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MERCADO
Marcos Maynard, novo presidente da gravadora brasileira, afirma que vai competir com as múltis estabelecidas
Abril busca sucesso em seara estrangeira
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Oito meses após sua inauguração, a gravadora Abril Music já
passa por modificações profundas.
O executivo paulista Marcos Maynard, 49, assumiu na semana passada a presidência da casa, à qual
promete dar nova orientação.
"Meus planos são de fazer uma
grande gravadora brasileira. O
Brasil é maduro musicalmente,
mas suas grandes gravadoras são
multinacionais. É o momento de o
Brasil ter uma gravadora brasileira
séria", disse Maynard.
Segundo o presidente da Abril
Entretenimento, Giancarlo Civita,
35, as mudanças não significam
reorientação: "A contratação de
Marcos Maynard conclui o ciclo
inicial de implantação da Abril
Music. Não é uma reestruturação".
Ele continua: "Desde o lançamento da gravadora, estávamos
buscando o melhor executivo da
indústria fonográfica para ocupar
a presidência da gravadora. O histórico profissional de Maynard
prova que ele é o melhor executivo
do Hemisfério Sul".
Maynard compõe, agora, uma
equipe de profissionais experientes do mercado. Já anuncia a contratação, como diretor artístico, de
João Augusto, que estava fora do
grande mercado desde a saída da
EMI, há cerca de dois anos.
Até agora postada no mercado
de forma modesta -seus maiores
vendedores são Capital Inicial (56
mil cópias) e Mundo Livre S/A (25
mil cópias), num universo em que
o padre Marcelo bate os 3 milhões
de exemplares-, a Abril deve adotar, com a chegada de Maynard, estratégia mais agressiva.
Pois Maynard tem histórico extenso nessa direção. Advogado,
administrador de empresas, guitarrista e tecladista, abandonou a
carreira musical (integrou a banda
Lee Jackson, uma das primeiras da
leva de artistas brasileiros que adotou, no início dos 70, nomes e repertório em inglês) para pular para
o lado de trás das cortinas.
Nos anos 70, foi produtor contratado da Philips. Passando a executivo, foi sucessivamente diretor
internacional e diretor artístico da
CBS (hoje Sony), diretor da mesma
gravadora no México, presidente
da PolyGram brasileira e da PolyGram latina (da qual saiu no processo de fusão com a Universal).
Na CBS, orientou os sucessos de
Ritchie, RPM e Ricky Martin, entre
outros. Como presidente da PolyGram, deu partida à onda da axé
music. "A gravadora estava quase
fechando quando entrei, e a levei
ao primeiro lugar no Brasil."
É então um homem de mercado,
mais preocupado com marketing
que com arte? "Depende do enfoque. A cara que dei à PolyGram foi
de uma companhia que luta pelo
sucesso de seus artistas. Eu acredito na música brasileira."
Ele se exime da responsabilidade
por o Brasil haver se infestado de
axé: "Ondas são normais de acontecer. Mas passa e só os grandes ficam. Se ficou massificado, é um
problema que não cabe a mim".
Mas não foi ele em pessoa quem
lançou nove entre dez bandas de
axé, catapultando Netinho, Cheiro
de Amor, Banda Eva e É o Tchan?
"Lutei muito por Chitãozinho e
Xororó, quando estavam meio
mal. Quer dizer que criei o sertanejo e piorei a MPB? Não. Apenas
acreditei -e acredito- neles."
Ele contabiliza outros feitos, fora
das "ondas": o disco em espanhol
de Caetano ("Não teve nada a ver
com Mercosul, nasceu de uma
conversa de amigos, na casa dele."), o de Natal de Simone ("Ninguém acreditava, depois saíram
300 CDs de Natal; não tenho culpa
da praga."), o de Bethânia cantando Roberto e Erasmo Carlos.
Diz que não está voltado só ao
mercado: "Hoje a Timbalada é comercial, mas na época que contratei ninguém acreditava, ninguém
queria tocar. Cássia Eller, uma
grande artista, estava "mortaça" na
PolyGram, fiz ela explodir. Quer
dizer que não levo o mercantilismo ao extremo".
Maynard dá indicação de que
pretende buscar grandes nomes
nos quadros de outras gravadoras.
"Posso contratar, quero contratar grandes artistas, mas seria falso
se citasse nomes agora. Sou fã de
carteirinha de Cássia Eller; Rita
Lee almoçou na minha casa em
Miami, é minha amiga, mas isso
não quer dizer que eu vá trazê-las."
E quanto a artistas novos? "O importante é o artista e seu talento.
Este Brasil tem no mínimo 20 bandas tão boas quanto os Paralamas e
desconhecidas. Eu vou descobrir."
Diz que o elenco já constituído
na Abril não tem por que temer as
mudanças. "Neste momento ninguém corre risco de nada. Depois
vou ver, tenho que analisar."
Carro-chefe conceitual da atual
Abril, a banda pernambucana
Mundo Livre S/A vem de outra experiência com Maynard, sem vendagens expressivas. Era do selo Excelente, vinculado à PolyGram,
quando ele a dirigia.
"Eu gostava muito deles, senão
não teria lançado. Não foi a PolyGram que os abandonou. Demos
chance, como aos Ostras, aos Virgulóides. Mundo Livre é uma banda fantástica, posso fazer um paralelo com a Timbalada. Não é comercial, mas na hora que estourar
vai se tornar comercial."
Maynard sintetiza, enfim, a nova
empreitada: "Meu objetivo é unir
meu talento discográfico ao talento editorial da Abril. Vou trabalhar
com valores de multinacional, não
voltei ao Brasil para não competir
de igual para igual. É um desafio
interessante para mim, que já fui
número um em tantos lugares."
Última pergunta: se ele pudesse
escolher, quem seria seu primeiro
contratado na Abril Music? "Roberto Carlos."
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