter seu nome vinculado a um programa homossexual.
O programa completaria um ano no dia 28 de janeiro. A nova direção assumiu a rádio e anunciou que estava estudando um novo dia e horário para o "Múltipla Escolha". Acabou decidindo pela extinção pura e simples.
O programa misturava música com informação e dava dicas sobre assuntos de interesse da comunidade GLS, como, por exemplo, sexo seguro.
No último programa, no dia 25 de janeiro, Lagartixa criticou deputados da bancada evangélica que teriam trocado o voto a favor do ajuste fiscal para que o governo não colocasse em pauta o projeto que estabelece a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, da ex-deputada federal Marta Suplicy (PT-SP).

"Pressão da sociedade"
O diretor da rádio Cultura, Diógenes Costa Barbosa, 43, disse à Folha que não foi por motivação política ou religiosa que o programa foi retirado do ar, embora admita que tenha havido "pressão da sociedade" pelo seu fim.
"A rádio não irá mais privilegiar religiões, opções sexuais, cor ou raça de qualquer segmento", afirmou Barbosa.
"Não vou fazer da rádio um palanque, mas tocar blues, jazz, MPB e funk."

Sem polêmicas
Barbosa disse que o "Múltipla Escolha" não se enquadra na nova linha de programação da emissora porque ele desconhece "um estilo chamado "música gay'". "Desconheço. Tem para vender?", questiona.
"A nova programação da rádio passa por não gerar polêmicas. Antes, no outro governo, o jornalismo e a discussão eram o forte, agora a música passa a ser o forte. Vamos trabalhar tendências musicais", afirmou Barbosa.


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