São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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Garnier faz seguidores ardorosos

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Se você estava esperando uma ocasião especial para sair para dançar, essa noite é amanhã. Quem toca em São Paulo é o DJ francês Laurent Garnier, 33, o maior expoente da música eletrônica em seu país.
Dentro do circuito internacional, Garnier leva o aposto "superstar". Não por ser "estrela", ao contrário, mas por transformar cada um dos presentes em sua pista num seguidor ardoroso para o resto da vida.
Assim foi no Brasil, onde Garnier tocou em 95, revolucionando a mentalidade de DJs e clubbers ao tocar diferentes gêneros musicais numa noite só.
Por sua vez, Garnier tem ótimas lembranças do Brasil. Depois de seu set histórico no extinto after-hours Hell's Club, em São Paulo, estava tão contente que levou um grupo de 20 frequentadores para tomar café da manhã.
O DJ fez até uma música com título em português, "Rachando o Bico". "Passei ótimos momentos no Brasil", ele relembra, em entrevista por telefone, de sua casa em Paris. Confira a seguir os melhores momentos da conversa.

Folha - Você está de volta quatro anos depois de sua primeira vinda ao Brasil. O que mudou desde então em sua música?
Laurent Garnier -
Talvez o modo como eu produzia. Em meu novo trabalho, reuni um grupo, são 12 pessoas, entre instrumentistas e engenheiros de som. Comecei a turnê com eles em março do ano passado; estou há um ano sem tocar como DJ. Terminei as apresentações no Réveillon em Londres, onde tocamos com o New Order. Entre setembro e outubro estou trabalhando em meu novo álbum, que tem house, electro, tecno.
Folha - Você vem com esses músicos ao Brasil?
Garnier -
Não, infelizmente fica muito caro, desta vez será apenas uma turnê como DJ. É que como ainda não temos um álbum lançado para divulgar, ainda não dá para fazer uma viagem promocional.
Folha - Soube que você tocou drum'n'bass em seu set na última sexta-feira em Londres.
Garnier -
Eu sempre toco, sempre que tenho tempo. Como fiz um set de oito horas, deu para fazer. Abri com deep house, toquei mais pesado depois e toquei drum'n'bass.
Folha - Você vai se apresentar por cinco horas em São Paulo. Já sabe o que vai tocar?
Garnier -
Não. Trago discos suficientes para poder decidir na hora. Uma festa tem a ver tanto com o DJ quanto com as pessoas, com a luz, com o som, com a a atmosfera do lugar. Tem que chegar e ver.
Folha - Quando você veio a São Paulo você tocou no Hell's Club...
Garnier -
Eu nunca vou esquecer. Foi maravilhoso. Se tem uma festa que eu nunca esquecerei foi essa. Foi incrível. Acho que eu era a pessoa certa, no lugar certo, tocando para as pessoas certas.
Folha - Como está o cenário atual do tecno?
Garnier -
A música vai voltar a ficar mais musical. Hoje em dia o tecno está muito minimalista e frio, e eu não gosto muito disso. Acho que a música vai voltar a ficar mais melodiosa quanto antes, quando os produtores de Chicago e Detroit estavam no auge, quando as músicas eram cheias de descidas e subidas... O problema do tecno é que a maioria dos produtores tem 18 e 19 anos, e eles cresceram ouvindo só tecno. Eu não, eu tenho 33 anos, eu cresci com funk, electro, rock. Então é natural que eles façam coisas mais pesadas.
Folha - Você mudou a cabeça de muita gente quando veio aqui em 95, misturando gêneros e estilos. O que você acha da segmentação?
Garnier -
Acho extremamente chato. Fico entediado até a morte. Eu realmente não gosto de DJs que tocam somente um gênero. As pessoas têm mania de categorizar as coisas, de colocar tudo em caixas.
Folha - O que você acha da música eletrônica brasileira? Você tem discos de produtores brasileiros?
Garnier -
Não, no momento não. Mas eu espero realmente chegar aí e pegar algumas coisas...
Folha - Gostaria que você comentasse o boom da música eletrônica francesa.
Garnier -
Bem, ela começou quando a mídia começou a falar dela, mas há muita bobagem no meio. Não é música francesa, mas house parisiense, cheia de disco, "loops", filtrada. Mas eu realmente toco house francesa, ou seja, produzida na França, que a maior parte das pessoas nem saberia que é house francesa. São selos mais underground, menores, como o Oxialle, o Ozone Records.

O quê: Laurent Garnier Quando: amanhã, às 23h Onde: av. Brigadeiro Luís Antônio, 1.137, São Paulo, SP, tel. 011/571-9929 Quanto: R$ 20 Patrocinador: Ellus e On Speed


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