|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELÂMPAGOS
Clarabóias
JOÃO GILBERTO NOLL
Lá, os defuntos eram velados em suas casas. Fui com
meu pai ao velório de um vizinho. Duas da tarde. Janelas
fechadas, velas, cheiro assoberbado de flores. Logo preferi o quintal da nova viúva.
Nos fundos, num casebre, vivia seu cunhado. Um homem
sem uma perna. Ele me chamou. Entrei. Resmungou que
não choraria o irmão morto.
O pé que lhe restava tinha as
unhas cor de púrpura. Ele fechou a porta. Ouvi sua reza
sem poder enxergá-lo. Falava
em clarabóias no infinito.
Olhei para cima: era, sim,
uma clarabóia. Noite! Por sobre a lua passavam manchas
azuladas. Uma estrela piscava. Concluí que não veria
mais meu pai.
Texto Anterior: Joyce Pascowitch Próximo Texto: Mercado: Abril busca sucesso em seara estrangeira Índice
|