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RÁDIO
Diretor admite "pressões da sociedade"
Governo do DF tira programa gay do ar
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
Às vésperas de completar um
ano no ar, o programa "Múltipla
Escolha", dirigido ao público GLS,
veiculado pela rádio do governo
do Distrito Federal, Cultura FM,
foi retirado da grade de programação da emissora.
O fim do programa coincidiu
com a troca de governo. Saiu o petista Cristovam Buarque, que
apoiava abertamente movimentos
de minorias, e entrou o peemedebista Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal, católico
conservador, cujo vice é um pastor
evangélico, Benedito Domingos.
O criador, diretor e apresentador
do programa, Enilson Ferreira
Bastos, 36, o DJ Lagartixa, aponta
pressão política e de grupos religiosos como causa do fim do programa.
"O programa sempre teve um
tom crítico. Se acontecia algum fato com uma visão distorcida da homossexualidade, a gente respondia. Lutávamos contra o preconceito", disse Lagartixa. Ele integra
o grupo gay Estruturação.
O "Múltipla Escolha" foi ao ar
por 51 semanas, durante uma hora, sempre aos sábados à noite.
Segundo Lagartixa, durante esse
tempo houve apenas dois telefonemas de ouvintes contrários ao programa: uma mulher que o classificou de "imoral e indecente" e um
rapaz que devolveu um disco sorteado, para não ter seu nome vinculado a um programa homossexual.
O programa completaria um ano
no dia 28 de janeiro. A nova direção assumiu a rádio e anunciou
que estava estudando um novo dia
e horário para o "Múltipla Escolha". Acabou decidindo pela extinção pura e simples.
O programa misturava música
com informação e dava dicas sobre
assuntos de interesse da comunidade GLS, como, por exemplo, sexo seguro.
No último programa, no dia 25
de janeiro, Lagartixa criticou deputados da bancada evangélica
que teriam trocado o voto a favor
do ajuste fiscal para que o governo
não colocasse em pauta o projeto
que estabelece a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, da ex-deputada federal Marta Suplicy
(PT-SP).
"Pressão da sociedade"
O diretor da rádio Cultura, Diógenes Costa Barbosa, 43, disse à
Folha que não foi por motivação
política ou religiosa que o programa foi retirado do ar, embora admita que tenha havido "pressão da
sociedade" pelo seu fim.
"A rádio não irá mais privilegiar
religiões, opções sexuais, cor ou
raça de qualquer segmento", afirmou Barbosa.
"Não vou fazer da rádio um palanque, mas tocar blues, jazz, MPB
e funk."
Sem polêmicas
Barbosa disse que o "Múltipla
Escolha" não se enquadra na nova
linha de programação da emissora
porque ele desconhece "um estilo
chamado "música gay'". "Desconheço. Tem para vender?", questiona.
"A nova programação da rádio
passa por não gerar polêmicas.
Antes, no outro governo, o jornalismo e a discussão eram o forte,
agora a música passa a ser o forte.
Vamos trabalhar tendências musicais", afirmou Barbosa.
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