São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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MERCADO
Marcos Maynard, novo presidente da gravadora brasileira, afirma que vai competir com as múltis estabelecidas
Abril busca sucesso em seara estrangeira

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Oito meses após sua inauguração, a gravadora Abril Music já passa por modificações profundas. O executivo paulista Marcos Maynard, 49, assumiu na semana passada a presidência da casa, à qual promete dar nova orientação.
"Meus planos são de fazer uma grande gravadora brasileira. O Brasil é maduro musicalmente, mas suas grandes gravadoras são multinacionais. É o momento de o Brasil ter uma gravadora brasileira séria", disse Maynard.
Segundo o presidente da Abril Entretenimento, Giancarlo Civita, 35, as mudanças não significam reorientação: "A contratação de Marcos Maynard conclui o ciclo inicial de implantação da Abril Music. Não é uma reestruturação".
Ele continua: "Desde o lançamento da gravadora, estávamos buscando o melhor executivo da indústria fonográfica para ocupar a presidência da gravadora. O histórico profissional de Maynard prova que ele é o melhor executivo do Hemisfério Sul".
Maynard compõe, agora, uma equipe de profissionais experientes do mercado. Já anuncia a contratação, como diretor artístico, de João Augusto, que estava fora do grande mercado desde a saída da EMI, há cerca de dois anos.
Até agora postada no mercado de forma modesta -seus maiores vendedores são Capital Inicial (56 mil cópias) e Mundo Livre S/A (25 mil cópias), num universo em que o padre Marcelo bate os 3 milhões de exemplares-, a Abril deve adotar, com a chegada de Maynard, estratégia mais agressiva.
Pois Maynard tem histórico extenso nessa direção. Advogado, administrador de empresas, guitarrista e tecladista, abandonou a carreira musical (integrou a banda Lee Jackson, uma das primeiras da leva de artistas brasileiros que adotou, no início dos 70, nomes e repertório em inglês) para pular para o lado de trás das cortinas.
Nos anos 70, foi produtor contratado da Philips. Passando a executivo, foi sucessivamente diretor internacional e diretor artístico da CBS (hoje Sony), diretor da mesma gravadora no México, presidente da PolyGram brasileira e da PolyGram latina (da qual saiu no processo de fusão com a Universal).
Na CBS, orientou os sucessos de Ritchie, RPM e Ricky Martin, entre outros. Como presidente da PolyGram, deu partida à onda da axé music. "A gravadora estava quase fechando quando entrei, e a levei ao primeiro lugar no Brasil."
É então um homem de mercado, mais preocupado com marketing que com arte? "Depende do enfoque. A cara que dei à PolyGram foi de uma companhia que luta pelo sucesso de seus artistas. Eu acredito na música brasileira."
Ele se exime da responsabilidade por o Brasil haver se infestado de axé: "Ondas são normais de acontecer. Mas passa e só os grandes ficam. Se ficou massificado, é um problema que não cabe a mim".
Mas não foi ele em pessoa quem lançou nove entre dez bandas de axé, catapultando Netinho, Cheiro de Amor, Banda Eva e É o Tchan? "Lutei muito por Chitãozinho e Xororó, quando estavam meio mal. Quer dizer que criei o sertanejo e piorei a MPB? Não. Apenas acreditei -e acredito- neles."
Ele contabiliza outros feitos, fora das "ondas": o disco em espanhol de Caetano ("Não teve nada a ver com Mercosul, nasceu de uma conversa de amigos, na casa dele."), o de Natal de Simone ("Ninguém acreditava, depois saíram 300 CDs de Natal; não tenho culpa da praga."), o de Bethânia cantando Roberto e Erasmo Carlos.
Diz que não está voltado só ao mercado: "Hoje a Timbalada é comercial, mas na época que contratei ninguém acreditava, ninguém queria tocar. Cássia Eller, uma grande artista, estava "mortaça" na PolyGram, fiz ela explodir. Quer dizer que não levo o mercantilismo ao extremo".
Maynard dá indicação de que pretende buscar grandes nomes nos quadros de outras gravadoras.
"Posso contratar, quero contratar grandes artistas, mas seria falso se citasse nomes agora. Sou fã de carteirinha de Cássia Eller; Rita Lee almoçou na minha casa em Miami, é minha amiga, mas isso não quer dizer que eu vá trazê-las."
E quanto a artistas novos? "O importante é o artista e seu talento. Este Brasil tem no mínimo 20 bandas tão boas quanto os Paralamas e desconhecidas. Eu vou descobrir."
Diz que o elenco já constituído na Abril não tem por que temer as mudanças. "Neste momento ninguém corre risco de nada. Depois vou ver, tenho que analisar."
Carro-chefe conceitual da atual Abril, a banda pernambucana Mundo Livre S/A vem de outra experiência com Maynard, sem vendagens expressivas. Era do selo Excelente, vinculado à PolyGram, quando ele a dirigia.
"Eu gostava muito deles, senão não teria lançado. Não foi a PolyGram que os abandonou. Demos chance, como aos Ostras, aos Virgulóides. Mundo Livre é uma banda fantástica, posso fazer um paralelo com a Timbalada. Não é comercial, mas na hora que estourar vai se tornar comercial."
Maynard sintetiza, enfim, a nova empreitada: "Meu objetivo é unir meu talento discográfico ao talento editorial da Abril. Vou trabalhar com valores de multinacional, não voltei ao Brasil para não competir de igual para igual. É um desafio interessante para mim, que já fui número um em tantos lugares."
Última pergunta: se ele pudesse escolher, quem seria seu primeiro contratado na Abril Music? "Roberto Carlos."


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