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GASTRONOMIA
Feijoada passeia por tradição, inovação e mãos estrangeiras
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Enquanto a escravidão existiu
no Brasil, era comum encontrar
nas senzalas uma refeição feita de
fubá, feijão ralo e sal. Esse angu
ainda não faz a feijoada, mas já é
esboço do que o prato mais popular do Brasil seria no século 20.
Se a cozinha das casas-grandes
nasceu sob a copa das árvores, o
ritual de servir feijoada, ao menos
às quartas e sábados, se estendeu
para quase cada esquina da cidade e hoje já é feito por mãos não
tão tipicamente brasileiras.
Numa dessas esquinas está a
Feijoada da Lana, uma das mais
populares de São Paulo há oito
anos. Filha de russos, Lana Nowikov mostra como se faz o prato
brasileiro: "É uma feijoada superleve, há quem diga "light", mas feijoada "light" não existe, toda carne
de porco tem gordura".
Exemplo de "leveza" é a feijoada
servida na Enseada dos Camarões. Desde 2001, o restaurante na
Vila Mariana serve o cozido feito à
base de frutos do mar e feijão
branco. Outro representante da
cultura transoceânica da feijoada
é o chef italiano Alessandro Segato. O Empório Segato, inspirado
em restaurantes da região da Toscana, na Itália, acrescentou há
dois meses o prato brasileiro a seu
cardápio de massas.
Para quem não abre mão do
gosto da fazenda, vale provar a
feijoada completa na Figueira Rubayat, cuja cozinha está sob o comando da uruguaia Clô Dimet.
Sob a copa da imensa figueira
centenária é servida a feijoada da
casa. Quase todos os ingredientes
vêm da fazenda Rubayat, localizada em Dourados (MS).
O segredo para que o caldo do
feijão seja tão suculento e o paio,
excelente, é a tradição no preparo
do prato que o restaurante herdou do Rubayat, que serve feijoada desde 1957. Ao lado da feijoada, há costelinha de porco grelhada e baby javali.
O Bolinha se encaixa nessa tradição da feijoada, com 57 anos de
experiência. Ao contrário da prática "se servir da panela", o garçom leva a feijoada à mesa. Isso
talvez faça com que as pessoas
não ignorem a cumbuquinha dos
"pertences", como se conhecem
popularmente as extremidades
do porco. "É o que dá a textura da
feijoada. Os entendidos não dispensam isso nunca: o rabo, o focinho, a orelha, o pé", ensina Lana.
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