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MÚSICA
Em seu novo CD, "Voz d'Amor", cantora prioriza musicalidade africana
Cesaria Evora retorna às suas raízes cabo-verdianas
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
As viagens, o sucesso, o conforto material. Nada disso parece ter
mudado a simplicidade com que
a cantora cabo-verdiana Cesaria
Evora, 62, encara a vida. A "diva
descalça" continua dispensando
os sapatos no palco, segue fã da
comida caseira e mantém o hábito de atear fogo a vários maços do
cigarro português SG.
De novo, há o fato de ela estar
lançando "Voz d'Amor", seu novo e nono CD. E mesmo ele é uma
ode à continuidade ou, por outra,
um retorno da cantora às raízes
mais profundas da música de Cabo Verde, após ter flertado com
sonoridades brasileiras e cubanas
ao longo dos anos.
Tanto nos hábitos como na música, o substantivo "mudança"
provoca desconforto. "A morna
[música popular de Cabo Verde e
estilo mais abordado pela cantora] não pode ser mudada. Os instrumentos são aqueles, o ritmo é
aquele. Depois, é só cantar conscientemente", disse ela, de Paris,
por telefone, à Folha.
A cantora é tão apegada às origens que preferiu conceder a entrevista em crioulo, dialeto com
base lusitana falado em Cabo Verde e que dá às letras que Evora
canta aquela familiaridade distante para falantes de português.
Uma intérprete tornou possível a
comunicação.
Apesar de ter decidido gravar
um CD dominado por canções típicas de seu país, a cantora afirma
que ele não tem um gosto de volta
para casa. "Isso porque, mesmo
quando cantei com músicos de
outros países, jamais abandonei
as tradições cabo-verdianas. Não
sei o que fazer sem elas."
E isso revela mais um aspecto da
cantora: ela gosta de manter as
coisas simples e descomplicadas.
Exercícios para manter a voz em
forma? "A única coisa que faço a
esse respeito é fumar." Casamento? "Tenho três filhos de três pais
diferentes, mas jamais assumi a
união oficial com um homem."
Por quê? "Por nada. Apresente-me um que valha a pena. Ou melhor, apresente uns 12."
Mesmo com os poucos cuidados que dedica à própria saúde, a
cantora não revela os estragos dos
anos em "Voz d'Amor". Na opinião dela, há poucas diferenças
entre seu primeiro trabalho, "La
Diva aux Pieds Nus" (1988), e o
atual. "Talvez minha voz esteja
um pouco mais velha, mas ainda é
boa. Os fãs continuam gostando."
Outra coisa que os anos não levaram foi a disposição para viajar.
"Não há nada programado, mas,
se me chamarem para cantar no
Brasil, faço as malas agora."
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