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JAPÃO
'Kanzo Sensei' é seu mais recente trabalho
Shohei Imamura passa país a limpo
da Equipe de Articulistas
"Kanzo Sensei", último trabalho do diretor japonês Shohei Imamura, foi quase unanimemente considerado pela crítica francesa um dos dez melhores filmes de 1998. E continua atraindo público aos cinemas franceses, quando se esperava que o velho diretor, autor
de uma vasta obra iniciada nos
anos 50 e consagrado pela segunda vez com a Palma de Ouro com "A Enguia", tivesse agora o direito de descansar.
Mas Imamura, embora vítima de uma doença crônica que
o obriga a passar boa parte do
tempo num hospital, retorna
com uma obra vigorosa, que
não se limita a repetir velhas
fórmulas, mas, ao contrário,
promove com notável virtuosismo uma espécie de pot-pourri dos gêneros prediletos
do cinema japonês, desde o período da guerra até os nossos
dias, para superá-los.
O filme é antes de tudo um
drama do homem comum, típico "shomingeki", como se
costumava dizer nos anos 40 e
50, quando o cinema se aplicava em enfocar o japonês incorruptível e fiel a seus princípios
morais, apesar das dificuldades
financeiras.
Trata-se da história de um
médico de província que, no final da Segunda Guerra, não
mede esforços para tratar seus
pacientes miseráveis, nos quais
constata um recorrente mal do
fígado, o que lhe vale o apelido
de Doutor Fígado, ou Kanzo
Sensei. Humano e solidário, o
médico não teme o férreo regime militar e abriga em sua própria casa um prisioneiro de
guerra holandês foragido.
Mas o filme também rende
tributo ao antigo cinema marginal japonês, de quem Imamura foi um dos fundadores,
nos final dos anos 50. Mais do
que um japonês exemplar,
Kanzo Sensei é um marginal
avesso à hipocrisia social. Seus
melhores amigos são um monge bêbado e depravado e um
outro médico viciado em morfina. Além disso, o Doutor Fígado contrata como enfermeira a jovem prostituta local que
não hesita em ministrar sexo
como terapia suplementar aos
pacientes.
E então Imamura penetra no
gênero pornô, um dos preferidos do cinema japonês de todos os tempos, rememorando
um pouco o seu próprio "Os
Pornógrafos", principalmente
na cena em que a pequena
prostituta se deixa fotografar
por um cliente excêntrico com
um ovo preso em sua vagina.
Mas "Kanzo Sensei" é mais
do que tudo contemporâneo ao
adotar o tom da comédia irônica, estilo preferido dos cineastas japoneses atuais. Em lugar
da vitimização típica de tantos
filmes nipônicos (Kurosawa
inclusive), sobretudo dos que
tratam da Segunda Guerra, ele
dá preferência a uma certa
idiotice pueril de seus personagens. As bombas que caem são
mostradas como manchas coloridas no céu, com um efeito
semelhante ao de desenho animado, sugerindo ao mesmo
tempo uma certa doçura ingênua e a completa alienação.
Enfim, com "Kanzo Sensei" o
espectador tem nada menos
que uma revisão crítica da história do cinema japonês, o que
coloca o filme não apenas entre
os melhores do ano passado,
mas como ponto de referência
dos anos 90.
(LN)
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